quinta-feira, novembro 21, 2024
InícioPolítica InternacionalSobre os árabes e a violência e hipocrisia ocidentais

Sobre os árabes e a violência e hipocrisia ocidentais


Por Mino Carta (Na última edição de Carta Capital)
E me vem à mente a Andaluzia, não aquela invadida pelos reis católicos e seus padres vingativos, precursores do nazismo com seus autos de fé, e sim aquela que foi árabe por 700 anos. Quem tiver a ventura de se encontrar com a Alhambra em Granada, ou a Grande Mesquita de Córdoba, ou o Alcazar em Sevilha, não escapará à constatação da grandeza de uma civilização capaz de produzir obras tão deslumbrantes. Comovedoras, poéticas.

Não é que faltem outras provas da extraordinária contribuição da cultura árabe ao progresso da humanidade, e em todos os quadrantes. Por um largo período, séculos e séculos, o pensamento árabe foi decisivo nas artes e nas ciências, da escrita à matemática, da arquitetura à astronomia. Mas eu retorno, neste instante, às cidades andaluzas, onde os templos dos conquistadores aceitavam ao seu redor as juderias, os bairros judeus. Bairros e não guetos.

A conveniência entre árabes e judeus era muito diferente daquela que hoje se verifica no Oriente Médio. Pacífica, então, baseada na colaboração e no intercâmbio, feliz, tudo indica, dentro das possibilidades humanas de viver a felicidade. Diga-se que, longe da Grande Mesquita e da juderia que a cerca, ou ao descer da altura risonha onde se planta a Alhambra, Córdoba e Granada apresentam, fisicamente, alguma semelhança com Sorocaba.

Lembranças suscitam ideias e estas nos permitem viajar no tempo e no espaço. Ocorre-me o devaneio de Lawrence da Arábia em contraste à prepotência e à ferocidade dos turcos otomanos, da Grã-Bretanha e da França, que se esmeraram no projeto de fracionar a terra árabe a seu talante e em exclusivo proveito dos seus interesses imperialistas. Atrocidades morais e materiais foram cometidas pelos donos do poder global às margens daquele imenso golfo do Mediterrâneo, e à constante agressão acabaram por unir-se os Estados Unidos, debaixo do olhar condescendente de todo o Ocidente.

Fala-se muito de Hitler, com excelentes motivos, mas ninguém se incomodou com a chacina de 1 milhão e 200 mil armênios perpetrada pelo Império Otomano, o genocídio do começo do século passado. Resta o fato de que o Estado de Israel nasceu de súbito na Palestina, cujos habitantes ficaram exilados em sua própria terra. Pretendeu-se remir o monstruoso pecado do Holocausto, mas também postar o sentinela da civilização ocidental no coração da área humilhada. (Continua em Carta Capital)

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola