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Crítica do filme O Homem Misterioso

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Ambientado, em grande parte, em Castel Del Monte, tido como um dos vilarejos medievais mais belos da Itália, O Homem Misterioso, de Anton Corbijn, é um thriller, de linguagem européia, que relata a tardia decisão de um matador profissional de renegar o seu passado e mudar de vida pelo amor de uma mulher.

O roteiro, de Rowan Joffe, baseado na novela A Very Private Gentleman, de Martin Booth, acerta na dosagem dos diálogos, mas erra no emprego de simbologias descabidas, que nem sempre são adequadas à natureza da história. Sobre esse roteiro, Corbijn, afamado fotógrafo holandês, em seu segundo trabalho como diretor (o primeiro foi Control, filme sobre Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division, que se suicidou), impõe uma narrativa metódica e fria, ao estilo dos franceses, conseguindo apurar alguns bons momentos de suspense.

No prólogo, Jack (George Clooney), um assassino a soldo, está descansando, com sua amante Ingrid (Irina Björklund), numa cabana, no interior da Suécia. Ao caminhar sobre um lago congelado, Jack identifica a presença, na montanha, de um atirador, que abre fogo contra o casal. Em ato contínuo, Jack, munido de arma de alta precisão, mata o atirador e atinge, inexplicavelmente, com um tiro, a cabeça de Ingrid. Logo depois, na estrada, ele mata outro homem armado.

Em seguida, Jack voa para Roma, onde, por telefone, faz contato com Pavel (Johan Leysen), que o aconselha a não ficar na cidade, mas a apanhar um carro estacionado nas adjacências do aeroporto e viajar, de imediato, para Castelvecchio, um vilarejo encravado nas montanhas de Abruzzo, região que ainda se recupera de forte abalo sísmico sofrido recentemente. Ao chegar lá, nervoso, por não saber usar o celular, ele decide ir à vizinha Castel Del Monte, onde conhece o padre Benedetto (Paolo Bonacelli), a quem se apresenta sob o nome de Edward, fotógrafo.

É como Edward também que ele conhece Clara (Violante Placido), uma prostituta, por quem se afeiçoa, mas em quem também não confia, pois se sente ameaçado por elementos estranhos – como Mathilde (Thekla Reuten), negociante de armas – que, a cada passo, surgem, de forma inesperada, no seu encalço. Os becos e as vielas, que serpenteiam os morros do vilarejo, são, a esse propósito, explorados por Corbijn como metáfora para expressar a situação desesperadora de Jack, escravo de uma organização criminosa, à qual presta serviços, mas que, ao mesmo tempo, planeja eliminá-lo por ser ele um especialista na montagem de armas de alta precisão.

Se o roteiro é falho e o argumento do livro de Booth não tem originalidade alguma, a linguagem de Corbijn é envolvente e chega, em certos momentos, a criar impacto, como o do prólogo, em que o enquadramento fotográfico ganha destaque por ser o único e eficiente condutor da ação. Corbijn, como não poderia deixar de ser, demonstra absoluto controle da imagem. Além disso, a trilha sonora, de Herbert Grönemeyer, que pontua, com o tema principal, a evolução da narrativa, é composta de peças como Un Bel Dì Vedremo, de Puccini, e Ave Maria, de Gounod

George Clooney investiu bom dinheiro na produção porque se interessou em mudar a linha das personagens que vem interpretando ultimamente. Jack/Edward, o protagonista, é um assassino frio, que age sob silêncio e paranóia. É um papel denso que exige do ator não os recursos por ele usados em personagens que o vinham identificando com o estilo interpretativo de Gary Grant. Foi um desafio que Clooney enfrentou e do qual se saiu razoavelmente bem, pois criou um indivíduo sombrio e, às vezes, cáustico e irônico, como se mostra Jack nos diálogos trocados com o padre Benedetto, que lhe cobra sempre a opção de trilhar os caminhos do bem. Para contrastar com a figura penumbrosa do protagonista, foram escolhidas três atrizes – Irina Björklund, Tekla Reuten e Violante Placido -, que se destacam mais por sua beleza, principalmente a última, de origem italiana, com quem Clooney tem tórridas cenas de amor.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
UM HOMEM MISTERIOSO
THE AMERICAN
EUA / 2010
Duração – 105 minutos
Direção – Anton Corbijn
Roteiro – Rowan Joffe, com base na novela A Very Private Gentleman, de Martin Booth
Produção – Anne Carey, George Clooney, Jill Green e Grant Heslov
Fotografia – Martin Ruhe
Trilha Sonora – Herbert Grönemeyer
Edição – Andrew Hulme
Elenco – George Clooney (Jack), Irina Björklund (Ingrid), Johan Leysen (Pavel), Paolo Bonacelli (Padre Benedetto), Thekla Reuten (Mathilde), Violante Placido (Clara), Giorgio Gobbi (Perseguidor de vespa), Filippo Timi (Fabio).

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