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Crítica do filme “O Visitante”

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(Publicado originalemnete em Seg, 13 de Abril de 2009 20:26)

Por Reynaldo Domingos Ferreira
Veja aqui o trailer

Mesmo tendo as excelentes interpretações de Richard Jenkins – indicado ao Oscar – e da atriz palestino-israelense Hiam Abbass, o filme O Visitante, de Thomas McCarthy, convence pouco ao abordar a questão do envolvimento emocional de um professor universitário americano com imigrantes ilegais submetidos ao humilhante tratamento que lhes é imposto, nos EUA, após os atos terroristas de 11 de setembro de 2001.

McCarthy, responsável também pelo argumento, faz relato linear, morno e previsível, sem apuro de linguagem, da entediada e solitária  vida, em Connecticut, do professor de economia Walter Vale (Richard Jenkins), depois da morte de sua esposa e da mudança do filho para Londres.
O roteiro de McCarthy, escrito como se fora enganoso conto de fadas, traz implícita a repetitiva advertência aos que pretendam eventualmente ir para os EUA, à procura de trabalho, de que lá a lei é rigorosa contra os imigrantes não-documentados. E  de que seus reflexos podem atingir também aos cidadãos americanos que pretendam com eles colaborar.

O primeiro plano, que mostra Vale olhando a rua pela vidraça, ao lado da porta de entrada de sua casa, gera a expectativa da chegada de alguém. Isso se confirma, quando o protagonista se afasta para o interior da sala e a câmara de Oliver Bokelberg, num movimento, focaliza, do interior, a figura de uma senhora, Bárbara (Marian Seldes), batendo na porta.

Bárbara entra e vai direto ao piano tentar ensinar Vale a tocar o instrumento, do que, entretanto, acaba logo desistindo ao perceber que, além da falta de talento dele para a música, a rigidez dos seus dedos, devido à idade, não o ajuda mais a prosseguir no estudo: – Se o senhor quiser vender o piano, eu sou interessada em comprá-lo! – ela afirma e, se despede.

Essa é sem dúvida a sequência mais bem elaborada do filme, como também a mais sugestiva. Ela  exprime a intenção de Vale – só notada pelo espectador, porém, um pouco mais tarde – de tentar recuperar o passado, pois sua mulher fora uma exímia pianista-concertista, que deixara diversas gravações de peças importantes de música erudita.

Vale é então designado pela faculdade para ir ler num congresso, em Nova York, um estudo sobre o desenvolvimento de países emergentes no mundo globalizado – bem de acordo, portanto, com o verdadeiro, mas escuso objetivo do roteiro -, trabalho elaborado por uma sua colega impossibilitada, entretanto, de viajar.

Mas qual não é a surpresa do desiludido professor Vale, quando, ao chegar ao apartamento que mantém em Manhattan, encontra-o ocupado de forma inexplicável por um casal de imigrantes ilegais: um percussionista sírio, Tarek Khalil (Haaz Sleiman), e a sua companheira senegalesa Zanaib (Danai Gurira).

Superado o conflito em que as duas partes naturalmente se empenham, Vale, sem rumo a seguir na vida, se deixa envolver por um improvável sentimento de paternidade em relação ao vibrante músico Tarek, o que o leva, solidário, a convidá-lo a permanecer com a namorada no apartamento.
E não satisfeito com isso, Vale se torna aluno de percussão de Tarek e passa a acompanhá-lo nas apresentações que ele e outros amigos imigrantes fazem no Central Park. Tudo vai acontecendo normalmente até que, certo dia, Tarek é preso no metrô e, a partir de então, Vale se desdobra para resolver a situação do amigo, contratando até mesmo um advogado especialista em questões de imigração.

Para fazer companhia a Vale, chega Mouna Khalil (Hiam Abbass), mãe de Tarek, vinda do interior, preocupada com a situação do filho naturalmente, mas interessada também, como parece óbvio, em conhecer a Broadway.  Então, o professor, muito solícito, compra ingressos para ambos verem O Fantasma da Ópera e, como parte integrante do programa, depois do teatro, ele leva Mouna para jantar num restaurante, etc, etc.

O filme só não se torna mais prosaico ou de pouco interesse do ponto de vista dramático – embora tenha ganhado o grande prêmio do Festival de Deauville, na França – porque tem dois magníficos intérpretes: Richard Jenkins (Queime Depois de Ler, dos Irmãos Cohen) e Hiam Abbass (Lemon Tree, de Eran Riklis). Os dois atores dão vida própria às personagens apenas esboçadas ao que parece no roteiro.

No caso de Jenkins, em especial, é notável como ele mostra a maneira de Vale  encarar a vida. Parece que a personagem sente a solidão, em que vive, mas isso em  momento algum a perturba, a abate. Nada lhe afeta o ânimo, com certeza. Isso não ocorre nem mesmo nos momentos finais, no aeroporto, quando Vale se despede de Mouna.

Jenkins, famoso também por sua interpretação na série televisiva A Sete Palmos, da HBO, deixa então transparecer, pela agudeza do olhar, que a luta de Vale, ao ajudar aos imigrantes sem documentos, que o atingira emocionalmente, não o deixara, contudo, desanimado. Pelo contrário. Há um ligeiro ar de satisfação estampado em sua face.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
O VISITANTE
THE VISITOR
EUA/2008
Duração – 103 minutos
Direção – Thomas McCarthy
Roteiro – Thomas McCarthy
Produção – Omar Amanat, Michael London e Patty Long
Fotografia – Oliver Bokelberg
Música Original – Jan A. P. Kaczmark
Edição – Tom McArdle
Elenco – Richard Jenkins ( Walter Vale), Hiam Abbass (Mouna Khalil), Haaz Sleiman (Tarek Khalil), Danai Gurira (Zanaib), Marian Seldes (Bárbara), Richard Kind (Jacob).

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