Às 02:45 hs. desta madrugada (10/05/2012) morreu, em São Luis, sua terra natal, Neiva Moreira, um dos gigantes do nacionalismo brasileiro e latino-americano. Jornalista, deputado, ativista internacional, Neiva, que ia completar 95 anos em outubro, destacou-se no plano nacional como uma espécie de lugar-tenente de Leonel Brizola, a partir da defesa do regime constitucional do presidente João Goulart, em 1964.
Deputado pelo Maranhão, secretário-geral da Frente Parlamentar Nacionalista e repórter super bem informado (a revista O Cruzeiro foi um de seus veículos), Neiva percorreu o país contra o golpe que se avizinhava e levava quase diariamente a Jango as notícias conspirações militares, articuladas na maioria por generais de dentro e fora da caserna.
Foi cassado, preso e exilado, quando construiu uma militância internacional, sobretudo latina e africana, que ficou imortalizada em alguns de seus livros que popularizaram o nasserismo, o nacionalismo peruano do general Alvarado, precursor do chavismo, e nos seus Cadernos do Terceiro Mundo, inicialmente publicados no México.
No Uruguai, foi encarregado por Brizola de organizar a resistência, e, juntamente com Eduardo Galeano, revolucionou a imprensa participativa, através dos jornais La Época e La Marcha. A experiência não durou muito tempo, porque, a direita que armava outro golpe, deu-lhe 24 horas para abandonar o país, sob pena de ser assassinato. Na Argentina, que vivia uma suposta primavera com a volta de Perón, em 1973, também trabalhou ativamente, no jornalismo e na militância por uma América Latina soberana. Dali a menos de dois anos, também era “convidado” a retirar-se pela sinistra Tríplica A, do ex-ministro José López Rega. De lá, seguiu depois para a Bolívia e Peru, onde novos golpes eliminariam as frágeis experiências nacionalistas.
Sem ter para onde ir, Neiva que naquela altura estava casado com a jornalista Beatriz Bissio, então grávida da filha Micaela, partiu com ela para a África, onde também se encontrava seu sonho de autodeterminação, fixando-se inicialmente na Argélia, recém libertada do jugo francês por um regime de cunho nacionalista. Antes tinha ao Egito, onde entrevistou o presidente Gamal Abdel Nasser, o precursor dos movimentos libertários africanos e terceiromundistas, numa reportagem de página para o Jornal do Brasil. Fazia sua base a partir de Argel, para cobrir as guerras libertadoras de Angola, Moçambique e outras colônias europeias. Da África, partiu para o México, um dos poucos países latinos não atingidos pelas ditaduras patrocinadas pelos Estados Unidos.
A anistia de 1979 e o movimento de recuperação do trabalhismo liderado por Brizola, se articularia com Neiva, chamado para a reunião, em Lisboa, em junho daquele ano, e de onde sairia o PDT, partido que Neiva presidiu e foi seu líder na Câmara dos Deputados, em duas oportunidades.
Ele se reelegeria deputado, sempre por sua terra, o Maranhão, onde dizia que ia viver até o final de seus dias, como ex-deputado, assessor do governador Jackson Lago e, finalmente, como simples militante do PDT. Sempre vivendo modestamente e ultimamente casado com Vânia Souza, com quem teve uma serena convivência de 10 anos, Neiva vinha desenvolvendo intensa militância, inclusive com viagens ao interior, até o seu internamento no hospital há cerca de um mês, onde veio a falecer.
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Camarim
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Neiva Moreira
Por Riba Um
Talvez por ter nascido à beira do Rio Parnaíba e ser profundo conhecedor da dura realidade do Maranhão e do Piauí, José Guimarães Neiva Moreira tenha se transformado no incansável e respeitado defensor dos oprimidos. Motivações à parte, a verdade é que este novaiorquino-maranhense faz história. Candidato a aluno do Liceu Piauiense, primeiro entrou numa greve estudantil; depois na sala de aula, Neiva Moreira são dois: um jornalista e um político, embora prefira as lutas travadas no papel. O jornalista estreou em São Luís no jornal “A Pacotilha”, onde o político mostra a cara com a reportagem “São Luís Abandonada”, denunciando os maus tratos com a cidade e seu povo, o que lhe valeu quinze dias de prisão no Primeiro Distrito, na Rua da Palma. A prisão do jornalista vira notícia e o então ministro da justiça vem ao Maranhão com a missão de resgatá-lo da cadeia. Não sai sozinho. Consegue a liberdade para os seus cinqüenta companheiros de detenção, que abandonam a marginalidade e entram para a luta política, embalados pelas greves de fome e de sol, capitaneadas pelo ilustre companheiro de cela, que aproveitou o tempo, também, para ministrar um curso de política. A política surge definitiva logo depois no Jornal do Povo, que traz “Geração da Lama” como sua primeira reportagem.
