O senso comum entre os defensores do Exame Nacional do Ensino Médio, Enem, no afã de proceder sua defesa contra sucessivos ataques, usam o argumento de que as contundentes manchetes da grande mídia – Estadão – Folha de São Paulo – O Globo – etc. fazem parte do discurso de oposição ao governo Lula.E, por extensão, carregam nas tintas, dizendo: – o Enem vai de encontro às velhas práticas do velho e excludente sistema educacional brasileiro. De fato, o alarde da grande Mídia é algo notável. Há portanto uma indagação: a Mídia conservadora defende o velho e excludente sistema nacional de ensino? Dados mostram que não, que esse sistema propugnado pelo atual governo é muito bom, e lucrativo para os setores privados – nunca na história desse país se transferiu tanta renda da educação superior para os cofres das IES (Instituições de Ensino Superior) particulares como se faz hoje.O Enem, além de propor um currículo em que a tônica é a interdisciplinaridade, propôs unificá-lo nacionalmente, pondo o decoreba para escanteio, além de quê, é gratuito para alunos da escola pública, ou seja, alia acessibilidade e agrega competência, e já é aceito, por cerca da 50 IFS – Instituições Federais de Ensino -. Na política educacional do Governo atual o Enem vai na frente, puxando o bloco da inclusão universitária, atrás vêm o Prouni,o FIES agora desembaraçado da exigência do fiador obrigatório; e o Sisu do MEC, que seleciona para graduação nas Federais.Por que tanta grita contra o Enem, se tão bom ele é? Porque a essência das críticas a ele desferidas, decorrem de uma mediúnica intuição político/ideológica, dos quadros pensantes das elites econômicas, políticas e empresariais brasileiras, que o vêem numa perspectiva de, ao consolidar-se, alcançar mentes e corações da juventude brasileira. E isso seria muito grave. Imaginem: milhões de caras-pintadas nas ruas em defesa do ENEM.É correto que também o Enem colide com as receitas líquidas e certas que os vestibulares regionais arrecadam, e com a industria dos cursinhos, mas estes tendem a adequar-se e sobreviverão. O problema é que o Enem tende a consolidar-se nos próximos cinco ou dez anos, como a principal política de inclusão universitária de jovens das classes C, D e E, além de tornar-se no enorme paradigma na história da educação brasileira, no que se refere ao desmonte de um sistema excludente e elitista.Destes acontecimentos nem as IES privadas escaparão, pois terão que reverem posturas internas de bem receberem esse novo e enorme contingente, de estudantes das classes C, D e E, horda heterogênea em todos os aspectos, com suas particularidades, políticas, culturais, e ideológicas. ou seja, terão de abandonar a retórica da filantropia e da inclusão, se quiserem vivê-las de fato.
Os pensadores da Elite branca e dominante sabem que nos próximos cinco a oito anos, os recursos do pré-sal darão suporte à programas desse tipo. Aí é onde mora o perigo, pois consolidando-se nestes termos, teria o Enem sobre a população brasileira o potêncial eleitoral de um super bolsa-família. Imaginem o Enem como principal receptáculo das esperanças da juventude pobre desse país? O Enem com a cara da juventude ?!
É essa premonição que move os detratores e amplificadores dos problemas do Enem. Aparentemente, são críticas conjunturais, mas seu conteúdo traze esse escopo, miná-lo com um grande escândalo, para, gradativamente, sulcar nas mentes da juventude como amálgama de trapalhadas e de incompetências.
Neste aspecto as críticas ao Enem são ideológicas, estruturais e possuem endereço certo – abortar no nascedouro, todo e qualquer projeto real de democracia que ameace a tradição do poder político e econômico excludente. Daí a fusão: juventude/Enem deve ser combatida agora, antes que a juventude possa abraçá-lo como caminho seguro para um futuro digno e melhor.