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Crítica do filme “Mandela – Luta pela Liberdade”

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(Publicado originalmente em Qui, 09 de Outubro de 2008 21:00)

A aproximação com o grande líder Nelson Mandela faz com que seu carcereiro, James Gregory, racista, reveja seus conceitos e, tardiamente, sinta remorso por haver praticado atos criminosos contra negros nos tempos do Apartheid, nos anos sessenta, na África do Sul. É esse o tema do filme Mandela – Luta pela Liberdade, do cineasta dinamarquês, Billy August, baseado no livro de Gregory, Goodbye Bafana, My Prisoner, My Friend.

August, notável realizador de, entre outros, Pelle, O Conquistador, Palma de Ouro em Cannes (1988), e de As Melhores Intenções (1992), que tem roteiro de Ingmar Bergman sobre o casamento de seus pais, concretiza, desta feita, competente, mas frio, trabalho de direção, que, em momento algum, chega a empolgar ou a emocionar o espectador. É bem possível que isso se deva, em parte, ao fato de haver ele seguido ao pé da letra o pouco inspirado roteiro de Greg Latter, de muitas omissões.

A mais grave delas é a de sequer oferecer pistas ao espectador a fim de se esclarecer melhor sobre o motivo que teria levado Gregory (Joseph Fiennes) a desenvolver, nos anos da mocidade, mesmo sob pressão social, terrível ódio racial se, na infância, no interior do país, seu melhor amigo fora um menino (bafana) negro, que não só lhe ensinara um tipo de luta marcial, mas também o próprio dialeto xhosa, no qual se expressa fluentemente.

E é graças ao conhecimento do xhosa que Gregory é destacado para atuar na prisão da ilha Robben – onde se encontra Nelson Mandela (Dennis Heysbert) – como espião do serviço de inteligência para repassar informações sobre o grupo do famoso prisioneiro. Embora a nova missão não represente para Gregory nenhuma melhoria salarial, a mulher dele, Gloria (Diane Kruger) se entusiasma, pois interpreta o convite como sinalização de futura promoção, que os leve a residir em uma das três capitais, Pretória.

Para ajudar nas despesas da casa, Gloria volta a exercer a profissão, que tinha nos tempos de solteira, de cabeleireira, fazendo com que sua casa se torne verdadeiro salão de beleza, no qual possa atender às esposas dos oficiais. Enquanto isso, Gregory, na cadeia, orienta o encontro de Nelson e Winnie Mandela (Faith Ndukwana), que conversam separados por grades. Inadvertidamente, porém, Winnie conta a Nelson que, apesar de todo sofrimento pela ausência dele, o filho se sentia feliz, alegre, por haver adquirido seu primeiro carro.

Sabedor disso, Gregory dá conhecimento ao serviço secreto e, dias depois, recebe a missão de transmitir a Mandela o comunicado da morte do filho ocorrida num “desastre” de automóvel. Por um recado oculto num cartão postal enviado a um amigo de Mandela prestes a deixar a cadeia, Gregory fica sabendo ainda que companheiros o esperariam, para saudá-lo, num determinado ponto da Cidade do Cabo. Ele repassa, da mesma forma, a informação e, pelo noticiário da imprensa, dias depois, toma conhecimento de que todos foram executados.

A autoridade moral de Mandela, porém, se impõe. Suas palavras significam algo mais do que Gregory estava acostumado a ouvir em seu meio. Em pouco tempo, ele adere à causa de Mandela, ajudando-o, primeiro, em seus contatos familiares e, depois, adotando procedimentos que, percebidos pelos oficiais, o colocam em choque com a corporação. Ele sofre ameaças, chega a ser espancado num bar e, a mulher perde suas clientes no salão de beleza. Então pede demissão, que não é aceita.

O major Pieter Jordaan (Patrick Lyster), a quem Gregory se reporta no serviço de inteligência, se empenha pessoalmente a fim de conseguir sua transferência para um cargo burocrático na Cidade do Cabo, também uma das capitais da África do Sul, o que acaba se concretizando. Haverá um momento, entretanto, em que o reencontro de Gregory com Mandela será inevitável. Nessa oportunidade, o soldado está convicto de que, sob pressão internacional, o regime do apartheid tem os dias contados. E sabe também que, atuando ao lado de Mandela, estará participando de um momento histórico importante na vida de seu país.

O ator Joseph Fiennes, intérprete do papel de Gregory, é, na verdade, o dono do filme. De menos holofotes sobre sua beleza física que o irmão Ralph, Joseph Fiennes, também de formação teatral, procura se destacar pelo rigor técnico que observa em suas composições desde que apareceu, pela primeira vez na tela, em Shakespeare Apaixonado (1998), de John Madden. Nessa sua recriação de Gregory – falecido em 2003 -, ele impressiona pelo tom de disciplina que soube imprimir à personagem. E o amadurecimento dela se torna perceptível não só pela maquiagem de envelhecimento, que se lhe aplicou ao corpo e à fisionomia, mas também por um processo de competente interiorização de suas novas convicções.

Também se destacam como intérpretes: Diane Kruger, no papel de Gloria Gregory, Patrick Lyster, como Major Pieter Jordaan e Faith Ndukwana, personificando a elegante Winnie Mandela. Já o ator Dennis Haysbert convence pouco como a personagem que dá título ao filme. Parece que lhe pesou no ombro a responsabilidade de interpretar o papel do grande líder. Se Haysbert fosse um pouco mais convincente, a cena, por exemplo, em que Gregory revela seus atos criminosos a Mandela poderia ser bem mais dramática e comovente do que é diante da pronta resposta do segundo: – Lembre-se de que você só agiu dessa forma porque estava no desempenho de sua missão!…
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
MANDELA – LUTA PELA LIBERDADE
GOODBYE BAFANA

Alemanha, França, Bélgica, África do Sul, Itália, Inglaterra, Luxemburgo/ 2007
Duração – 140 minutos
Direção – Billy August
Roteiro – Greg Latter, baseado em livro de Bob Graham e James Gregory
Produção – Ilann Girard, Andro Steinborn Jean-Luc Van Damme e David Wicht
Fotografia – Robert Fraisse
Música – Dario Marianelli
Edição – Hervé Schneid

Elenco – Joseph Fiennes (James Gregory), Dennis Heysbert (Nelson Mandela), Diane Kruger (Gloria Gregory), Shiloh Henderson (Brett Gregory), Patrick Lyster (Major Pieter Jordaan), Faith Ndukwana (Winnie Mandela), Mehboob Bawa (Ahmed Kathrada)

2 COMMENTS

  1. como é que vocês fazem um livro dizem o nome dos autores do livro,e não dizem o próprio nome do livro?
    Ja é burrice né?
    pare e pense.Desculpem mas vocês são very retarded

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