(Publicado originalmente em Ter, 25 de Novembro de 2008)
Para quem esperava um vento – ou pelo menos uma brisa – de bonança por parte do presidente-eleito Barak Obama em direção aos povos emergentes, entre os quais nos incluimos, pode tirar o cavalo da chuva. Depois de todo aquele pessoal da Wall Street – Summers, Geithner etc. – que indicou para sua equipe econômica, ele agora anuncia mais um falcão para, ao que parece, apertar ainda mais o torniquete contra nós.
Trata-se de Paul Volcker, hoje com 81 anos e quase dois metros de altura. O ex-presidente do Federal Reserve Bank, o temível Fed, nos governos Carter e Reagan, vai presidir uma nova comissão da Casa Branca, encarregada “de ajudar a nova administração a criar empregos e estabilizar o mercado financeiro”, segundo anunciou nesta quarta-feira, 26, o presidente Obama.
E quem é este cidadão? É o mesmo Volker que elevou bruscamente a taxa de juros americana (chegando a 21%, hoje está em 1%), multiplicando a dívida dos países da América Latina, principalmente a do Brasil (uma das maiores).
No livro “A Doutrina do Choque – A Ascensão do Capitalismo de Desastre”, a jornalista Naomi Klein, afirma sobre a ação insaciável deste wallstreetiano: “Um novo tipo de choque ocupava os noticiários: o Choque de Volker. Os economistas usaram este termo para descrever o impacto da decisão tomada pelo presidente do Banco Central norte-americano, fazendo-a atingir 21%, chegando ao pico em 1981 e permanecendo nessa faixa até meados da década de 1980. A elevação da taxa de juros levou a uma onda de falências nos Estados Unidos e, em 1983, triplicou o número de pessoas que deixaram de pagar suas hipotecas”.
Mas a dor mais profunda, segundo Klein, foi sentida fora dos EUA: “Nos países em desenvolvimento (hoje os chamam de emergentes) , que suportavam uma carga pesada de dívidas, o Choque de Volker foi como uma metralhadora gigantesca que atirava de Washington, provocando convulsões no mundo em desenvolvimento… Na Argentina, a dívida já astronômica de 45 bilhões de dólares atingiu 65 bi… Foi depois do Choque de Volker que a dívida brasileira explodiu, dobrando de 50 para 100 bilhões de dólares, em seis anos.
Veja noticiário a respeito no Estadão