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O chanceler inglês, a Argentina e o presidente do Irã

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FC Leite Filho

Dizem que a Inglaterra só ganhou da Argentina na guerra das Malvinas, porque os regimes ditatoriais do Cone Sul, incluindo o Brasil e Uruguai, então vigentes na época, permitiram, pressionados pelos Estados Unidos, a utilização de seus territórios para o reabastecimento dos navios e aviões que partiram dos portos britânicos. A ideia me veio à mente por causa da visita ao Brasil, esta semana, do chanceler inglês William Hague, num aparente esforço de dissuadir o governo brasileiro a sustentar o embargo aos navios com a bandeira Malvinas/Inglaterra, decretado recentemente pelo Mercosul, a pedido da Argentina.

O chanceler, um incentivador da invasão da Líbia e que costuma ameaçar o Irã e outras nações emergentes com sanções, sentiu uma atmosfera diferente daquela encontrada pela premiê Margaret Thacher, por sinal do Partido Conservador, o mesmo agora de Hague, na guerra de 1982.

Em contraste com os ditadores militares tutelados por Washington, o diplomata de sua majestade depara-se, neste ano de 2012, com uma nova realidade no Cone Sul. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai elegeram presidentes progressistas e comprometidos com projetos nacionais e a integração de seus países, de preferência sem a intromissão das grandes potências.

A decisão do Mercosul, em embargar os navios ingleses em direção às Malvinas, como lhe explicou seu colega chanceler brasileiro Antônio Patriota, foi uma decorrência de determinações da Comunidade de Estados Latinoamericanos (CELAC), com sede em Caracas, e da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), sediada em Quito, no Equador, entidades não-teleguiadas a partir dos Estados Unidos ou da Europa, como ocorreu durante muito tempo com escanteada OEA (Organização dos Estados Unidos), com sede em Washington.

William Hague também ouviu de nosso embaixador em Teerã, Antônio Salgado, num debate no Centro Brasileiro de Relações Internacionais, CEBRI, organizado no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, que o Brasil não concorda com a “demonização” do Irã” e de seu presidente Mahmoud Ahmadinejad, entendendo que a melhor solução para a polêmica atômica que envolve o país persa deverá ser encaminhada pela via da negociação.

Por sua vez, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, que está se despedindo cargo, anunciou para este ano uma nova visita ao Brasil do presidente de seu país, Mahmoud Ahmadineja, que acaba de realizar périplo pela América Latina, compreendendo Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador. Ele indicou que será uma visita “exclusiva” ao Brasil, sem passar por outros países vizinhos.

Enquanto isso, a guerra de papel sobe de nível na proporção que se aproxima a celebração dos 30 anos da guerra das Malvinas, ocorrida entre 2 de abril e 14 de junho de 1982. Os chefes de governo de ambos os países já vem trocando farpas há algum tempo e, embora recolhida por causa da cirurgia na tireóide, a presidenta Cristina Kirchner está agindo nos bastidores.

A mídia britânica, sempre em busca do sensacionalismo, já anunciou “preparativos de guerra” e o jornal The Times, o antes venerável matutino, mas hoje integrando o grupo de Rupert Murdoch, diz, na edição de hoje, que o conservador primeiro ministro David Cameron, aprovou um plano de contingência destinado a incrementar a presença militar nas Malvinas, por causa da tensão entre a Inglaterra e a Argentina pela soberania das ilhas. Cameron, ainda segundo o jornal, dedicou um dia de trabalho a avaliar com os militares de seu país “a retórica cada vez mais agressiva procedente do Governo argentino encabeçado por Cristina Fernández de Kirchner”.

Blindado pela unidade dos principais países e instituições multilaterais do subcontinente, os países do Mercosul não tendem a dar muita atenção para a retórica midiática, porque não só a Inglaterra está distante mais de 15 mil quilômetros da Argentina, como o país bretão enfrenta séria crise econômica, tendo que demitir cerca de 480 mil funcionários e arcar com um desemprego recorde de 8,57%, a maior taxa em 16 anos, o que indica pouca fexibilidade para gastos militares extras. Dessa forma, o chanceler William Hague tende a voltar de mãos vazias a seu país e, quem sabe, se não for melhor, atender à proposta argentina de iniciar uma negociação concreta com foco no futuro daquelas ilhas solitárias do Atlântico Sul.

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  1. E de admirar o ministro inglês não sabe do passado de seu país,logo o tal reino unido,decadente,escravocrata e intervencionista,chama a Argentina de colonialista em relação as ilhas malvinas,nosso Brasil deve em muito as suas mazelas a este reino unido que por intermédio de Portugal sugou nossa riquesas . E agora que está em crise financeira quer estabelecer uma base militar nas malvinas.

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