Eu já estava quase entregando os pontos para a chamada inevitabilidade do golpe de Estado contra a Dilma, quando vejo esta entrevista do ministro Marco Aurélio Melo, do Supremo: “O juiz Sérgio Moro está fora da lei”. E aí que fui me lembrar que o Supremo Tribunal Federal nem sempre atuou como vaquinha de presépio dos poderosos – ontem, dos militares, e, hoje, dos midiáticos.
Me recordei do episódio do presidente do STF, Álvaro Ribeiro da Costa, em 1964, época de cassações, demissões, perseguições e prisões indiscriminadas contra políticos, professores, sindicalistas, estudantes. Ribeiro deu uma declaração dizendo que, se um daqueles ministros fosse casado, ele fecharia o Supremo e entregaria as chaves no Palácio do Planalto. O marechal Castelo Branco, primeiro presidente imposto pela ditadura, engoliu o sapo e teve de aturar o Ribeiro da Costa por algum tempo, até que este se sentiu constrangido a se aposentar. Mas o Supremo não convalidou o golpe e, depois de Costa, outros ministros altivos, como Adaucto Lúcio Cardoso, enfrentaram com altaneria as arremetidas discricionárias contra a corte.