(Do site da Folha) Antes do malogro no Vietnã, em 1974, os Estados Unidos tiveram, em 1961, a derrota da Baía dos Porcos, o local escolhido pela CIA para inavir Cuba e esmagar a revolução de Fidel Castro, então com dois anos. Os cubanos opuseram firme e determinada reação às forças invasores, sob ordens do então presidente John Kennedy. Agora, ao completar 50 anos, documentos ultrassecretos revelam novos detalhes sobre a tragédia de erros dos EUA na invasão da Baía dos Porcos (1961), em Cuba, incluindo relatos de fogo amigo derrubando aviões americanos no calor da batalha.
Também se tornaram públicos os relatos oficiais sobre a cooperação de países latinos contra Fidel Castro, a resistência da agência de inteligência americana contra o caráter secreto da operação e vários outros episódios inéditos ou pela primeira vez contados pela própria investigação que a CIA conduziu depois do fracasso da invasão.
Os arquivos foram obtidos pelo grupo National Security Archives (NSA), de Washington, que processou a CIA pela liberação do material. “Esses são alguns dos últimos arquivos que continuavam secretos sobre a agressão dos EUA a Cuba”, disse Peter Kornbluh, que dirige o projeto do NSA sobre os cubanos.
O processo na Justiça foi iniciado por volta do aniversário de 50 anos da invasão da Baía dos Porcos, em abril, e ainda não terminou. Um último volume da “História Oficial da Operação da Baía dos Porcos” continua em poder da agência.
No material, o historiador oficial da CIA, Jack Pfeiffer, joga a responsabilidade pelo fiasco para o presidente John Kennedy (1961-63), que proibiu terminantemente uma invasão aberta.
Ao mesmo tempo, porém, ele documentou extensamente erros dos agentes da CIA.
Erros – Um deles foi fornecer para exilados recrutados para a operação aeronaves B-26 configuradas para se confundirem com a Força Aérea cubana -o que fez com que os pilotos não conseguissem distinguir colegas dos inimigos.
“Acabamos atirando contra dois ou três [aviões americanos]”, relata no material o oficial Grayston Lynch.
“Atingimos alguns porque, quando vieram para cima de nós, só víamos silhuetas.”
A “História Oficial” documenta a contrariedade da agência. Planejadores declararam em reuniões internas que “o conceito original [da operação] é visto como inatingível diante do controle que [o ditador Fidel] Castro
instituiu”.
“O segundo conceito (1.500-3.000 homens para conquistar uma praia) também é considerado inatingível, exceto como ação conjunta da agência e do Departamento da Defesa”, continuam.
Kennedy não chegou a ser brifado nesses termos, e com apenas a CIA a frente de 1.200 homens, a invasão foi esmagada.
A agência tentou contornar as limitações. Apesar das advertências em contrário da Casa Branca, pilotos americanos foram autorizados a voar para Cuba (na costa, sem se adentrar pela ilha) no meio da operação. Quatro deles morreram.
A CIA ainda derrubou a proibição do uso de bombas incendiárias Napalm quando viu que os cubanos estavam vencendo.
Mas reclama, por exemplo, de ter tido negado um pedido para detonar “bombas de som” em Havana para distrair Fidel durante a invasão. O Departamento de Estado descartou a tática por ser “muito obviamente
americana”.
Apoio de governos – Ficaram expostas ainda as negociações com outros governos para apoio à operação.
Com a Nicarágua, a conversa foi fácil. O general Anastacio Somoza (que mais tarde liderou o país), segundo a CIA, exagerou a necessidade de alguns empréstimos e conseguiu garantias para US$ 10 milhões em troca de ajuda. A agência americana pressionou o Departamento de Estado a apoiar os empréstimos, um dos quais veio do Banco Mundial.
Já a República Dominicana tentou entrar no jogo, mas não conseguiu. O ditador Rafael Trujillo ofereceu ajuda em troca de “viver o resto dos seus dias em paz”, mas foi rejeitado; acabou assassinado mais tarde por grupos ligados a CIA.