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Giba comenta “El Caudillo” na “Caros Amigos”

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(Publicado originalmente em Seg, 13 de Outubro de 2008 21:00)

É do FC Leite Filho o livro chamado El Caudilho, no sentido de liderança, coragem, chefia: sem caudilho não há povo. O caudilho foi o sindicato do gaúcho, se diz na Argentina. Leite Filho se interessou por saber os motivos pelos quais Leonel Brizola não conseguiu chegar à Presidência da República, preparando-se para isso desde os 23 anos em Porto Alegre.

Um livro honesto sobre Leonel Brizola 

Por Gilberto Felisberto Vasconcellos (*)

E o que acontece hoje com a gauchada? O minuano ficou tucano.

Em 1945 Brizola era mais lúcido politicamente do que um gênio cinqüentão como Oswald de Andrade, percebeu a cilada(montada pelo imperialismo americano) das liberdades democráticas. Ficou politicamente com o Vargas derrubado. Será que Vargas foi um luxo que jamais poderá se repetir? Como Perón na Argentina? Como Cardenas no México?

A progressão do imperialismo cada vez mais mediocriza os presidentes. Vide o Palácio do Planalto de 1964 para cá. A banalização do Presidente é deprimente. O bacana deixa o Palácio depois de 4 anos como se estivesse saindo de um programa de auditório. Acabei, Mãe! Isso num país em que Presidente da República já deu um tiro no coração.

É ou não é chanchada ver um FHC debruçado num caixa eletrônico do Banco Santander? Ou Lula pegar seu boné e ir para São Bernardo jogar sinuca com birita? Brizola era de outra estirpe, à Salvador Allende. O Deputado Florestan Fernandes vacilou ao chamá-lo de “machão”.

Porta-voz da telefonia norte-americana, a USP espalhou que Brizola nunca havia lido um livro. Repetindo o que dizia Lincoln Gordon, o embaixador golpista de Harvard. Não me foi dada a oportunidade de conversar com Brizola sobre Antonio Cândido e Sérgio Buarque de Holanda, os dois amigos de Darcy Ribeiro e fundadores do PT em São Paulo.

FC Leite Filho privou vários anos com o biografado. Tancredo Neves empurrou goela abaixo o dispositivo espúrio do parlamentarismo para Jango. Enfurecido, o governador Brizola queria prender Tancredo em Porto Alegre. Estava certo. Santiago Dantas chapou no uisque de Gordon e conspirou contra Jango, era a Virgem Maria dos brasilianistas, esquerda responsável, Brizola era a esquerda radical para Kennedy, que preferia Adhemar de Barros. Vaidoso, depois ministro de Sarney, o antimaxista Celso Furtado com seu plano Trienal foi o anti-Brizola das reformas de base. Eis a definição lapidar de Brizola sobre 1964:
“Um golpe de interesses americanos com tropas brasileiras”.

A vida de Leonel Brizola é a prova de que o golpe de 64 ainda continua com o governo Lula.

Os partidos de esquerda, influenciados pelo catecismo da caridade, dissociam a questão social da nacional. Cidadania virou ridícula palavra. Tudo é visto sob o prisma de uma mi stificada vontade. Que os privilegiados ofereçam as sobras para os “excluídos”, tenham pena dos subdesenvolvidos. Assim, mundo rico e mundo pobre perdem suas conexões causais, ou seja, entre a riqueza e a pobreza desaparece inteiramente o nexo de exploração. A isso dá-se o nome de ideologia petucana.

Brizola se autodefiniu: “sou um homem empírico”, para sublinhar que vinha de longe. O empiriobrizolismo convive com o revolucionário intelectual. Brizola leu artigo de Andre Gunder Frank sobre a remessa de capital. No Rio, trocaram amabilidades teóricas quanto ao desenvolvimento do subdesenvolvimento, daí resultou a expressão “perdas internacionais”. O ineliminável subdesenvolvimento crescente dentro do sistema capitalista mundial só tem uma saída: a revolução socialista.

(*) Gilberto Vasconcellos é sociólogo, jornalista e escritor, autor de Depois de Leonel Brizola, Caros Amigos Editora.

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