La Fiesta del Noruz en Irán por HispanTV
Fomos ao Irã – II (*)
Com fotos de Paulo Miranda
Por FC Leite Filho
Estamos habituados com grandes organizações informativas, como a inglesa BBC, a francesa France24 e as norte-americanas CNN e Fox, expressando os interesses das empresas transnacionais e de seus governos. Temos ainda a Al Jazeera, do governo pró-americano do Catar, que se dizia a voz do mundo árabe, mas que, depois das revoltas no Oriente Médio, se aliou à visão das grandes cadeias corporativas. A venezuelana e muilti-estatal (de que faz parte a Argentina, Uruguai, Bolívia e Cuba) Telesur, implantada há cinco anos pelo presidente Hugo Chávez, continua batalhando para se transformar na voz da América Latina e de seus governos progressistas, sob o lema “Nuestro Norte es el Sur”.
Mais recentemente, surgiu no cenário mundial, com ímpeto redobrado, a iraniana Press TV, com o propósito de oferecer um olhar alternativo e independente das notícias, particularmente no Oriente Médio, e divulgar sua revolução islâmica, artesanato, tecnologia, as flores que exportam para a maior parte do mundo e sua história de seis mil anos.

Trata-se de enorme complexo de vários prédios, em Teerã, abrigando pessoal e equipamento dos mais requintados, que inclui 400 jornalistas, inclusive cem correspondentes estrangeiros de várias nacionalidades. Seu material é produzido por 13 satélites, a cabo e por internet, com ótimo sinal, inclusive aqui no Brasil. É dentro da Press TV, que transmite em inglês e tem um outro canal específico em árabe, que se encontra a HispanTV, o canal em espanhol a ser lançado nos próximos meses, mas que já opera um agressivo website, com notícias atualizadas a cada minuto, abordando tanto a realidade latino-americana como a iraniana, em vídeos, documentários, debates, cinema e esportes.
Para entendermos a HispanTV, é preciso que foquemos no esforço iraniano de aproximar-se da América Latina, onde já tem presença forte na Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador, e ensaia amizade com Brasil, Argentina e Uruguai. O Irã ainda está em plena ofensiva diplomática, estreitando contatos com a Turquia, hoje seu principal aliado, e outros países vizinhos, como Rússia, Azerbaijão, Iraque, China, e Índia. Tentando driblar o cerco que lhe impõem Estados Unidos e Europa, além das sanções da Onu, o maior desafio do país agora é aliar-se aos BRICS, sigla do bloco econômico alternativo integrado pelo Brasil, Índia, China e África do Sul (South Africa, em inglês).
Para isso, promove encontros e fóruns quase todo dia, na capital Teerã e outras, como Pequim, Bagdá, Ankara, Baku, além de feiras e exposições, no Brasil, na Geórgia, Rússia etc. Nos dias que lá estivemos, presenciamos os hotéis cheios, principalmente de homens de negócios, além de turistas, é claro, mas em menor número (Veja em breve matéria específica).

A América Latina, sobretudo o Brasil, constitui referência crucial nesta estratégia, não apenas pela sua alavancagem energética e alimentar, como também pelo potencial geopolítico da região neste novo mundo que se prenuncia multipolar. Em tal contexto, a HispanTV exerce papel igualmente importante na batalha pela informação, que passou a ser a grande prioridade dos grande atores no cenário internacional, tanto no Ocidente como no Oriente.

Aniversario de 12 años de gestión gubernamental… por HispanTV
O canal HispanTV integra a holding, a PressTV, implantada em julho de 2007, com o propósito de transmitir notícias, imagens e argumentos de modo a se contrapor à propaganda ocidental e à cobertura de notícias apresentadas pelas redes americanas e européias e a catariana Al Jazeera.

Os iranianos se dizem vítimas de uma campanha sistemática de desmoralização desses megacanais, os quais, segundo eles, detratam o país como uma ditadura sanguinária, que degrada o papel da mulher na sociedade. Para isso, essas TVs e seus websites misturam situações, como a da Arábia Saudita e do Talibã, onde a repressão religiosa é mais intensa. Uma das mentiras seria a morte por apedrejamento ou a pena de cortar a mão ou o dedo dos ladrões, situações que nunca existiram no país. Lá, alegam, a mulher tem a obrigação de usar o véu, mas não de cobrir o rosto, e gozam de direitos iguais aos homens, nas universidades, medicina, meios de comunicação, onde já superam em muito o sexo masculino.
Press TV conta com um elenco de profissionais, que vão desde jornalistas renomados do Ocidente até dois ex-deputados ingleses (Derek Conway e GeorgeGalloway) e a cunhada do ex-primeiro ministro Tony Blair, Lauren Booth. Estes participam de talkshows e outros programas de debates, em rede, que são seguidos a cada bloco de notícias, ao longo da programação de 24 horas. O mesmo ocorre com os jornalistas e analistas de Washingotn, Nova York, Caracas, Santiago, Paris, Beirute, Damasco, Seul e Pequim, que se reversam a cada momento para dar as notícias segundo seu ângulo próprio de visão.
A filosofia da Press TV, como afirmam seus documentos oficiais, é fundada em dois princípios básicos: poder e precisão. “A notícia tem o poder”, diz um desses documentos em inglês a nós distribuído, em forma de CD, “de moldar – e mesmo mudar – o curso da história. Entretanto, esse poder precisa ser responsavelmente tratado e precisamente dirigido, de forma a produzir um relato exato, equilibrado e justo dos eventos mundiais”. Para a emissora, grande parte das notícias, hoje em dia, é parcial e incorreta. As mesmas opiniões são apresentadas da mesma maneira, enquanto os fatos podem enganosos. Por isso, há a clara necessidade de um canal de notícias, que ofereça não apenas cobertura de 24 horas, mas também transmita notícias de qualidade, com exatidão e uma perspectiva nova”.

Programada para estar no ar dentro de dez meses, a HispanTV nos foi apresentada pelo diretor Saadat Abad, que fez questão de nos mostrar em primeiro lugar a produção do site hispantv.ir. É integrado por uma sala na qual se revezam grupos de nove pessoas a cada oito horas, entre jornalistas iranianos e outros nativos da América Latina. O curioso é que do grupo que conhecemos, oito são mulheres e apenas um homem. Explicou Saadat que isto faz parte do fenômeno iraniano que, de resto, é observado em praticamente todo o mundo, da ascensão das mulheres, nas redações de TV e jornais, mas que, por causa da propaganda, o país é sempre citado como o país que persegue o antigamente chamado sexo frágil. Pouco antes tínhamos visitado o site da holding Press TV e contamos que dos 14 trabalhadores daquele turno, oito eram mulheres e seis homens.
O diretor do HispanTV ainda nos informou que o canal não será apenas allnews, ou seja, só notícias, mas oferecerá documentários do Irã e dos vários países da América Latina, todos com sabor local, por nacionais que entendem do assunto; filmes, sobretudo os iranianos, de qualidade reconhecida internacionalmente, e que já começaram a ser dublados; talkshows e programas populares.

Saadat insiste que a preocupação será a mesma de oferecer notícias e entretenimento sem preconceitos: “Nós queremos dar as notícias pela nossa própria boca e não por terceiros”, numa referência às grandes cadeias midiáticas norte-americanas e européias. E como a Press TV, que já desponta como uma das detentoras de maior audiência, ele diz que a HispanTV, que vai trabalhar em colaboração com a Telesur e outros canais latino-americanos, para a concretização de um mundo multipopular e participativo.
Ao chegar ao Brasil, constatei que a HispanTV já tem presença constante no Youtube, Dailymotion, Twitter e Facebook, como o faz qualquer empresa ocidental. Para ilustração, selecionamos dois vídeos: o primeiro falando da festa das flores em Noruz, e o segundo, dos 12 anos da revolução bolivariana de Hugo Chávez.

(Entre 11 e 19 de abril de 2011, um grupo de jornalistas blogueiros independentes de Brasília viajou por Teerã, Sihaz, Esfahan e Yazd para conhecer a realidade iraniana: Eu, FC Leite Filho, Beto Almeida, Chico Sant’Anna, Helena Iono, Isabel Fleck, Paulo Miranda e Bruno Mascarenhas e Luiz Cabral, de São Paulo)