(Editorial de Carta Maior) Neste domingo, pela primeira vez desde 1958, a esquerda conquistou a maioria no Senado francês. A sete meses das eleições presidenciais, muda o pano de fundo de uma disputa na qual Sarkozy, o timoneiro dos ataques à Líbia, imaginava redimir-se nas urnas graças à desmoralização socialdemocrata no enfrentamento da crise. O avanço silencioso das forças de esquerda nas eleições regionais,porém, permitiu que 71.890 ‘grandes eleitores’, entre deputados, conselheiros regionais, prefeitos etc acumulassem força suficiente para impor-lhe uma renovação indireta e indigesta na câmara alta.Nunca antes na história da V República a direita deixara de ter o controle do Senado, onde passa a ocupar agora 169 cadeiras, contra 175 da esquerda.
A pergunta de um milhão é saber o que a esquerda fará com esse poder numa Europa onde tem cumprido bovinamente o percurso para o matadouro da história. Dois exemplos: George Papandreu, na Grécia, um quadro que liderou a Internacional Socialista, cumpre com afinco o papel de carrasco da própria biografia política.
Zapatero, na Espanha, apegou-se a tal ponto ao receituário ortodoxo que restituiu respeitabilidade ao Partido Popular, pronto para derrotá-lo nas eleições de novembro. O crepúsculo da socialdemocracia européia não representa apenas o ocaso de nomes e siglas. Trata-se da deriva de um projeto vitorioso no pós Guerra no seu propósito de impor limites à supremacia dos mercados capitalistas com os contrapesos do Estado do Bem Estar Social.
A questão , como sugere José Luis Fiori, (clique aqui para o arquivo), e Wallerstein (clique aqui), é saber o que substituirá o projeto socialdemocrata. A virada no Senado francês acrescenta outra dúvida a essa equação: terá a própria socialdemocracia condições de se superar para, ao lado de outras forças de esquerda, responder a essa interrogação histórica?