(Publicado originalmente em Dom, 19 de Outubro de 2008)
Há muito sabemos sobre a interferência da força monetária dos laboratórios farmacêuticos sobre a mídia; não são poucas as reportagens preparadas para o lançamento de uma determinada medicação e, em alguns casos, é nítida a associação do conteúdo da matéria publicada com o conteúdo de marketing do fabricante da droga. O erro mais comum nessas publicações é o uso do nome comercial da droga, em vez do nome genérico. Outra falha tendenciosa é omitir a fonte de financiamento do estudo.
Um artigo escrito em uma das cinco publicações médicas mais importantes do mundo, o Journal of the American Medical Association, no dia 1º de outubro, mostra claramente que, mesmo diante de regras de editores de publicações científicas e leigas para impedir esse vício, ele ocorre com freqüência perturbadora.
No estudo, Michael Hochman, da Harvard Medical School, em Massachusetts, e seus colaboradores pesquisaram as cinco mais importantes revistas científicas dos EUA, entre abril de 2004 e abril de 2008. Foram encontrados, nesse período, 358 artigos sobre a ação terapêutica de drogas patrocinados por laboratórios. Desse total, apenas 117 geraram artigos em jornais de grande circulação ou nos sites mais populares de notícia da internet, totalizando 306 artigos leigos. Os autores, então, revisaram os artigos da imprensa leiga relativos aos estudos, conferiram se nas notícias leigas era publicado o nome genérico da droga e também se existia um aviso esclarecendo que o laboratório fabricante financiara a pesquisa.
(Continua na Carta Capital )