Talvez o resultado benéfico mais concreto das rebeliões no Oriente Médio possa se resumir na reunião de hoje do Cairo, onde os palestinos do Hamas e do Fatah assinaram um acordo para partilhar o poder entre eles – longe da intermediação ou interferência de Estados Unidos e de Israel. Isso faz lembrar a criação da Unasul, União das nações Sul-Americanas, em 23 de maio de 2008, em Brasília, quando os países do subcontinente decidiram resolver por conta própria seus próprios probelmas, livres do tacão norte-americano.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, e o líder do Hamas, Khaled Meshaal, assinaram nesta quarta-feira, quatro de maio de 2011,no Cairo, um acordo de reconciliação após quatro anos de cisão entre os grupos.
Claro que nada disso teria sido possível se o general Hosni Mubarak, homem de confiança de Israel e dos Estados Unidos, ainda estivesse no poder. O acordo entre os irmão palestinos, que ocorre depois da queda de Mubarak, que travou as negociações, durante 30 anos, estabelece a formação de um governo de transição, integrado por tecnocratas, cujas principais tarefas serão preparar as próximas eleições palestinas e reconstruir a Faixa de Gaza.
Na cerimônia no Cairo, Abbas disse que o acordo “fecha uma página sombria na história do povo palestino que causou muito danos”.Por sua vez, Meshaal afirmou que a disputa com o Fatah “ficou para trás”. O líder do Hamas disse ainda que o objetivo do seu grupo era ter um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, sem ceder “uma polegada sequer de terra”, e que a sua única luta é com Israel.
O acordo-surpresa foi promovido pelo Egito e seguiu-se a negociações secretas entre os dois lados, que em 2007 travaram uma breve guerra civil que deixou o Hamas no controle da faixa de Gaza, e o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, que tem o apoio do Ocidente, à frente da Cisjordânia.
A unidade palestina é considerada crucial para reviver qualquer perspectiva para um Estado palestino independente.
“Concordamos em formar um governo composto por figuras independentes que começarão com os preparativos para uma eleição presidencial e parlamentar”, disse Azzam al Ahmad, o líder da equipe de negociação do Fatah no Cairo. “As eleições ocorrerão daqui a oito meses”, acrescentou ele.
Em entrevista à rede de televisão árabe Al Jazeera, Mahmoud al Zahar, uma das lideranças do Hamas que participou das conversações, disse que o acordo abrange cinco pontos, incluindo eleições, formação de um governo interino de união e a união das forças de segurança. Ele também afirmou que o Hamas e o Fatah concordaram em libertar os prisioneiros detidos por cada um dos lados.
– Nós também debatemos a ativação do Conselho Legislativo Palestino, a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), assim como a formação de um governo consistindo em figuras nacionalistas de comum acordo.
A população palestina há algum tempo vinha pedindo para que seus líderes resolvessem o impasse, apesar de analistas internacionais argumentarem que as diferenças entre os dois lados em questões como segurança e diplomacia eram grandes demais para se chegar a um acordo.
Israel diz que ANP precisa escolher um lado
Israel – O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, reagiu ao anúnciodaquele dia e advertiu a ANP para que “escolha entre a paz com Israel ou a paz com o Hamas”.
Em comunicado, Netanyahu declarou que “a mera ideia de uma reconciliação reflete a fraqueza da ANP” e faz questionar “se o Hamas tomará o controle da Judeia e da Cisjordânia, como fez em Gaza” em 2007.
– Não é possível a paz com os dois porque o Hamas tem a aspiração de destruir Israel e já manifestou isso abertamente. Espero que a Autoridade Palestina escolha corretamente e que escolha a paz com Israel.
Nas últimas semanas, fontes oficiais revelaram que Netanyahu tinha a intenção de lançar uma nova iniciativa diplomática para tentar impulsionar as negociações de paz com os palestinos, interrompidas desde setembro do ano passado, quando o governo israelense retomou a construção nas colônias da Cisjordânia após dez meses de moratória parcial.
A medida levou os palestinos a desistirem das negociações e desde então vêm apostando em uma campanha para obter o reconhecimento internacional a um estado dentro das fronteiras de 1967.
Ainda não está claro se este governo de transição irá reestruturar as forças de segurança, que respondiam a comandos diferentes – o Hamas vinha controlando as forças de segurança na Faixa de Gaza, e o Fatah as da Cisjordânia. Clique aqui para mais detalhes nos sites
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