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Eleição no Peru e tensão no México

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As atenções internacionais ainda se concentram na Líbia, mas logo terão de voltar-se aqui para mais perto, mais especificamente, o Peru e o México. Nesses países irmãos, as populações se encaminham para um protagonismo político, depois de séculos de apatia e agachamento. Refiro-me à eleição presidencial de domingo, em Lima, onde o candidato nacionalista Olanta Humala, que lidera uma proposta de transformação pacífica, tomou a dianteira nas pesquisas, e às manifestações simultâneas de quarta-feira, 06/04, em 21 cidades do México, defendendo um basta à violência no combate ao narcotráfico e a renúncia do presidente Felipe Calderó.
Tais fatos são significativos por ocorrerem em países em que é mais acirrado – eu diria superando a Colômbia – o atrelamento com os Estados Unidos e o neoliberalismo. Por causa disso, seus povos são os mais atingidos pelos efeitos da crise mundial de 2008 e a desvalorização do dólar, com todo o seu rosário de mazelas como o desemprego massivo, aumento da pobreza, desmantelamento dos serviços públicos, sobretudo no âmbito da educação e da saúde.
São problemas muito parecidos com aqueles que convulsionam o Oriente Médio, desde o fim do ano passado, e que derrocaram os velhos regimes da Tunísia e do Egito e hoje fazem estremecer a grande maioria dos países árabes tutelados pelo Sistema de Dominação Ocidental, ou seja, Estados Unidos e Europa. São eles o Iêmen, Bahrein, Jordânia, Kwait, Arábia Saudita etc.
Para contrabalançar sua perda de influência, esse sistema primeiro tentou sublevar o Irã, mas se defrontou com a força popular e tecnológica da República Islâmica. Em seguida, invadiu a Líbia, mas a população, liderada por Muamar Kadafi, está resistindo aos bombardeios mortíferos, que já mataram centenas de pessoas e danificaram boa parte das estruturas do país, e ameaça transformar aquela operação no maior fracasso militar da superpotência norte-americana. Mais recentemente, foram tentadas arruaças no interior da Síria, outro regime popular abominado por Washinton, e que foram igualmente repelidas pelo presidente Bashar al Hassad.

Voltando à América Latina, é interessante observar o fenômeno Olanta Humala, tenente-coronel reformado do exército, que perdeu para a fraude na eleição passada (o eleito foi Alan García) , como ocorrera um ano antes com Manuel López Obrador, no México. Como Hugo Chávez, da Venezuela, Humala, de 39 anos, também liderou, no ano 2000, uma tentativa de golpe contra o então presidente Alberto Fujimore.
Enfrentando quatro candidatos apoiados por Washingrton, inclusive Keiko Fujimore, filha de Alberto, e de Alejandro Toledo, casado com uma americana vinculadaa ONGs americanas, tem como meta um programa dando prioridade ao setor social. Para começar, ele quer conceder uma pensão para todos os maiores de 65 anos e criar um sistema universal gratuito de saúde.

Como é de se imaginar, Humala, de ascendência indígena, sofre pesado bombardeio da mídia que o acusa de ser vinculado ao venezuelano Hugo Chávez. No seu último comício, ele conclamou o povo a não ter medo: “O medo não pode vencer a esperança”, disse ele em alusão aos que lhe chamam de autoritário e atribuem proximidade de sua propostaao modelo de Hugo Chávez.

Finalmente, temos o povo nas ruas do México clamando pelo fim das matanças da política ensandecida do governo Felipe Camarón, aquele que “ganhou” de López Obrador, em 2006, e que já provocaram a morte de 35 mil pessoas e o desaparecimento de outras cinco mil, tudo em nome do combate aos narcotraficantes.
As manifestações de ontem, que foram seguidas por pequenos protestos em Paris, Madri e Buenos Aires, foram desencadeadas pelo assassinato de Juan Francisco, filho do poeta e jornalista Javier Sicilia. Nelas, o povo pedia mudança na política de segurança do governo e a renúncia de Calderón, há quatro anos no cargo. Dentro de dois anos, haverá eleições e o candidato “derrotado” em 2006, López Obrador, também surge como uma opção para um eleitorado determinado a furar o bloqueio de dominação da vizinha superpotência.

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