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Chile: a Argentina já passou por isso

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O Chile, como a Argentina dos anos 1990, é – ainda – exaltado como grande exemplo da democracia e de desenvolvimento, porque segue ao pé da letra a cartilha do FMI. Nós já vimos o que se deu na Argentina, em 2001: o país caiu na bancarrota, os depósitos bancários da população foram confiscados (corralito), os caixas eletrônicos fechados e quatro presidentes depostos pelo povo na rua. Agora, é o modelo chileno que é posto à prova.
O incansável protesto estudantil, que já evolui para um movimento de pais, mestres e trabalhadores, como indicam as últimas manifestações e a greve geral de dois dias, em agosto, veio mostrar uma realidade, que não é nova, mas, por ter sido sempre ocultada ou minimizada pela mídia, choca pela sua contundência. Lá, o estudante sem recursos torna-se quase um escravo do mercado, quando menos porque tem de pagar 30 mil dólares para estudar numa universidade. Submetido a juros de cinco por cento ao ano, este estudante, vai levar nada menos de vinte anos para pagar seus estudos.
No Chile legado pelo general Augusto Pinochet (ele deixou o poder há 30 anos), o ensino é pago a partir do nível médio, circunstância que leva a uma corrida pelo lucro por parte da escola privada e marginaliza toda uma geração. O mais grave é que a crise estudantil, denunciada ao mundo por um movimento bem organizado, tendo à frente uma jovem líder de 23 anos, Camila Vallejo, estudante de geografia, militante e filha de comunistas, chamou a atenção para outros problemas que começam a vir à tona: a situação dos desabrigados do terremoto de 2010, cada vez mais explosiva por falta de atenção do governo do magnata Sebastián Piñera, apoiado pelos pinochetistas; dos indígenas que reivindicam a devolução de suas terras e dos ambientalistas, que protestam contra a construção de represas na Patagônia.
Uma entrevista com Camila Vallejo, atual presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile, concedida à Telesur e a uma TV comercial do chile, cujo vídeo repoduzismos neste blog, dá uma idéia da situação chilena, assim como da articulação para superar a crise, que essa estudante de fala mansa e ao mesmo tempo de muita firmeza está promovendo, inclusive com outros países, como o Brasil, onde ela esteve recentemente.
Como primeiro passo, seu movimento defende que os colégios municipais passem a depender administrativamente do estado nacional, de uma maneira que lhes permitam saldar as dívidas, desenvolver-se e melhorar aqualidade: “Queremos também” – diz ela – “que haja vontade política para fortalecer a educação pública, de forma a terminar com o autofinanciamento das instituições públicas, que não podem desenvolver-se sem aportes fiscais diretos”.
O problema é que a constituição pinochetista engessou de tal forma a escola pública, que, somente uma reforma constitucional poderá viabilizar as medidas defendidas pelos estudantes. Por isso, eles defendem a convocação de plebisicito para resolver estes e outros problemas pendentes, já que como sublinha Vallejo, “o problema da educação acaba sendo um problema social e um problema estrutural”.


Veja aqui a entrevista na Telesur

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