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Crítica do filme Mademoiselle Chanbon

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A serenidade da narrativa de Stéphane Brizé, em Mademoiselle Chambon, sublinhada por um romântico comentário musical, pode servir de prévia advertência ao espectador para não se deixar envolver pela questão amorosa que lhe é exposta, pois as três personagens atingidas pelo conflito dela decorrente serão suficientemente racionais para restaurar a normalidade da situação.

Detentor do prêmio Cesar de Melhor Roteiro Adaptado deste ano, de Brizé e Florence Vignon, com base no romance homônimo de Eric Holder, o filme é a crônica – bem anuente, por sinal, ao estilo de Eric Rohmer – da vida familiar de um pedreiro, Jean (Vincent Lindon), que, vivendo numa pequena cidade do interior da França, ao início de um outono, como se tivera vinte anos, se sente intranquilo pelo inesperado surgimento de um novo amor, fora de casa.

Jean é casado com Anne-Marie (Aure Atika), que trabalha numa gráfica. De pouca instrução, o casal se vê em dificuldade para orientar o filho, Jérémy (Arthur Le Houérou), a preparar as lições de francês. Jean também cuida do pai (Jean-Marc Thibault), doente, às vésperas de completar oitenta anos. Certo dia, ao apanhar o filho na escola, ele é surpreendido por um convite da professora Véronique Chambon (Sandrine Kiberlain) para falar aos alunos sobre suas atividades profissionais.

Ele comparece, responde às indagações que lhe são feitas sobre construção e reforma de edifícios pelos colegas de Jérémy e, ao saber depois que Mademoiselle Chambon, recém-chegada ao lugar, precisa de alguém que lhe conserte uma janela danificada no imóvel por ela ocupado, se oferece para fazer o serviço. É cumprindo essa tarefa que Jean se apercebe da solidão de Véronique, que, como professora primária substituta, leva vida nômade pelo país, longe da família, não ficando mais que um ano em cada escola, para a qual é designada.

Para mostrar a terna relação que assim nasce entre ambos, Brisé emprega poucos diálogos, valorizando o silêncio, os gestos, os olhares e principalmente as melodias do inglês Edward Elgar e do húngaro Franz von Vecsey, que Véronique, a pedido de Jean, executa ao violino. Quando, em momentos de angústia, Jean procura, nos rochedos – a película foi rodada em Marseille -, um local, onde fortes ventos agitam as grimpas das árvores, ele se conscientiza do seu conflito interior. E, de volta ao carro, ouve, em CDs, que lhe emprestou a professora, as músicas de Elgar e de Vecsey, executadas por violino, com acompanhamento de piano.

O tormento de Jean se acentua ao ficar sabendo da gravidez da mulher, Anne-Marie. Os reflexos disso se fazem sentir, de pronto, tanto em casa, onde quase põe a perder os preparativos da festa de aniversário do pai, que vai reunir toda a família, como no serviço. O ator Vincent Lindon, que encarna o protagonista, até pelo aspecto físico, parece ser hoje o melhor herdeiro da linha interpretativa de Jean Gabin. Como o pedreiro, ele está muito bem, mas não tão inspirado, apesar de fazer, sozinho, o prólogo, como esteve em sua atuação anterior, em Bem-Vindo, de Philippe Lioret.

São as duas atrizes que contracenam com Lindon – Sandrine Kiberlain e Aure Atika – que dominam a cena. A primeira, Kiberlain, ex-esposa dele, na vida real, cria uma personagem tímida, débil, seca, frustrada, que possivelmente sofreu uma decepção amorosa, porém não perdeu a esperança de ainda encontrar alguém. Sua atuação, de natureza técnica, nos mínimos detalhes – o tremor dos lábios, por exemplo – valeu-lhe a indicação ao Cesar de Melhor Atriz do Ano. A segunda, Atika, indicada ao Cesar de Melhor Atriz Coadjuvante, atua de forma discreta, dando destaque ao olhar, pelo qual, durante a festa de aniversário do sogro, sua personagem, Anne-Marie, percebe tudo o que se passa no coração do marido Jean.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
MADEMOISELLE CHAMBON
MADEMOISELLE CHAMBON
França /2009
Duração – 101 minutos
Direção – Stéphane Brizé
Roteiro – Stephane Brizé, Florence Vignon, baseado no romance Mademoiselle Chambon, de Eric Holder
Produção – Milena Poylo, Gilles Sacuto
Fotografia – Antoine Heberle
Trilha Sonora – Ange Ghinozzi
Edição – Anne Klotz
Elenco – Vincent Lindon (Jean), Sandrine Kiberlain (Mademoiselle Chambon), Aure Atika (Anne-Marie), Jean-Marc Thibault (Pai de Jean), Arthur Le Houérou (Jérémy), Michelle Goddet (Diretora da escola), Anne Hardy (Vendedora da funerária).

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