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O Significado do 4 de Fevereiro na Venezuela, 24 anos depois.

Por Beto Almeida (*)
Um dia 4 de fevereiro como hoje, há 24 anos, um movimento militar revolucionário, lançava um relâmpago que iluminou toda a Venezuela imersa na noite trágica do neoliberalismo mais selvagem, da entrega criminosa de sua maior riqueza a preço vil, o petróleo, e acordou um povo para a criatividade da política revolucionária, desenterrando dialeticamente a Bolívar e seus ideais transformadores. Este movimento revolucionário tinha um líder que sintetizava em sua cara meio índia, meio negra, o DNA de um povo que precisava de nova convocatória, atualizando o bolivarianismo para esgrimi-lo tal como a espada de Bolívar para as tarefas do mundo de hoje, quando a humanidade e seu sentido histórico civilizatório estão em confrontação crescente e insanável com o imperialismo,

Hugo Chávez revivia, naquele dia 4 de Fevereiro de 1992, um Bolívar atualizado pelas lições da Revolução Cubana, pelas marcas inapagáveis da trajetória de Guevara, de Fidel, de Raul, de Sandino, de Farabundo Marti, de Pancho Villa e Zapata. Mas, sem concessões ao sectarismo, este Hugo Chávez revigorava e revitalizava, também, lições do nacionalismo revolucionário, recuperando os esforços transformadores de outros movimentos e governos que, com equipe de militares anti-imperialistas à frente, realizam mudanças de alcances revolucionários. Seja Lázaro Cárdenas, que atualizara e dera continuidade e profundidade à Revolução Mexicana; seja Getúlio Vargas que, em aliança com o movimento tenentista, abriu o caminho para construir a base de um Brasil moderno e mais justo, cujas conquistas são, ainda hoje, parte central da agenda política da conjuntura complexa do país, ou seja, o BNDES, a CLT, a Petrobrás, o Programa Nuclear, a Auditoria da Dívida Pública, a Previdência Social, todas estas realizações da Era Vargas. Não por acaso Hugo Chávez confessou publicamente sua grande admiração por Vargas. E também por Peron, que arrancou a Argentina das garras da oligarquia e a transformou em país industrializado e com justiça social, inspirando, para sempre correntes de trabalhadores, jovens e intelectuais, representados por Nestor e Cristina que, em boa medida, vinham recuperando aquela via peronista de antes, mas foram transitoriamente travados pela insuficiente unidade popular em suas próprias filas e pela sabotagem imperial.

Mas, também é necessário referir-se à sintonia que o Movimento Bolivariano 200 encabeçado por Chávez possui com a Revolução Inca, no Peru, liderada pelo General Juan Velasco Alvarado e sua tremenda admiração pelo General Omar Torrijos, que liderou um governo anti-imperialista no Panamá.

O 4 de Fevereiro atualizava na Venezuela todas as agendas transformadoras latino-americanas, preparando seu povo para uma tarefa nobre de construir uma nação independente, soberana, justa e solidária com todos os povos em luta contra o imperialismo.

O método insurreto do 4 de Fevereiro pode ter chocado e até assustado alguns setores da esquerda desatentos para as maneiras inventivas com que os processos revolucionários abrem passagem, sempre surpreendo os escolásticos, os burocratas partidários e sindicais. Por acaso a Revolução dos Cravos em Portugal ou a Revolução Islâmica no Irã também não arrombaram as portas fechadas da história e, da mesma forma, aos que se paralisam em dúvidas diante das novas formas adquiridas pela história para seguir seu passo….

Em 4 de fevereiro de 1992 se organizou uma destemida luta pela recuperação da Dignidade Nacional perdida para os arranjos dominantes pelas velhas oligarquias venezuelanas que. Sob uma capa aparente de formalidades democráticas, escondia, no essencial, um doloroso rio de sangue em que trabalhadores, jovens, intelectuais perderam a vida para dar convicção aos revolucionários militares, que vinham para ocupar uma lacuna deixada , relativamente, pelos partidos políticos, seja pela repressão a que foram alvo, seja pela burocratização em que alguns segmentos de esquerda também afundaram, especialmente dando margem à formação de uma camarilha sindical antidemocrática, entreguista e , que, mais tarde, se revelaria golpista, contra o próprio Chávez.

Mensagem

A mensagem de 4 de fevereiro serve para toda a América Latina e também para África. Não por acaso Hugo Chávez alimentava-se do exemplo revolucionário do coronel Thomas Sankara, a quem chamava de o Che Guevara Negro, por ter transformado profundamente Burkina Fasso, ex-colônia francesa perdida no meio da África e afundada no lamaçal da miséria produzida pelo colonialismo imposto pela França, ainda que este país se auto declare, arrogantemente, campeão de democracia. Em Burkina Fasso o analfabetismo foi enfrentado, homens, mulheres e jovens construíram uma ferrovia com as próprias mãos, com poucos instrumentos, e arrancou aquele povo da incultura e da opressão, até que o o imperialismo francês mostrou sua essência criminosa e assassinou Thomas Sankara. Estas experiências nunca foram divulgadas adequadamente nem na própria esquerda e exatamente por isso Chávez as relatava com regularidade e didática, para construir outra geração de revolucionários. Também por isso, organizou Telesur para que estas mensagens de exemplos revolucionários se socializassem ao máximo!

A nova Venezuela

Aquele 4 de Fevereiro acordou a Venezuela e seu povo de um pesadelo profundo e amargo, para coloca-los no mapa da dignidade mundial. Aquele país que apenas regalava petróleo aos gringos, importava até caixa de fósforos, consumia tanto champanhe como na França e dava muitas misses, começava a mudar. O aparente fracasso militar não escondeu a imensa vitória política. Preso Chávez, com seus camaradas, ele se transforma no homem mais popular do país e vence as eleições de dezembro de 1988. Dialeticamente, o que muitos setores da esquerda enxergaram como uma quartelada, o Movimento Revolucionário de 4 de Fevereiro, ao contrário, revelava-se como um salto democrático transformador que se propunha a convocar uma nova Constituição, pelo voto direto, para transformar profundamente a Venezuela e cumpriu sua palavra. A partir da posse de Chávez na presidência, a Venezuela passa a ser reconhecida de outra forma; um país que derrotou o analfabetismo, que instalou uma legislação trabalhista aprovada democraticamente, que criou a pluralidade democrática nos meios de comunicação sem prender nem censurar jornalistas, inclusive seus mais ácidos críticos. O petróleo, antes praticamente doado aos EUA, passa a servir, planejadamente, à grande transformação do país, multiplicando escolas, universidades, casas populares, estradas, metrôs, teleféricos, hospitais e clínicas populares, sempre com o apoio que nunca falta da Revolução Cubana.

A prematura morte de Chávez afeta de modo muito duro a todo o processo de mudanças em curso na América Latina, hoje mais ameaçado do que nunca. Afinal, assim como um Bolívar só nasce uma vez em cada 100 anos, um dirigente com as qualidades de Chávez, especialmente por ser ao mesmo tempo elaborador teórico e planejador, além da exuberância de suas marcas populares, proletárias, surpreendendo não poucos segmentos de esquerda que ainda hoje têm dificuldade de entender o que representa o chavismo e porquê é atual, bem como a incessante fúria do império para destruir seus valores.

E é exatamente por isso que a comemoração do 4 de Fevereiro, Dia da Dignidade Nacional na Venezuela, se reveste de um significado profundo, pois, é exatamente a unidade cívico militar o eixo essencial pelo qual a Revolução Bolivariana ainda se mantém viva e reserva –mesmo com a derrota eleitoral de dezembro de 2015 – a capacidade de fazer frente às ameaças do imperialismo e das oligarquias nativas, com seus métodos de sabotagem, manipulação, terrorismo midiático e concreto, assassinato de lideranças chavistas.

Chávez e Kadafi

Não há outra razão para Chávez ter defendido como um leão a Kadafi e à Revolução Líbia, país que ostentava os mais elevados indicadores de desenvolvimento humano de toda a África e preparava-se para criar um banco de desenvolvimento africano, com moeda própria, pela qual se faria o comércio petroleiro, razão suficiente para que a “democrática” França, movimentasse toda a Otan, para aplicar a sentença de morte àquele outro militar de revolucionário e anti-imperialista. O duro é que esta guerra de demolição e de rapina contra a revolução na Líbia , hoje imersa a tremenda selvageria, foi apoiada por setores da esquerda francesa e europeia, sob o falso argumento de defesa dos direitos humanos, bandeira falsa sempre acenada pelo imperialismo quando pretende esmagar sanguinariamente um país e um povo que não lhe sejam submissos, como era o caso da Libia com Kadafi à frente. O programa de Kadafi é ainda um programa atual e necessário, razão pela qual outros países se associam para a organização de bancos com o dos Brics e avançam na operação comercial internacional com outras moedas, aposentando o dólar.

Comemorar hoje o 4 de Fevereiro é momento de revitalizar a bandeira da unidade cívico-militar, a unidade de todas as forças populares, a causa da integração da América Latina, pela qual Chávez tanto se empenhou e impulsionou. É também o momento de, diante das ameaças, revigorar a valentia e o desprendimento exibidos no 4 de Fevereiro, condições imprescindíveis para impedir qualquer possibilidade de ruptura nesta unidade cívico-militar, elemento que foi, é e será decisivo para que a Revolução Bolivariana vença seus inimigos internos e externos, e siga sendo um motor que alimenta, energiza e dinamiza o processo de transformação e integração da América Latina.
Beto Almeida

4 de Fevereiro de 2016

(*) O jornalista Carlos Alberto Almeida é presidente da TV Comunitária de Brasília e do Jornal Brasil Popular. É também membro do Conselho Editorial da Rede multiestatal Telesur.

leitefo
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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