É curioso como as grandes potências ocidentais – Estados Unidos, Inglaterra, França etc – conseguem passar como paladinas das liberdades, quando bombardeiam, invadem e desmantelam países emergentes como o Iraque, o Afeganistão, o Paquistão, a Líbia e, muito provavelmente daqui a pouco, a Síria. Agora, a Inglaterra fala em censurar a internet e os telefones. Quanta democracia. Mas o fenômeno não é de hoje. Alexis de Tocqueville, pensador francês do século XIX, que não era nenhum esquerdista, já constatava na sua época: “Os Estados Unidos conseguem se mostrar ao mundo como os campeões da democracia, enquanto suas forças, invadem, ocupam e anexam países”.
Provavelmente, Tocqueville (1805-1859) se referisse à tomada da metade do território do México (aí incluido o atual Texas, antes Tejas), na invasão de 1846-1848, e a outras tropelias. Mais tarde, em 1898, os estudanidenses anexavam Porto Rico, Guam e as Filipinas (na Ásia) e estabeleciam Cuba como seu protetorado, depois de várias invasões à ilha de Fidel Castro, invasões e anexações estas devidamente legalizadas e “legitimadas” pelo Tratado de Paris, de 12 de agosto de 1898.
O raciocínio pode servir para compreender o propósito anunciado pelo premier britânico, David Cameron, justamente aquele jovem líder britânico que, até há pouco, quando as redes sociais eram ativadas contra o Irã, a Líbia e a Síria, defendia com unhas e dentes, a liberdade de expressão e a internet, que, como ele dizia em fevereiro, “devem ser respeitadas, tanto na Praça Tahir (praça do Cairo) quanto em Trafalgar Square (Londres)”. Mas Cameron mudou de idéia porque sua polícia descobriu que os recentes distúrbios ingleses foram incentivados por mensagens enviadas pelos organizadores via Twitter, Facebook, ou o serviço de mensagem gratuita do smartphone BlackBerry (BBM).
Enquanto isso, a BBC, aquele mesma reputada mundialmente pela alta qualidade de sua programação, fica incentivando os distúrbios na Síria, abrindo seus noticiários na web, rádio e TV para declarações e informações nem sempre confirmadas dos grupos responsáveis pelos levantes que assaltam o país desde 15 de março, em oposição ao governo de Bashar Al Assad. Hoje mesmo, o site em inglês www.news,bbc.co.uk, como mostra a foto, dava como acima de qualquer dúvida a declaração de um médico, que a BBC não identificou, de que o exército sírio estava invadindo hospitais para perseguir e matar pessoas.
No serviço de rádio (World Service), também transmitido pelo site, a emissora chegou até usar um ator para dar dramaticidade ao clamor do tal médico. Diz a notícia divulgada por volta da uma hora de hoje (GMT): “(traduzido para o português) Um médico na cidade síria de Hama disse que a recente operação das forças de segurança contra a oposição provocou sérios danos nos serviços médicos.
O médico disse à BBC que as pessoas estão se recusando a ir aos principais hospitais porque as forças de segurança estavam lá e mataram alguns dos feridos. Ele ainda informou que dois hospitais foram destruídos durante a ofensiva (do governo), que durou uma semana, e outros foram severamente atingidos”.
Em seguida, a locutora, Fionna MacDonald, avisa que a voz do médico foi substituída pela de um ator. E o ator afirma: “Eu quero ressaltar que o número de pessoas mortas nestes ataques é de cerca de duas mil. Não podemos encontrar os corpos de muitos dos mortos, porque eles estão sob as casas destruídas pelos petardos. E alguns corpos foram levados pelas forças de segurança”.
No final da notícia em texto sobre o médico, o site da BBC, há uma foto de criança apontando os dois dedos da vitória, pintados com as cores da bandeira síria, que também reproduzimos, e que praticamente, exorta a população a se subverter, quando afirma: “Syria takes the streets (Syria toma as ruas). Embaixo da foto, está escrito: “Você está na Síria? Como está a situação onde você está? Envie-nos seus comentários e experiências, usando o formulário abaixo (telefone, email, cidade, país)”. Nunca vi manipulação mais grosseira e como partiu da BBC, meu espanto é ainda maior.
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