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Vídeoentrevista: A Feira do Livro da Venezuela

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Vídeoentrevista: A Feira do Livro da Venezuela

(Veja abaixo artigo especial de Helena Iono)
(atualizado em 02/05/2012)
A Feira Internacional do Livro da Venezuela, realizada entre 9 e 18 deste, em Caracas, forma, juntamente com as de Cuba (ocorrida mês passado) e da Argentina (em abril), os três grandes acontecimentos culturais e políticos da América Latina. O Café na Política foi lá e aproveitou para sentir o novo momento que vive aquele país sob a revolução bolivariana e a situação peculiar criada com a doença de seu principal líder, o presidente Hugo Chávez. Nesta troca de impressões que tivemos – eu, FC Leite Filho, e Helena Iono, produtora da TV Cidade Livre de Brasília – procuramos mostrar o que sentimos ao ver todo um povo engajado – crianças estudantes, intelectuais, cadetes e oficias das força armadas, que lá conviviam em perfeita harmonia e respeito, além de autoridades e representantes de vários países, na maioria do subcontinente.

2a. parte

Desde os computadores, com internet, fornecidos à quase totalidade das crianças das escolas públicas não só da Venezuela, como do Uruguai o país homenageado, e da Argentina, às palestras e shows musicais, para não falar só dos livros, que eram baratíssimos, podemos constatar a marcha de um povo que segue firme na sua luta pela soberania e a integração com os países irmãos.

Venezuela: transformação na cultura e educação
Artigo de Helena Iono
O processo revolucionário na Venezuela brinda aos povos da América Latina inúmeros exemplos de medidas transformadoras que estão sendo realizadas no plano sócio-econômico, das quais as culturais e educacionais merecem particular atenção. Participantes do stand internacional, “Edições Ciência, Cultura e Política”, e comunicadores sociais brasileiros , no âmbito da FILVEN-2012 (Feira Internacional do Livro em Caracas), puderam presenciar, entre 9 e 18 de março, este grande evento nacional, de estímulo à leitura e à elevação cultural do povo venezuelano, que se está operando a olhos vistos, através do Ministério do Poder Popular para a Cultura, sob a direção do presidente e revolucionário Hugo Chávez.

A 8ª. Feira Internacional do Livro na Venezuela é parte desta rede cultural de feiras de renome mundial desde Havana, Buenos Aires, Frankfurt e até Teerã. Cerca de 220 mil pessoas visitaram os quase 84 stands de expositores nacionais e internacionais, em busca da cultura, assistindo a variadas conferências de apresentação de livros e debates com escritores e intelectuais sobre temas que iam do literário ao político-social, do histórico ao contemporâneo, de Bolívar aos temas da guerra atual no Oriente Médio, à crise capitalista e a luta dos indignados na Europa, até as mesas sobre a integração latino-americana (Cuba, CELAC) e os temas candentes do terrorismo midiático. Sem contar, a mais variada produção de eventos artísticos, musicais, incluindo espaços especiais à educação e ao teatro infantil.

A FILVEN-2012 é uma espécie de ponta do iceberg cultural desta nova situação revolucionária que permitiu à Unesco qualificar a Venezuela do pós 1998 como país livre do analfabetismo (graças ao método cubano do “Yo si puedo”). A qualidade da Feira de Livro se baseia nesta nova estrutura educacional onde os vários projetos sociais, chamados “Missões” estão em pleno desenvolvimento: Missão Robinson (para o ensino primário), Missão Ribas (para o 2º. Grau) e Missão Sucre (curso superior para adultos da terceira-idade). Os jovens das camadas mais pobres foram brindados por uma Universidade Bolivariana, de extensão nacional, e cuja sede central em Caracas, funciona em uma sede da PDVSA nacionalizada; os pretendentes à carreira militar, pela UNEFA (Universidade Nacional das Forças Armadas), aprendem não só o manejo das armas, mas o da tecnologia satelitar e o da estratégia da defesa civil e da guerra pela soberania nacional.

Os efeitos de tais projetos educacionais levaram a Venezuela a ser o 3º país onde mais se lê na América Latina. Segundo cifras da CERLAC (Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe), entre 8.652 pessoas alfabetas, maiores de 13 anos de idade, em diferentes partes da Venezuela, 50,2% lêem livros, numa porcentagem superior ao Brasil, Colômbia, Peru e México; perdendo somente da Argentina (55%) e do Chile (51%). A análise realizada pelo CENAL (Centro Nacional do Livro da Venezuela) revela que nos estratos sociais mais baixos há uma maior porcentagem de leitores (38%), revertendo o protótipo dos grandes países capitalistas, onde cultura é patrimônio dos ricos.

