Numa demonstração de que não estão ali para convescotes ou posar para fotografias, os chefes de Estado da América do Sul, reunidos ontem em Buenos Aires, deram o primeiro recado, depois de terem-se afinado na escolha de seu secretário-geral, o ex-presidente da Argentina Néstor Carlos Kirchner:

Não comparecerão, dia 18, em Madri, à Cúpula da União Européia-América Latina, na verdade, um arranjo do antigo imperialismo espanhol, destinado a mostrar que ainda dá as cartas na região. Poderão, no entanto, reconsiderar a decisão, caso seja retirado o convite ao presidente Porfírio Lobo, eleito pelos golpistas de Honduras que depuseram o presidente constitucional Manuel Zelaya.

Os dirigentes sulamericanos entenderam o gesto, já formulado a Lobo, como uma forma de impingir a volta de Honduras, país expulso da OEA, Organização dos Estados Americanos, por causa do gollpe militar de junho de 2009 contra Zelaya, ao convívio da comunidade latinoamericana. O presidente rotativo da Unasul, Rafael Correa, do Equador, chegou a qualificar de “leviandade”  o ato do primeiro ministro da Espanha, José Luiz Zapatero, certamente respaldado pelo rei Juan Carlos, e, ao que parece, por pressão dos Estados Unidos.

O “mal estar majoritário”, como enfatizou Correa, já tinha se manifestado entre todos os chefes de Estado, à exceção dos da Colômbia e do Peru, e acabou se transformando em moção, encaminhada pelo presidente do Brasil, Luis Ignacio Lula da SIlva. Lula julgou que o gesto espanhol poderia se transformar num estímulo a futuros golpes de Estado, tendo, porquanto, de ser rechaçado.
Curiosamente, o presidente da Venezuela, Hugo Chavez que, com a decisão da Unasul de peitar a Espanha, acabou desagravado da humilhação que lhe impôs o rei Juan Carlos, numa das últimas dessas cúpulas patrocinadas pela Espanha, no Chile – no célebre “por que no te callas?” -, permaneceu discreto, ainda que não deixasse de manifestar seu desconforto com o gesto da antiga metrópole.