terça-feira, dezembro 3, 2024
InícioAmérica LatinaObama pressiona mas Kadhafi reage e Chávez tem plano de paz

Obama pressiona mas Kadhafi reage e Chávez tem plano de paz

Na guerra, costuma-se dizer, a primeira vítima é a verdade. No caso da Líbia, a segunda vítima seria a notícia, a julgar pelos rumos que hoje estão tomando os acontecimentos naquele país árabe. Até ontem, a avalanche de informações que recebemos a quase todo minuto pela internet, TV, rádio (já não falo nos jornais porque só trazem pão dormido, usando o jargão jornalístico para notícia velha), levava o mundo a acreditar que o regime de Muammar Kadhafi estava no chão. Seria questão não mais de dias, mas de horas, proclamavam praticamente todas esses serviços informativos, incluindo a rede de TV Al-Jazeera, que proclama ser a voz do mundo árabe.
Os fatos recentes têm demonstrado, no entanto, uma situação completamente distinta, senão oposta: Kadhafi não só controla as áreas vitais do país, incluindo as fontes de petróleo, como contra-ataca e recupera pontos estratégicos do leste, que estavam sob o domínio dos rebeldes. Na verdade, a posição dos insurgentes nunca esteve consolidada, porque estes careciam de duas condições fundamentais: controle e domínio dos territórios conquistados, e unidade de comando, além de liderança reconhecida, que eles nunca tiveram.
Além do mais, aquelas áreas, são muito dependentes do governo central, com sede em Trípoli, que fica numa região abrangendo 70% da população e o centro nevrálgico da economia.
Os soldados, oficiais e funcionários públicos que desertaram, assim como amplos setores da população, que recebem a bolsa família de 500 dólares, ficaram sem receber seus proventos, o que gera uma situação de penúria e até de fome, já que as potências ocidentais que atiçaram a revolta, não têm estrutura para sustentá-los. Mesmo que quisessem, elas não teriam tempo hábil, para montar a infraestrutura logística com o fim de atender às necessidades de sobrevivência dos rebeldes aliados.

Talvez seja essa a razão da premência revelada no discurso de ontem do presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, quando pediu, pela segunda vez, a renúncia do líder líbio Muammar Kadhafi, que, logicamente, não se dispõe a atendê-lo. Com efeito, fracassou o plano de Obama e dos líderes da França e Inglaterra, de, através do aparato de mídia, convulsionar o país e, ao mesmo tempo, sensibilizar o mundo para a sua propaganda, de forma a possibilitar um assalto final a Trípoli e remover o regime de Kadhafi.
Em substituição a Kadafi seria inevitavelmente instalado um governo títere, a exemplo do que ocorreu depois da invasão do Iraque, em 2003, para retomar as refinarias do petróleo. Como é sabido Kadhafi nacionalizou todo o setor petrolífero, quando chegou ao poder, em 1969, e transferiu os seus rendimentos, antes nas mãos das empresas transnacionais e da família do deposto rei Idris I, para o Estado e a população.
O discurso de Obama, no seu intuito de infundir o medo, não a Kadafi, que já demonstrou várias vezes não se intimidar, mas à população líbia e à comunidade internacional. Ele acena, ainda que indiretamente, com uma intervenção militar, seja através de ocupação militar ou da decretação de uma zona de exclusão, para isolar Trípoli das regiões insurretas.
Neste ponto, o presidente é desmentido pelo seu próprio secretário de Defesa, Robert Gates, que já considerou a idéia impraticável, tendo em vista que demandaria enormes contingentes bélicos para neutralizar o sistema de segurança de Kadafi, dotado de moderno equipamento, além de amplos setores da população adestrados e até armados para a guerra.
A França, por sua vez, através de declaração peremptória do ministro de Relações Exteriores, Alain Juppé, e de comentários do presidente Nicolas Sarkozy, já disse discordar da intervenção, nas suas diversas formas. O país dos franceses, que não tem petróleo e vê com apreensão os protestos populares na Argélia, seu principal fornecedor, também recearia a disparada nos preços dos combustíveis que, fatalmente, ocorreria no caso de uma ocupação americana ou da OTAN.
Contornando tambores da guerra, como ele diz, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que tem influência considerável entre a comunidade muçulmana (só à Líbia, ele já viajou seis vezes), propôs uma solução negociada de paz, a ser implementada pela Liga de Estados Árabes. Ele já conversou com todos os chefes de estado integrantes dessa comunidade, inclusive com Muammar Kadhafi. Os Estados Unidos e a União Européia, claro, rejeitaram de pronto a proposta, porque seu negócio é outro, mas os países árabes prometeram estudá-la. Só esta disposição dos árabes para com o plano Chávez fez baixar em três dólares o preço do barril do petróleo, em curva ascenendete, desde a eclosão das revoltas no Oriente Médio, em fins de dezembro de 2010, que chegou a 120 dólares o barril.

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola