segunda-feira, novembro 25, 2024
InícioPolítica NacionalMorreu Minhoca, Carlos Tejera

Morreu Minhoca, Carlos Tejera

Morrreu hoje de câncer aos 60 anos, o Minhoca, como era carinhosamente conhecido o ativista político Carlos alabertojera de Ré, um dos fundadores do PDT e defensores da proposta trabalhista de Leonel Brizola. Teve intensa durante o período sombrio da ditadura militar e foi contemporâneo na prisão da atual presidenta da República, Dilma Rousseff. Era o terceiro de quatro filhos de um trabalhador ferroviário, radicado em Santa Maria, onde Minhoca, vivenciou os primeiros movimentos grevistas ao lado do pai.

Guardou na memória a Campanha da Legalidade, em 1961, especialmente as músicas marciais que ouvia no rádio naqueles dias de efervescência nos noticiários e as passeatas pelos batalhões de ferroviários em Santa Maria. Sua mãe se inscreveu como enfermeira nos voluntários da legalidade, enquanto o pai participava de toda a mobilização.
No golpe de 1964, ainda em Santa Maria, foi com o pai para o Colégio Hugo Taylor, escola profissionalizante dos ferroviários, onde pretendiam fazer um manifesto contra o golpe. Estava com 13 anos e estudava no Colégio Manoel Ribas. Seu pai foi preso em uma unidade do Exército durante três meses. Depois, foi cassado.
A família enfrentou severas dificuldades financeiras nesse período. O irmão César militava na Ação Popular, através da Juventude Universitária Católica (JUC). Mais tarde, filiou-se ao Partido Comunista do Brasil.

Em 1966, a família mudou-se para Porto Alegre e passou a sobreviver do comércio. O vínculo político veio através do primo Luiz Eurico Tejera Lisbôa (Ico), que o encaminhou para o Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Assumiu a militância estudantil do Julinho, um domínio do PCB, fez protesto na Praça da Matriz contra o acordo MEC-USAID, que ameaçava o ensino público e gratuito, num histórico confronto dos estudantes com a polícia de choque.
Em 1967, avança a tese de Régis Debray pregando a substituição do partido operário pelo foco guerrilheiro, na Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), em Cuba, na qual o Brasil foi representado por Carlos Marighella, e a saída de Che Guevara de Cuba para a luta guerrilheira na Bolívia, contaminou os corações dos que lutavam contra a ditadura no Brasil.

Houve a dissidência no PC que, no RS, resultou em diversos subgrupos unidos pela luta armada. Os estudantes secundaristas se aproximaram da Política Operária (POLOP) e, daí, surgiu o Partido Operário Comunista (POC). Mas foi como dissidentes que os estudantes assumiram uma ação armada, mesmo contrariando a direção da organização. O grupo se esparramou para outros estados no centro do país, onde a luta armada estava mais organizada.
Através da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), entra em contato com o advogado Carlos Araújo, egresso do PC e militante das Ligas Camponesas de Francisco Julião. Na diretoria da União Gaúcha de Estudantes Secundaristas (UGES), Carlos Tejera de Ré consolidou sua militância política através das constantes manifestações públicas contra a ditadura militar, aumentando o ardor pela luta armada.

Em 1968, estudantes e sindicalistas aprofundam o combate à ditadura, mas a direção da UGES vai para um setor de extrema direita e o grupo mergulha na luta armada a partir do ano seguinte e com o surgimento da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), resultado da união de diversos grupos de esquerda revolucionária. Foi esta sigla que protagonizou o roubo ao cofre de Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo, com US$ 2,5 milhões.
Como militante dessa organização, de Ré fazia panfletagem noturna nos bairros operários de Porto Alegre e região Metropolitana e foi numa dessas ações que foi preso em Cachoeirinha, em dezembro de 1969, aos 18 anos, ao lado do amigo Laerte Méliga e de Luis Goulart Filho, tendo permanecido no DOPS até ser condenado a seis meses de prisão pela Lei de Segurança Nacional e levado ao Presídio Central. Seis meses depois, foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar.
Esteve um período em São Paulo, na clandestinidade, e retornou a Porto Alegre, onde foi novamente preso, em dezembro de 1970, desta vez, com o aparato de repressão policial reforçado no DOPS, foi submetido a sessões de interrogatório e tortura. Esteve preso no 18o. RI , no DOPS, no VI Regimento de Cavalaria, em Alegrete e, mais tarde, na Ilha do Presídio, em Porto Alegre. Após a condenação, cumpriu pena no Presídio Central. A liberdade aconteceu em fevereiro de 1973

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola