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Crítica do filme “Fay Grim”

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(Publicado originalmente em Qua, 01 de Outubro de 2008 21:00)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Hal Hartley, um dos mais talentosos cineastas do chamado “cinema independente” dos EUA, realiza, em Fay Grim, uma comédia, de fino humor, mas de coloração política, em que satiriza os filmes de espionagem. Ele persegue, até as últimas conseqüências, o preceito, observado em meio aos espiões, de que se deve dar importância a tudo porque tudo pode e deve ser decifrado.

Hal Hartley, um dos mais talentosos cineastas do chamado “cinema independente” dos EUA, realiza, em Fay Grim, uma comédia, de fino humor, mas de coloração política, em que satiriza os filmes de espionagem. Ele persegue, até as últimas conseqüências, o preceito, observado em meio aos espiões, de que se deve dar importância a tudo porque tudo pode e deve ser decifrado.

Trata-se da continuação de uma comédia anterior, As Confissões de Henry Fool, de 1997, que assegurou ao seu realizador, Hartley, merecido lugar de destaque entre os nomes mais expressivos do cinema alternativo, como Steve Sodeberg e Jim Jamursch. Hartley é diretor, roteirista, editor e autor da trilha sonoral, de pontuação tão marcante que parece ser personagem.

Em termos de linguagem, Hartley continua neogodardiano, jogando mais com os diálogos. Ou lhes dando maior espaçamento. Mas ele usa quase de forma exclusiva, nesse filme, as tomadas pelo chamado ângulo oblíquo (ou alemão), que dá sentido de mais amplidão à fotografia ou a torna mais criativa. Observem-se, por exemplo, as cenas de aeroporto e a da saída das personagens do Ministério do Interior da França, em Paris.

A história é a de Fay Grim (Parker Posey), mãe solteira, do Queens, em Nova York. Ela está preocupada com os rumos que vem tomando a educação do filho, Ned Grim (Liam Aiken), de 14 anos. Fay acredita que o desaparecimento do pai, Henry Fool (Thomas Jay Ryan), lixeiro e escritor de contos pornográficos de baixa qualidade, após cometer um assassínio, pode influenciar o filho a se tornar também um marginal.

Para Fay, o ideal seria se seu irmão Simon Grim (James Urbanak), poeta de prestígio, deixasse a cadeia, onde se encontra por haver auxiliado a fuga de Fool, a fim de ajudá-la na educação de Ned. Este, por sua vez, acaba de ser expulso da escola por ter mostrado aos colegas um brinquedo (do tipo caleidoscópio), com imagens pornográficas.

Ao voltar a casa, Fay fica surpresa pela presença, no local, de dois agentes da CIA, Carl Fog (Leo Fitzpatrick) e Fulbright (Jeff Goldblum), que a aguardavam. Um deles, Fulbright, diz que cadernos manuscritos deixados por Fool, em poder do governo francês, continham segredos de Estado codificados. Só Fay, conforme acrescenta, poderia recebê-los de volta das mãos das autoridades da França.

Fay concorda, sob o olhar interessado do agente Fog, em ir a Paris, desde que a CIA liberte seu irmão, ainda sem ter tempo para sair na condicional, a fim de cuidar de Ned. Ao ser solto, porém, Simon verifica que, por trás das orgias mostradas no brinquedo de Ned, havia uma inscrição, em idioma desconhecido.

Simon convoca especialistas, entre eles, um padre (D.J Mendel) e um rabino (J. E. Heys), para verificarem o que diz a tal mensagem. Mas é um terceiro, de origem muçulmana, quem faz a tradução do texto em sentido literal. O que Simon observa é que o conteúdo do escrito coincide com o que diz a primeira frase dos cadernos de Fool, da qual tem ele precisa lembrança.

Atarantada, mais do que nunca, porém, bonita e elegante, Fay, sem poder compreender por que a civilização necessita do sórdido jogo da espionagem, viaja para a França, sentada, no avião, ao lado de quem ela considera um pancadão, André (Harold Schrott). Deixa-se então encantar pelo tal belo homem, sem poder supor que ele também está interessado em obter os cadernos manuscritos de Fool. Assim, quanto mais Fay avança em busca dos tais cadernos, mais compreende que jamais soubera nada sobre a vida que levava o ex-amante, pai de seu filho.

Por sua vez o espectador percebe aos poucos que o perfil que se vai desenhando de Fool, pelos extraordinários comentários que se ouvem dele, cada vez mais o aproximam, em semelhança de atividade, de Robert Baert, ex-agente da CIA, protagonista de Syriana, de Stephen Gaghen, um dos melhores filmes políticos americanos dos últimos tempos, que tem também citadas algumas seqüências no filme de Hartley.
Os atores, quase todos atuantes em outras películas de Hartley, apresentam, no conjunto, trabalho primoroso de interpretação. Mas é evidente que Parker Posey, musa do cinema alternativo, se destaca entre os demais. Está soberba. Pode-se dizer que ela é a alma do filme. Entre os homens, que constituem a maioria do elenco, deve-se ressaltar, por uma particularidade, o trabalho de Jeff Goldblum, que, como agente Fulbright, sustenta diálogos na exata precisão godardiana, que lhe exigiu a direção.

FICHA TÉCNICA

FAY GRIM
FAY GRIM
EUA / Alemanha / 2006
Duração – 118 minutos
Direção – Hal Hartley
Roteiro – Hal Hartley
Produção – Julien Berlan, Hal Hartley, Ted Hope e Mark Cuban
Fotografia –Sarah Cawley
Música Original – Hal Hartley
Edição – Hal Hartley

Elenco – Parker Posey (Fay Grim), James Urbanak (Simon Grim), Jeff Goldlum (Agente Fulbright), Leo Fritzpatrick (Carl Fog),Liam Aiken (Ned Grim), D.J. Mendel (Padre), Harold Schrott (André), J.E. Hayes (Herzog), Thomas Jay Ryan (Henry Fool).

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