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Crítica do filme “Os Falsários”

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(Publicado originalmente em Seg, 25 de Maio de 2009 16:33)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer

Detentor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (2008), Os Falsários, de Stefan Ruzowitzky, é um thriller calcado em fatos reais, ambientado na época do holocausto judeu, durante a II Guerra Mundial, violento, mas de muita categoria, que propicia profunda reflexão sobre até onde pode chegar a resistência do ser humano na luta pela sobrevivência.

O roteiro, também escrito por Ruzowitzky, é baseado no livro de memórias The Devil´s Workshop, de Adolf Burger, judeu eslovaco, tipógrafo, preso, em Berlim, em 1942, por falsificação de documentos. Depois de algum tempo na prisão, ele foi compelido pelos nazistas a participar da secreta Operação Bernhardt, cujo objetivo era conseguir a desestabilização da economia britânica pela desvalorização de sua moeda.

De narrativa convencional, sem inovação de linguagem, a película, ganhadora de várias outras premiações internacionais, se valoriza pelo notável trabalho do elenco, liderado por um ator excepcional, o austríaco Karl Markovics, intérprete do papel de Salomon Sorowitsch (ou Sally). Ele é um experiente falsário que, como Burger (August Diehl), aceita colaborar com os nazistas na operação de falsificação de dinheiro para financiar a guerra e provocar o caos financeiro nos países inimigos.

Além de dar destaque à participação dos intérpretes, a direção de Ruzowitzky se molda por uma pertinaz adequação de planos com a clara intenção de evitar que a evolução dos acontecimentos, sediada, em grande parte, em recinto fechado – o campo de Sachsenhausen –, infrinja os cânones cinematográficos para se  trancar nas estritas limitações teatrais.

Para conseguir isso, Ruzowitzky conta, primeiro, com o eficiente trabalho de câmara do cinegrafista Benedict Neuenfels. Suas imagens, ricas em contrastes, de luzes e de sombras, expressam a complexa situação em que se encontram os prisioneiros, enclausurados, sob tensão, num espaço mínimo, e trabalhando diuturnamente para lograr salvar as suas vidas.

Conta também com a estupenda trilha sonora de Marius Ruhland que usa como leitmotiv o tango Mano a Mano de Carlos Gardel, num belo arranjo em solo de gaita, de Hugo Díaz, para fazer a ligação entre duas épocas na vida de Sally. E explora ainda várias árias de ópera e temas de Liszt e de Bach a fim de ressaltar o dilema moral que assoberba as personagens.

O colaboracionismo com os nazistas é a questão que se põe, de fato, entre os falsários, liderados por  Sally. Antes de ser preso, em Berlim, em 1944, pelo oficial Friedrich Herzog (Devid Strisow), tornado chefe de Sachsenhausen, ele levava vida de nababo, falsificando especialmente passaportes argentinos para belas judias com as quais dançava o tango. Naqueles tempos, Sally era capaz de dizer que os judeus sempre foram perseguidos por não saberem se adaptar às situações que se lhes aparecessem.

O maior oponente de Sally, entretanto, é Burger que, abalado pela notícia de que sua mulher fora levada ao campo de Auschwitz, se une a outros prisioneiros com o fito de sabotar a operação. Apesar de se mostrar solidário com todos os companheiros, especialmente com Kolya (Sebastian Urzendowsky), um desenhista russo de Odessa, que adoece, Sally entra em conflito com Burger, com quem se atraca fisicamente, depois de lhe fazer muitas ponderações contrárias ao seu posicionamento.

Tudo isso, entretanto, é mostrado em flashback, pois o filme se inicia, na verdade, um dia após o término da II Guerra Mundial, quando um alemão, Sally, chega a Monte Carlo e se hospeda no suntuoso Hotel de Paris, pagando o depósito inicial de sua estada em moeda. Já instalado num luxuoso apartamento, ele convoca um alfaiate para lhe fazer o traje com que comparecerá ao cassino naquela noite. Gastando horrores  na jogatina, Sally atrai para a cama uma bela francesa (Dolores Chaplin) que, na manhã seguinte, descobre um número (75.517) tatuado em seu braço, revelador de ser ele um feliz sobrevivente de um campo de concentração nazista…

FICHA TÉCNICA

OS FALSÁRIOS
DIE FÄLSCHER
Áustria/Alemanha/2007
Duração – 98 minutos
Direção – Stefan Ruzowitzky
Roteiro – Stefan Ruzowitzky com base no livro The Devil´s Workshop, de Adolf Burger
Produção – Josef Hichhoizer, Nina Bohlmann e Babette Schröder, Sebastian Urzen
Fotografia – Benedict Neuenfels
Trilha Sonora – Marius Ruhland
Edição – Britta Nahler

Elenco –  Karl Markovics (Salomon Sorowitsch), August Diehl (Adolf Burger), Devid Strisow (Friedrich Herzog), Dolores Chaplin (Mulher francesa), Sebastian Urzendowsky (Kolya), August Zirner (Dr. Klinger).

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