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Já 17 anos de Carta Capital

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A incrível sobrevivência de uma revista alternativa nesta época de totalitarismo midiático é descrita neste artigo de Mino Carta (*), o fundador e diretor das melhores publicações brasileiras (Jornal da Tarde, Veja, Quatro Rodas, Istoé). Trabalhando com apenas oito jornalistas, inclusive ele próprio, Mino dá as cartas: “As mudanças na periodicidade não alteraram o conceito, a valorizar o trabalho da equipe pequena e afinada. Poderíamos dizer na linguagem futebolística que o vestiário funciona. No momento oito profissionais, este que escreve incluí-do, atuam em São Paulo, dois em Brasília e um no Rio. Onze ao todo. Marcou-me, desde o começo da carreira, a ventura de ter trabalhado por cerca de quatro anos fora do Brasil, em lugares onde redações de 30 jornalistas produzem diários bem melhores que os nossos jornalões”.

Eis o artigo:
“Dois aniversários em um

Em um dia de junho de 1994, quatro jornalistas se reuniram em torno da ideia de lançar uma nova revista que se chamaria CartaCapital-, Carta por nascer à sombra da Editora Carta Editorial, fundada 18 anos antes por meu irmão Luis. Juntos na empreitada três profissionais saídos há meses da IstoÉ da Editora Três, Bob Fernandes, Nelson Letaif e o acima assinado, mais um companheiro de aventuras anteriores, Wagner Carelli.

Dia 15 de agosto, 17 anos atrás, foi lançada CartaCapital, revista mensal destinada a focalizar o poder onde quer que se manifeste. Agora esta edição de número 660 celebra mais um aniversário de uma vida de ousadia, empenho e honestidade. Dizia um grande do jornalismo americano: não nos peçam objetividade, peçam-nos honestidade. A objetividade de fato é balela nutrida de retórica, somos subjetivos até ao colocar uma modesta vírgula ao meio de um período.

Em março de 1996, CartaCapital tornou-se quinzenal, e semanal em meados de agosto de 2001, então já produto de uma nova editora de nome entre otimista e esperançoso, Confiança. Donde, aniversário duplo, 17 anos de existência e 10 de semanal. Da equipe fundadora sobrou apenas o acima assinado. Muitos passaram pela redação e todos deram sua contribuição, alguns ficaram.

As mudanças na periodicidade não alteraram o conceito, a valorizar o trabalho da equipe pequena e afinada. Poderíamos dizer na linguagem futebolística que o vestiário funciona. No momento oito profissionais, este que escreve incluí-do, atuam em São Paulo, dois em Brasília e um no Rio. Onze ao todo. Marcou-me, desde o começo da carreira, a ventura de ter trabalhado por cerca de quatro anos fora do Brasil, em lugares onde redações de 30 jornalistas produzem diários bem melhores que os nossos jornalões.

No início da história, enfrentamos dias difíceis. Sem maiores surpresas, diga-se: arraigada convicção da sociedade nativa soletra que tamanho é documento. Tiragem e ibope solaparam implacavelmente a qualidade do nosso jornalismo, em detrimento do prestígio que determinados veículos atingem ao alvejar o público mais influente. Se a The Economist fosse brasileira, tadinha, estaria em dificuldade. Imaginem, em um país com altos índices de leitura como o Reino Unido, tem tiragem inferior não somente a Veja, mas também a Época e IstoÉ.

Há também um problema a envolver política e filosofia de vida. A mídia nativa, como se sabe, nas condições de instrumento do poder dos herdeiros da casa-grande, é a do pensamento único à mais pálida chance de alteração do status quo. A favor, ou contra. Basta uma nuvenzinha no horizonte. Para citar somente fatos desses últimos 17 anos, vale lembrar que a nossa mídia apontou, qual verdade definitiva, em Fernando Henrique Cardoso o autêntico salvador da pátria, o estadista que o mundo nos inveja, e em Luiz Inácio Lula da Silva o metalúrgico iletrado e inzoneiro fadado a nos envergonhar em todas as ocasiões possíveis.

CartaCapital lamenta esse jornalismo maniqueísta, nem jornalismo o considera. Seria tolo, até desumano, pedir ao profissional que fosse tão objetivo quanto um computador. Nós acreditamos que jornalismo honesto é aquele baseado na verdade factual e na informação isenta. Aquele que não omite, e tanto menos inventa ou mente. Com Hannah Arendt, sabemos que, omitida, a verdade soçobra para sempre como um barco furado.

Escapar à injunção do pensamento único custa muito caro no Brasil. Definir a posição da revista no início das campanhas eleitorais, ação corriqueira em outros cantos do mundo, por aqui é ofensivo aos ditames dos senhores midiáticos e dos seus manuais de redação, prontos a proclamar, com hipocrisia imbatível, uma isenção, uma equidistância, um pluralismo jamais navegados.

CartaCapital orgulha-se do seu percurso em 17 anos de vida e por ter passado incólume em meio a ofensas e aleivosias, até a perseguições, para afirmar, ao cabo, uma visão diversa, e honesta, das coisas da vida.

(*)Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde.
Veja o site de Carta Capital

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