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Dez anos sem Darcy Ribeiro

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(Publicado originalmente em Seg, 15 de Dezembro de 2008 15:20)
 
Artigo de Paulo Timm
O problema da escola da vida é a bagunça
do método.- Darcy Ribeiro
Há dez anos ia-se deste para outro mundo um dos mais ilustres brasileiros: Darcy Ribeiro. O fato foi marcado por uma sessão em sua homenagem no Senado Federal , convocada por solicitação do que se considera um de seus discípulos, sem dúvida especial, Senador Cristovam Buarque.
O próprio Cristovam selou a solenidade com o principal discurso no qual destacou os legados de Darcy para a Antropologia, para a Literatura e para a Sociedade Brasileira. Fez côro Cristovam com uma espécie de unanimidade nacional: Darcy foi um homem ímpar, um gênio da raça, um exemplo para a história de todos nós.
Mas quem foi Darcy e o que representou no seu tempo?
Darcy foi todo feito de Minas Gerais, nascido no mais genital de seu leito – às margens do São Francisco- e cevado nos horizontes celestiais da alegre capital das décadas de 40 e 50. Ali descobriu o gosto pelas humanidades e pela literatura num tempo em que ambas ali fervilhavam como num púcaro germinal.
Jamais abandonaria esta influência que o fez cidadão do mundo mesmo antes de trilhá-lo como exilado .Mas não cultivou um humanismo piegas ao gosto das preferências religiosas ou dos manuais . Seu humanismo consistia em assumir no cotidiano a máxima de proferir palavras e realizar ações, pois que esta a essência da condição humana.
Enquanto no Rio de Janeiro o bovarismo infestava a cultura e em São Paulo os primeiros passos da Universidade de São Paulo preparavam uma geração acadêmica de cientistas sociais fortemente influenciada pelo marxianismo, Darcy mergulhava na velha tradição brasileira dos expoentes notáveis, sem doutos orientadores nem moucos seguidores.
Seus livros , brilhantes, ainda são vistos, até hoje, com um certo viés de preconceito como se não providos das regras do método rigoroso da academia. Vivia num tempo primaveril do pós-guerra decidido a lutar pela paz, pela democracia e pela confraternização dos povos.
Fez-se antropólogo e foi viver com índios , com quem , humildemente aprendeu as lições de vida que iria carregar até seus últimos dias. Talvez tenha aí , também, se contagiado com a irreverência que o fez um iconoclasta irremediável, sempre disposto a escarnecer das idéias canônicas , das convenções e das instituições sociais.
Em seguida Darcy enveredou numa carreira de vida pública meteórica só compreensível pelo fato de que estava no centro de um furacão comandado por Juscelino Kubitscheck e que viria a mudar a face de Minas Gerais e do Brasil entre os anos 50 e 60. E tudo sem muita teoria. Só talento, carisma e beleza. Virtudes fundamentais à experimentação da vida como prazer estético e compromisso social.
Impressionante como toda uma geração se movia e movia um país inteiro com base no entusiasmo com estas virtudes. Enquanto a academia fechava-se em seus cânones, a vida publica explodia nas ruas como um acontecimento do transeunte comum.
E Darcy junto com JK propondo a criação de uma Universidade ( de Brasília) que deveria “fazer a cabeça” dos
futuros dirigentes da nova nação com sede no Planalto Central. Junto com O Presidentes João Goulart, na vanguarda das lutas populares pelas Reformas de Base que , realizadas, teriam dado outra fisionomia social para o nosso povo.
Depois veio o amadurecimento no exílio curtido como a fermentação de um bom vinho. Vários países da América Latina, o encontro com a Grande Ibéria – que viria a encantar seus sonhos de que o Brasil é, com efeito, a nova Roma capaz de dar sentido e continuidade à tradição clássica.
Várias experiências na Europa, onde se fez reconhecer como um livre pensador atuante e não apenas um diletante das “humanidades”, tão ao gosto das gerações acadêmicas viriam a ocupar o espaço da Universidade.
Aí Darcy redescobriu o Brasil e teimou em retornar à pátria sob a alegação de um suposto câncer. Ele , que já tinha reinventado a Carta de Pero Vaz de Caminha, na petição à JK pedindo a criação da Universidade de Brasília, volta-se para si mesmo, na descoberta de si para o Brasil.
Difícil caminho num país que já então, final da década de 60,começava a alimentar-se intelectualmente pelos discípulos da Sociologia da Universidade de São Paulo e que estigmatizavam o passado no mesmo tom do discurso autoritário da ditadura militar. Neste passado jaziam Minas como berço libertário da nação, o Rio como o grande cenário das lutas populares pré-64, os radicais do Império como José Bonifácio e Joaquim Nabuco, os tenentes radicalizados pelo ideário comunista de Prestes, a Legalidade de Brizola, a Carta Testamento como síntese da Era Vargas, os grandes líderes da Frente Parlamentar Nacionalista como Neiva Moreira, Doutel de Andrade, Francisco Julião e tantos outros. Neste passado jazia Darcy Ribeiro, suposto moribundo. Jazia o populismo erradamente diagnosticado. Jazia a história do povo brasileiro.
Então Darcy resolveu contar a história do POVO BRASILEIRO. E se fez Secretário dos “Brizolões”, como suporte de sua campanha pela democratização do ensino como caminho da revolução brasileira, contra a opinião dominante dos tecnocratas da educação que os achavam caros e inoportunoes e idealizador do “Sambódromo”, com “apoteose” num gesto inaugural de um novo carnaval que ali nascia. Conseguiu terminar e ver publicado O POVO BRASILEIRO, um livro inédito que ressata o destino do Brasil como uma nação digna do caudal ibero-clássico.
Uma obra, lamentavelmente, também estigmatizada por uma elite acadêmica de novos doutores que preferem os ares da bricolagem pós-moderna. Mas uma obra digna da velha tradição intelectual comprometida com a revelação do Brasil como promessa e destino, tão ao gosto de outro grande brasileiro altamente estimado por Darcy e igalmente condenado pela academia, foi Gilberto Freire.
Aos dez anos sem Darcy lamentamos sua ausência e sua teimosia em fazer-se tão só, a não ser com seus grandes e memoráveis amores.
PAULO TIMM, 62- Professor da UnB

4 COMMENTS

  1. Sou estudante de Ciências Socias, da Faceres em Rio Preto, e amo Política, estou estudando para um trabalho de antropologia a miltância Politica de Darcy Ribeiro.E um gênio antropologo e Politico como Darcy, será imortal.Admiro a projeção cultural e diversidades de Darcy. Abçs. Rosana – 4º semestr de Ciências Sociais e trabalho na Assistência Social, Gosto muito de trabalho de campo, Também Militância Polítca.

  2. Sócióloga, graduada pela Faculdade Instituto superior Ise Ceres de São José do Rio Preto, Professora, Contabilista,Arbitro de Voleybol, gente que faz Esportes, Líder comunitária do Parque Industrial, Jornalista e atualmente trabalho no Cras Centro de referência da Assistência Social.Lembranças dos escritos de DarcY Ribeiro, um mineiro antropólogo e Sociólogo eternizado nas memórias dos Cientistas Sociais.

    Lembranças e Memórias de Darcy Ribeiro.

    Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço nacarne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nelafomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si… Assim foi até se definir como uma nova identidadeétnico-nacional, a de brasileiros…
    ( DARCY RIBEIRO )

    Rosana Gualda Sanches
    Socióloga.

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