Outro aspecto da revolução cultural bolivariana expresso na Feira de Livro é o papel do Estado que permite a acessibilidade do povo ao livro. O pavilhão do Ministério do Poder Popular para a Cultura, compreende 3 grandes editoras do Estado: “Editora Perro y La Rana”, “Monte Ávila Editores” e “Fundação Ayacucho”. Estas editoras, em produção coordenada com as outras instituições do estado, na outra ponta: a Imprensa Nacional, e a Distribuidora do Sul (que distribui os livros nas principais livrarias públicas do país), conseguem desta forma baratear enormemente os custos, sem a interferência do interesse comercial privado, permitindo estabelecer preços baixíssimos à população. Dentro do projeto de estímulo à leitura, as Feiras de livro já distribuiram, em anos anteriores, milhares de livros gratuitos ao povo: “Don Quixote de la Mancha” (Cervantes), “Os miseráveis” (Vitor Hugo), “Cartas de amor de Manuelita Saenz a Bolívar”, e este ano distribuíram 40 mil exemplares da “Vitória Estratégica” (Fidel Castro), além de “Ditadura Midiática na Venezuela” (Luis Britto García, o escritor homenageado desta Feira) e a “Violência Mediática” (Vicente Romano). Longas filas se fizeram por estas obras, escorrendo com entusiasmo, demonstrando alegria e interesse pela cultura.

A presença de conquistas e instrumentos comunicacionais e da mídia alternativa não podiam estar alheios a este grande festival cultural. O jornal gratuito da Prefeitura de Caracas, o “Ciudad Caracas” era distribuído diária e massivamente na feira, extrapolando sua tiragem normal de 125 mil exemplares (que cobre as estações de metrô e as principais praças da cidade), dando difusão aos eventos e à programação da feira de livro, convocando a cidadania. Da mesma forma, o jornal “Correio de Orinocco” (*), instrumento ideológico e tribuna de debate dos projetos da revolução bolivariana, foi distribuído grátis durante o evento. Duas emissoras de rádio públicas (Rádio Nacional e Rádio Alba Caracas), tinham seus respectivos stands, com microfone permanente aberto ao público participante da feira. (**)

Vale notar que o esforço pela integração latino-americana está presente nas edições do governo bolivariano: Jorge Amado, Paulo Coelho, Paulo Freire, Gilberto Freire (Casa Grande e Senzala), Euclides da Cunha (Os sertões). Sem contar que na Universidade Bolivariana, há uma Faculdade de ensino da língua portuguesa, com uma enorme procura. O sentido da integração está também presente no fato de, a cada ano, haver um país convidado de honra. Este ano coube ao Uruguai, com boa presença das obras do falecido Carlos Benedetti e de cantores revolucionárias como Daniel Viglietti. Outro acontecimento relevante para dimensionar o progresso cultural da Venezuela nos últimos anos é que durante os dias da FILVEN, o governo anunciou o projeto “Alma LLanera” que criará 275 orquestras de música tradicional no território nacional. Isso é parte do sistema público de orquestras infantis na Venezuela, criado pelo maestro e economista José Antonio Abreu, cuja meta é ter 1 milhão e meio de membros. Como parte desse projeto houve um dia de distribuição de 300 instrumentos musicais nos bairros pobres de Caracas. A idéia é além de estimular a formação de verdadeiros músicos infantis, superar os riscos de desajustes sociais e da sua inserção no mundo das drogas. Não é casual que a orquestra Filarmônica Juvenil Simón Bolívar, e seu jovem maestro Gustavo Dudamel têm êxito em Berlim e alcance mundial.

O projeto educacional, cultural na Venezuela, é um bom exemplo a seguir no Brasil. Não se justifica que sindicatos de professores e educadores não tenham ainda extrapolado sua pauta de reivindicações salariais, para um projeto social que acabe de vez com o analfabetismo neste país, berço dos ensinamentos de Paulo Freire. A presença na FILVEN de delegações militares, e marinheiros, nos debates e nas compras de livros, demonstram que na Venezuela a cultura não é só assunto de intelectuais, mas é um patrimônio social, dos trabalhadores, camponeses e soldados. Os partidos e sindicatos no Brasil devem abraçar um projeto mais amplo e transformador de nação livre e independente para que a educação e a cultura sejam um patrimônio de toda a sociedade. Não se deve olvidar o velho sábio e revolucionário cubano, José Marti: “somente um povo culto poderá ser um povo livre”.

Helena Iono
Edições Ciência Cultura e Política

(*) O preço deste jornal é 20 centavos de real. O novo salário mínimo (o maior da América Latina) a partir deste 1º. de maio será equivalente a 1.310,00 reais, incluindo vale alimentação. Considerando que o trabalhador ganha por lei 15 salários por ano, a média do salário mínimo é 1.637,00 reais.

(**) Esta mesma Feira de Livros torna-se itinerante a partir de meados de abril nas capitais de 23 Estados do país, finalizando o giro em fins de agosto de 2012.

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