Morrreu hoje de câncer aos 60 anos, o Minhoca, como era carinhosamente conhecido o ativista político Carlos alabertojera de Ré, um dos fundadores do PDT e defensores da proposta trabalhista de Leonel Brizola. Teve intensa durante o período sombrio da ditadura militar e foi contemporâneo na prisão da atual presidenta da República, Dilma Rousseff. Era o terceiro de quatro filhos de um trabalhador ferroviário, radicado em Santa Maria, onde Minhoca, vivenciou os primeiros movimentos grevistas ao lado do pai.
Guardou na memória a Campanha da Legalidade, em 1961, especialmente as músicas marciais que ouvia no rádio naqueles dias de efervescência nos noticiários e as passeatas pelos batalhões de ferroviários em Santa Maria. Sua mãe se inscreveu como enfermeira nos voluntários da legalidade, enquanto o pai participava de toda a mobilização.
No golpe de 1964, ainda em Santa Maria, foi com o pai para o Colégio Hugo Taylor, escola profissionalizante dos ferroviários, onde pretendiam fazer um manifesto contra o golpe. Estava com 13 anos e estudava no Colégio Manoel Ribas. Seu pai foi preso em uma unidade do Exército durante três meses. Depois, foi cassado.
A família enfrentou severas dificuldades financeiras nesse período. O irmão César militava na Ação Popular, através da Juventude Universitária Católica (JUC). Mais tarde, filiou-se ao Partido Comunista do Brasil.
Em 1966, a família mudou-se para Porto Alegre e passou a sobreviver do comércio. O vínculo político veio através do primo Luiz Eurico Tejera Lisbôa (Ico), que o encaminhou para o Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Assumiu a militância estudantil do Julinho, um domínio do PCB, fez protesto na Praça da Matriz contra o acordo MEC-USAID, que ameaçava o ensino público e gratuito, num histórico confronto dos estudantes com a polícia de choque.
Em 1967, avança a tese de Régis Debray pregando a substituição do partido operário pelo foco guerrilheiro, na Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), em Cuba, na qual o Brasil foi representado por Carlos Marighella, e a saída de Che Guevara de Cuba para a luta guerrilheira na Bolívia, contaminou os corações dos que lutavam contra a ditadura no Brasil.
Houve a dissidência no PC que, no RS, resultou em diversos subgrupos unidos pela luta armada. Os estudantes secundaristas se aproximaram da Política Operária (POLOP) e, daí, surgiu o Partido Operário Comunista (POC). Mas foi como dissidentes que os estudantes assumiram uma ação armada, mesmo contrariando a direção da organização. O grupo se esparramou para outros estados no centro do país, onde a luta armada estava mais organizada.
Através da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), entra em contato com o advogado Carlos Araújo, egresso do PC e militante das Ligas Camponesas de Francisco Julião. Na diretoria da União Gaúcha de Estudantes Secundaristas (UGES), Carlos Tejera de Ré consolidou sua militância política através das constantes manifestações públicas contra a ditadura militar, aumentando o ardor pela luta armada.
Em 1968, estudantes e sindicalistas aprofundam o combate à ditadura, mas a direção da UGES vai para um setor de extrema direita e o grupo mergulha na luta armada a partir do ano seguinte e com o surgimento da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), resultado da união de diversos grupos de esquerda revolucionária. Foi esta sigla que protagonizou o roubo ao cofre de Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo, com US$ 2,5 milhões.
Como militante dessa organização, de Ré fazia panfletagem noturna nos bairros operários de Porto Alegre e região Metropolitana e foi numa dessas ações que foi preso em Cachoeirinha, em dezembro de 1969, aos 18 anos, ao lado do amigo Laerte Méliga e de Luis Goulart Filho, tendo permanecido no DOPS até ser condenado a seis meses de prisão pela Lei de Segurança Nacional e levado ao Presídio Central. Seis meses depois, foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar.
Esteve um período em São Paulo, na clandestinidade, e retornou a Porto Alegre, onde foi novamente preso, em dezembro de 1970, desta vez, com o aparato de repressão policial reforçado no DOPS, foi submetido a sessões de interrogatório e tortura. Esteve preso no 18o. RI , no DOPS, no VI Regimento de Cavalaria, em Alegrete e, mais tarde, na Ilha do Presídio, em Porto Alegre. Após a condenação, cumpriu pena no Presídio Central. A liberdade aconteceu em fevereiro de 1973