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Crítica do filme “Um ato de liberdade”

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(Publicado originalmente em Seg, 11 de Maio de 2009 14:08)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer

O cineasta Edward Zwick imprime rigor técnico em Um Ato de Liberdade para narrar a história de um grupo de judeus que consegue sobreviver ao ataque das forças nazistas, após a invasão da Polônia durante a II Guerra Mundial, internando-se na floresta, na Bielo-Rússia, sob a liderança dos irmãos Bielski, e se juntando à resistência soviética. Como aconteceu em Diamante de Sangue, Zwick trabalha com um roteiro bem estruturado, rico em cenas de ação, de sua autoria em colaboração com Clayton Frohman. Só que ele dá realce agora ao desempenho do papel de um líder, Tuvia Bielski (Daniel Craig), com alusões à figura bíblica de Moisés.

Pois Tuvia mobiliza o esforço dos judeus fugitivos, sob o seu comando, a fim de obter a salvação, nos tempos do holocausto e do extermínio de poloneses em Katyn, a mando de Stalin. O filme, baseado no livro Defiance: The Bielski Partisans, de Nechama Tec, tem início com imagens de arquivo sobre a invasão da Bielo-Rúsisa, em 1941, pelas tropas de Hitler, que mataram mais de 50 mil pessoas, principalmente camponeses judeus ou seus colaboracionistas. Depois de regressarem a casa e verem que seus pais foram brutalmente assassinados, os irmãos Bielski – Tuvia, Zus (Liev Schreiber), Asael (Jamie Bell) e Aron (George MacKay) – se refugiam na floresta.

Sabedor de que o assassino fora um policial da localidade, que agira a mando dos nazistas, Tuvia, no ardor do desejo de vingança, vai procurá-lo em casa, na hora do jantar, e, numa cena forte, dramática, contundente, liquida-o, assim como seus dois filhos, que tentam uma reação. Ao voltar à floresta, Tuvia reencontra não só os irmãos, mas também outros judeus errantes, doentes, famintos, que lhe pedem ajuda e proteção. Indispondo-se com o irmão Zus, que o adverte sobre a impossibilidade de se conseguir alimento para tanta gente, Tuvia os acolhe ao argumento de que a melhor vingança contra os nazistas seria a luta pela sobrevivência de um maior número possível de judeus. Para tanto, Tuvia e Zus vão negociar com Victor Panchenko (Pavil Isyanov), chefe do comando dos partisans (exército vermelho) na região a troca do trabalho dos judeus na construção de abrigos para os soldados pelo fornecimento de suprimentos. A negociação dá resultado, mas, quando começa o rigor do inverno, ante a ameaça de um surto de tifo entre os judeus e o reinício dos ataques nazistas, que os localizaram na floresta, os soviéticos os deixam à mingua. Acirram-se, ao mesmo tempo, os desentendimentos entre Tuvia e Zus, que chegam a se atracar fisicamente. Zus decide então se incorporar ao comando comunista, enquanto Tuvia, já um tanto quanto desgastado como líder, continua enfrentando as dificuldades que lhe aparecem para conduzir a sua comunidade, contra ele rebelada, em busca da libertação.

Apesar de ser o roteiro bem elaborado sob o ponto de vista convencional, Zwick não teve como evitar que se tornassem exageradas algumas cenas de batalha, como a que mostra a maneira pela qual Zus obtém, num laboratório, guarnecido por soldados nazistas, o medicamento para impedir a propagação da febre tifóide entre os judeus. E, da mesma forma, não conseguiu descartar a previsibilidade de alguns acontecimentos, como o da gravidez de uma judia, estuprada por um soldado nazista. Mas o filme tem um elenco muito bom, destacando-se naturalmente Daniel Craig, que se expressando em inglês, carregado de sotaque russo-polonês, está bem na interpretação do papel de Tuvia Bielski. É possível que, na busca da interiorização da personagem, Craig tenha se descurado um pouco em não mudar a máscara que vem usando em atuações mais recentes, mas o que não compromete o seu trabalho. Além de Liev Schreiber, Jamie Bell, Pavil Isyanov, Allan Corduner, Mark Feuernstein e vários outros atores, que apresentam também boas atuações, chama a atenção do espectador a extraordinária beleza da atriz Alexa Davalos, que interpreta o papel da refugiada Lilka Ticktin por quem Tuvia Bielski se apaixona.

Quase a mesma coisa se pode dizer em relação a Mia Wasicowska, intérprete de Chaya Dzienskielsky, que espera aflita pela manifestação de Asael. O figurino, apropriado e de bom gosto, é outro elemento que compõe bem a produção de Um Ato de Liberdade, que conta com a esmerada fotografia de Eduardo Serra. O grande trunfo, porém, da película de Zwick é o tema musical de James Newton Howard – a família Bielski teve muitos descendentes dedicados à música -, merecedor de indicação ao Oscar, que, tendo por solista um dos mais prestigiados violinistas da atualidade, Joshua Bell, enriquece ainda o espetáculo.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA

UM ATO DE LIBERDADE
DEFIANCE
EUA/2008
Duração – 138 minutos
Direção – Edward Zwick
Roteiro – Edward Zwick e Clayton Frohman, com base no livro Defiance: The Bielski Partisans, de Nechama Tec
Produção – Edward Zwick e Pieter Jan Brugge
Fotografia – Eduardo Serra
Música Original – James Newton Howard
Edição – Steven Rosenblum
Elenco – Daniel Craig (Tuvia Bielski), Liev Schreiber (Zus Bielski), Jamie Bell (Asael), George MacKay (Aron Bielski), Alexa Davalos (Lilka Ticktin), Pavil Isyanov (Victor Panchenko), Allan Corduner (Shamon Haretz), Mark Feuenrstein (Isaac Malbin), Mia Wasicowska (Chaya Dzienskielsky).

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