Por André Siqueira e
Cynara Menezes
Barack Obama vai voltar a sentir o gosto da popularidade, em baixa na terra natal, a partir do sábado 19. É quando deverá desembarcar, com a família, em um país com população de maioria miscigenada, onde o papel simbólico de um negro à frente da maior economia do mundo ainda tende a ser valorizado. No mais, será um passo para tentar fortalecer uma relação desgastada nos últimos dois anos.
Logo no início do mandato, Obama disse que Lula era “o cara”, mas, sob sua gestão, o relacionamento com Brasília, muito produtivo na era Bush, deteriorou-se. O auge do conflito deu-se quando, após estimular Lula, por meio de uma carta, a negociar com o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o presidente dos Estados Unidos ignorou o acerto fechado entre o Irã, a Turquia e o Brasil sobre a produção de energia nuclear naquele país.
De concreto, porém, é pouco o que Obama tem a oferecer ao Brasil, em termos comerciais, na curta visita de dois dias, com a agenda dividida entre compromissos políticos, em Brasília, e sociais, no Rio de Janeiro. Principal parceiro comercial do País durante muitos anos, os EUA perderam o posto para a China no ano passado, e perigam cair para o terceiro lugar, atrás da Argentina.
“Se a gente vê a composição da pauta de exportações, porém, o perfil das vendas para os americanos é bem mais favorável a nós, por incluir produtos industrializados, enquanto a China, e em menor escala a Argentina, importam mais commodities”, afirma a professora do Instituto de Economia da Unicamp, Daniela Prates.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 68% dos 19,3 bilhões de dólares vendidos aos Estados Unidos pelo Brasil em 2010 eram produtos industrializados, enquanto nos 30,8 bilhões de dólares exportados à China os produtos básicos representavam 83% do total.
“Deveríamos tentar recuperar parte do espaço perdido para os chineses no mercado americano”, afirma a professora. “Mas, para isso, nossas propostas de acordo não podem se resumir a produtos agrícolas ou mesmo ao petróleo, a não ser que haja o compromisso de importar bens processados e de valor agregado mais elevado.”
Um estratégico vazamento de informações da diplomacia americana dá conta de que a abertura comercial é o tema prioritário da visita presidencial. Com a economia ainda deprimida pelo estouro da bolha imobiliária em 2008, os EUA têm poucas saídas para reduzir o déficit público além de elevar as exportações.
Se é verdade que a desvalorização internacional do dólar, como resultado das medidas de estímulo econômico, deixou as empresas americanas mais competitivas no exterior, também é fato que a vantagem artificial inspira medidas protecionistas nos mercados compradores, preocupados com seus próprios déficits.
(Continua em Carta Capital)