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Crítica do filme Incêndios

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Com a narrativa se deslocando entre presente e passado e compondo um quebra-cabeça, Incêndios, de Denis Villeneuve – premiado em vários festivais de cinema e indicado ao Oscar deste ano como Melhor Filme de Língua Estrangeira -, expõe, sob muita força dramática, as marcas profundas deixadas pelos conflitos do Oriente Médio na vida de uma mulher e de seus filhos emigrados para o Canadá.
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Nota à parte do Crítico
O filme Incêndios (****), do canadense Denis Villeneuve, que concorreu ao Oscar de Melhor Filme de Lingua Estrangeira deste ano, inédito em Brasília, por falta de circuito competente, mas em exibição em várias capitais brasileiras. Na desiludida capital do país, o governo, acuado por acusações de corrupção, não tem ânimo sequer para reabrir o Cine Brasília. A programação cultural é uma lástima. Mas, afinal, é o que merecemos!…

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O roteiro, notável, pois não dá noção de haver sido adaptado da peça homônima de teatro de Wajdi Mouawad – dramaturgo libanês, radicado em Québec -, foi escrito por Villeneuve em colaboração com Valérie Baugrand-Champagne, que reproduz a incansável luta dos gêmeos Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin ) e Simon (Maxim Gaudette) para esclarecer pontos obscuros na vida de sua mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal).

O filme se inicia com uma panorâmica estática do solo calcinado do Oriente Médio – a imagem foi captada, em parte, na Jordânia -, onde apenas algumas árvores resistem. A câmara de André Turpin se move para um recinto escuro, no qual os cabelos de alguns garotos estão sendo tosados para que eles se tornem guerrilheiros. De imediato, a imagem se transfere para um cartório em Québec, onde o notário Lebel (Remy Girard) começa a ler para os gêmeos o testamento de Nawal, que fora sua secretária.

Nawal deixou duas cartas aos filhos para serem entregues ao pai, que eles julgavam não estar vivo, e a um irmão, de quem nunca haviam tido notícia. A pronta reação dos jovens é de espanto e, no caso de Simon, também de revolta, pois declara não ter interesse em desvendar a questão, o que não acontece com Jeanne que, incentivada por seu professor, segue para a fictícia cidade de Daresh. De suas investigações iniciais, ela descobre que a mãe estivera presa, acusada de haver assassinado um líder nacionalista cristão. Na prisão, além de sofrer tortura e violência sexual, se tornou conhecida como “A Mulher Que Canta”.

Villeneuve (Polytechnique, 2009) alterna o relato das investigações de Jeanne – também o de Simon, que a ela depois se vai juntar – com a reconstituição do passado de Nawal em seu país de origem (presumivelmente o Líbano), quando era, na juventude, vítima da repressão familiar. Para tanto, ele imprime na narrativa não só o tom documental como cria uma atmosfera de tragédia grega – a peça de Mouawad é estruturada em monólogos líricos – , que faz lembrar a do clássico, no gênero, Paradise Now, de Hany Aud-Assad (2005). Embora os fatos sejam por demais impactantes, como o massacre religioso que teria ocorrido durante a guerra civil libanesa da década de setenta, do qual Nawal escapa por um triz, é digno de nota como Villeneuve tem o cuidado de evitar, tanto quanto possível, que as cenas sejam mórbidas.

Igualmente em uma linha de discrição, Villeneuve, nessa sua quarta película, ajusta perfeitamente a expressão visual à musical por meio de uma trilha sonora de Grégoire Hetzel, que destaca a música eletrônica a fim de caracterizar o tempo presente dos gêmeos em busca do passado turbulento da mãe. É ainda de acordo com essa linha de sobriedade que ele conduz o trabalho dos atores, liderados pela belga Lubna Azbal, intérprete de Nawal Marwan, de extraordinário talento dramático, que aparecera até então em papéis pequenos, como o mais recente deles no filme Rede de Mentiras (2008), de Ridley Scott. Lubna sabe combinar, com propriedade, as ações físicas de sua personagem com a variação de sentimentos por ela gerados diante de tantas adversidades que enfrenta. No mesmo tom, pode-se observar a composição que Mélissa Désormeaux-Poulin e Maxim Gaudette deram a Jeanne e Simon, que refreiam os nervos, procurando, a cada momento, conter a grande perturbação que lhes vai causar a descoberta da verdade.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
INCÊNDIOS
INCENDIES
Canadá / França / 2010
Duração – 130 minutos
Direção – Denis Villeneuve
Roteiro – Denis Villeneuve e Valérie Beaugrand-Champagne com base na peça teatral Incendies de Wajdi Mouawad
Produção – Luc Déry, Kim McGraw, Anthony Doncque e Milena Poylo
Fotografia – André Turpin
Trilha Sonora – Grégoire Hetzel
Edição – Monique Dartonne
Elenco – Lubna Azbal (Nawal Marwan), Melissa Désormeaux-Poulin (Jeanne), Maxim Gaudette (Simon), Remy Girard (Lebel), Abdelghafour Elaaziz (Abou Tarek), Mohamed Majd (Chamseddine), Nabil Sawalha (Fahim).

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