Autor de Quem Tem Medo de Hugo Chávez
Uma cobertura só comparável àquela das visitas papais está sendo preparada pela mídia conservadora mundial para a chegada ao Brasil, dia 18, da blogueira cubana Yoani Sanchez. Desde o falsário, mas ainda influente, jornal espanhol “El País”, às grandes redes de TV europeias e americanas, à nossa não menos expressiva TV Globo, e seus respectivos sites na internet, produz-se um aluvião de reportagens, entrevistas, blogs, crônicas, vídeos, tuítes e posts no Facebook, procurando alçá-la como paladina da liberdade. Mas que liberdade? A de dar rédea solta a cinco ou seis famílias, que detêm o monopólio da informação, que não admite o contraditório e muito menos o direito de resposta?
Seu grande feito, da perspectiva da grande imprensa, é o de denunciar a revolução cubana, como uma ditadura atroz que impede seus cidadãos de se expressar e locomover, livremente, ainda que ela se jacte da audiência de seu blog, denominado Generación Y, e tenha morado quatro anos na Suíça. Por esta ação, ela arrebatou os maiores prêmios de jornalismo e literatura do globo, que já lhe teriam rendido uma pequena fortuna de 300 mil dólares. Ela ainda foi nomeada correspondente e porta-voz de jornais do porte de “El País” e do brasileiro “O Estado de S. Paulo”. É também uma das dirigentes da Sociedade Interamericana (dos donos de jornais das três Américas) de Imprensa, a famigerada SIP, fundada sob os auspícios da CIA, na Havana colonizada de 1948. Por sua vez, o blog Generación Y é traduzido simultaneamente para 21 diferentes idiomas.
Pouco importa que ela e sua família, como ocorre com qualquer habitante da ilha, tenha recebido educação gratuita e de qualidade, do jardim de infância à universidade, além dos custos de alimentação, moradia e transportes subsidiados pelo governo. Sua pregação está voltada para denegrir o regime cubano e substituí-lo por um regime tão ou mais opressivo, mas comprometido com o grande capital, como talvez o de Fulgencio Batista, apeado do por Fidel, Raul Castro e Che Guevara. E isto, inevitavelmente, anularia as conquistas sociais, científicas e culturais da revolução que fazem de Cuba um dos países com maior índice de desenvolvimento humano do planeta.
A ela certamente pouco diz o fato de o governo ter de precaver-se contra o brutal bloqueio econômico e os atentados dos Estados Unidos, que incluíram evenenamento dos rios e uso de produtos químicos para exterminar plantações, além das mortes e prejuízos materiais e morais, ao longo dos 54 anos da revolução. Ela faria tudo por dinheiro, pela fama, ou, quem sabe, um sonho de tornar-se presidenta de uma Cuba recolonizada pelo ressurgimento da Emenda Platt, que agrilhoou o país até a revolução de 1959? Isto é o que dá a entender pela sua pregação e suas companhias, que incluem o mafioso Álvaro Uribe, ex-presidentes da Colômbia, e outros expoentes da direitona latino-americana.
O problema, porém, para a mídia, inclusive, são as contradições da blogueira. Suas manipulações pretéritas, incluindo uma falsa entrevista de sua lavra com o presidente Barak Obama, como revelam documentos do governo americano descobertos pelo Wikileaks, a multiplicação fraudulenta do número seus seguidores no Twitter, a farsa de um atentado que teria sofrido nas ruas de Havana, por parte de seguranças do regime, e o seu próprio feitio arrogante, inibem uma caracterização de heroína para a dissidente cubana. Estes percalços, entretanto, não deverão tirar o brilho da festa para Yoani, porque a grande imprensa, mesmo desmoralizada pelos “assassinatos” de Fidel Castro e Hugo Chávez, está convencida de que seu arrastão midiático ainda tem o peso de ofuscar qualquer veleidade factual. Mas quem foi que disse que tudo isso não poderá passar de mais um factoide?