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Sarkozy leva seu primeiro tombo, em 5 meses de governo

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(Publicado originalmente em Seg, 15 de Dezembro de 2008 15:39)
Por FC Leite Filho
Cinco meses de governo e uma greve, ainda não geral, mas quase, como a ocorrida na quinta-feira, demonstraram por A+B a Nicolas Sarkozy, que não se governa só com a mídia. Se ele conhecesse um pouquinho da história recente do Brasil, talvez já tivesse mudado de opinião, há muito tempo.
Na verdade, o marketing agressivo do atual presidente da França parece uma cópia das investidas midiáticas do presidente Fernando Collor (1990-1992). Ainda que sem o porte atlético do brasileiro, o diminuto Sarkozy (1m65cm) até há pouco se deixava fotografar fazendo jogging ou passeando em iates milionários, ainda que sem jet ski.
Sarkozy, que obteve brilhante vitória para o Champs Elysés sobre a também candidata midiática Ségolène Royal, deve ser produto da nova economia francesa, posta em prática desde a renúncia do general Charles De Gaulle (1958-69), em 1969. A partir dali, os vários presidentes, se dizendo gaulistas ou anti-gaulistas, como o socialista François Miterrand, abriram a economia francesa ao capital internacional. A penetração dos grandes trustes sobre os vários setores da produção, quase toda nacionalizada (aqui incluídos os bancos) pelo general, foi tanta, que 80% da imprensa francesa é hoje dominada por grandes grupos financeiros, entre eles o inglês Rothschild. Assim é que jornais antes ciosos de sua independência e patriotismo, como o liberal Le Monde e o esquerdista Libération (este fundado por Jean Paul Sartre nos áureos anos 60, prestam hoje continência aos Rothschild, de Londres, e a outros magnatas forâneos.
Amigo desses grandes barões da imprensa, como demonstrou, quando exigiu a demissão do diretor da revista Paris Match, ainda como minisro do interior e pré-candidato à sucessão de Jacques Chirac, Sarkozy podia – e ainda pode – distorcer fatos corriqueiros, como as estripulias de Cecília Sarkozy. A Paris Match, depois do tombo do último diretor, ficou tão servil, que passou a utilizar o photoshop para tirar os pneuzinhos do corpo presidencial. A revista foi flagrada na farsa, em recente escândalo internacional, quando se comparou uma mesma foto (Sarkozy de calção no iate de um ricaço americano), que exibiu em uma de suas capas com outra capa, desta vez da revista L’Express, esta a partir da matriz original, sem retoques.
Mas crise social não se resolve com truques de photoshop. Prova é que Sarkozy ainda tentou esvaziar as manifestações de ontem que levaram 300 mil pessoas em apoio à greve de transportes, liberando a notícia de seu divórcio com Cecília, fato aliás, consumado três dias antes, junto a um juiz de Nanterre, nas cercanias da capital. É verdade que se tratava de um fato histórico, já que é o primeiro divórcio de um governante francês desde que o imperador Napoleão Bonaparte separou-se da imperatriz Josephine, em 1809.
O fato é que, nessa primeira manifestação contra o pacote neoliberal de seu novo presidente, os franceses provaram mais uma vez que, embora não tenham podido evitar a penetração do capital estrangeiro, eles vão lutar pelos seus direitos de aposentadoria, de férias e outros benefícios, como o fizeram diversas vezes em passado recente.
Nicolas Sarkozy foi ele mesmo, beneficiado pela última tentativa neoliberal. Foi em 2006, quando o premier Dominique de Villepin,
que com ele pleiteava o apoio do partido oficial, o UMP, decidiu fazer um programa de primeiro emprego. Logo os franceses suspeitaram ser um outro assalto a seus direitos e foram de novo protestar nas ruas. Em conseqüência, Villepin foi obrigado a retirar não só o projeto como seu nome do páreo sucessório.
Isto é fichinha, é claro, se comparado às grandes manifestações que apearam do poder o premier Alain Juppé, em 1995. Juppé, ainda grande amigo de Sarkozy, que tentou emplacá-lo sem sucesso como ministro da Economia, anunciou um pacote de reformas do sistema de Previdência e aposentadorias dos funcionários públicos.
Uma onda de protestos, greves e passeatas parou a França por oito semanas. Impotente, o presidente Chirac foi obrigado a demitir seu premier e a engavetar o projeto. Naquela ocasião, a taxa de adesão dos grevistas da SNCF (transportes) foi de 67%, segundo os sindicatos. Desta vez, na quinta-feira, chegou a 73,5%. Enfim, Sarkozy tem todos esses exemplos em que se mirar e buscar outros caminhos que não o fim melancólico de seu colega brasileiro, afastado por um processo de impeachment.

Cecília se explica em entrevista (Blog do Noblat)
Posse de Sarkozy, bem à francesa

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