Deputado Estadual e líder da bancada oposicionista na Assembléia Legislativa, Neiva Moreira foi um dos líderes da “Greve de 51” ou a “Batalha do Maranhão”, que paralisou a capital por seis meses, mobilizou todas as camadas sociais e se firmou como o principal movimento de massas do estado naquele século. Era o primeiro levante do povo contra a fraude. Eleito Deputado Federal, se destaca na capital do país e, exatamente por isso, foi um dos primeiros cassados pelo golpe militar de 64, juntamente com João Goulart, Miguel Arraes e Luís Carlos Prestes. Foram 15 anos de exílio entre a Bolívia, o Uruguai, a Argentina, o Peru e o México. O seu Jornal do Povo teve a circulação proibida e a sede incendiada. Era o jornalista, também, sendo punido. Mas não se calou. Como editor da revista “Cadernos do Terceiro Mundo” percorreu e denunciou as mazelas de outras terras que também lutavam pela liberdade. Ainda no exílio, participou do Encontro de Lisboa, marco inicial do hoje Partido Democrático Trabalhista, o PDT. Anistiado pela ultima vez, volta ao Brasil e assume uma vaga na Câmara Federal. Presidiu o Diretório Municipal do partido, é membro ativo do Diretório Estadual e foi vice-presidente nacional. Crítico da política econômica nacional, do modelo de privatização imposto e da interferência do FMI até mesmo no valor do minguado salário mínimo, sempre demonstrou otimismo com relação ao amanhã. Aposentado como Deputado Federal, divide o tempo hoje entre São Luís e São Vicente de Férrer, na Baixada Maranhense, terra-berço de sua companheira, Vânia Maria Serrão Sousa. Do alto de seus 93 anos declina: “O Maranhão e o Brasil vivem uma revolução. A revolução que vai brotar dias melhores e onde o homem não fique à beira da estrada vendo o trem passar, mas ingressará nele rumo ao futuro. Cidadão do Mundo, Neiva Moreira acredita num Maranhão diferente e melhor.
Perfil
Nome: José Guimarães Neiva Moreira
Onde nasceu: Nova Iorque, no Maranhão
Quando? 10 de outubro de 1917
Profissão: Jornalista e no Deputado Federal (aposentado)
Família: É peça fundamental equilíbrio da sociedade
Quem realmente conta? Aquele que tem por meta o bem estar do povo
O que não conta? Os egoístas. Os que só pensam em enriquecer. Os que não reconhecem que os excluídos são a grande realidade do Brasil
O que lhe estimula? A luta
Música: “De Teresina a São Luís”, de João do Vale
Livro: “Os Sertões”, de Euclides da Cunha
Mulher: Vânia Maria, zelosa companheira
Homem: Podem ser dois? Pois bem, Lênin e o Papa João XXIII. E também aqueles tão simples que muitas das vezes sequer têm o registro de nascimento
Filme: “A Batalha de Argel”
Cidade para morar: São Luís
Cidade para trabalhar: Embora com a chamada burocracia emperrada, Brasília é uma referência de trabalho em minha vida. Participei da mudança da capital federal do Rio de Janeiro para lá, tenho vários mandatos e muita participação
Comida preferida: Agora eu ficaria muito satisfeito com a paçoca feita pela Sandra Torres. É de esquecer qualquer regime (regime alimentar…)
Bebida preferida: Cajuína
O que lhe brocha? Traição
Se pudesse escolher ser outra pessoa, escolheria ser: Um daqueles desbravadores do início de nossa história
É com grande pesar que recebo a notícia do falecimento do querido e combatente Neiva, homem feito de força, inteligencia E grande amor pela humanidade. Devo a Neiva e sua equipe dos Cadernos Terceiro Mundo, o desperta pela militância internacionalista proletária. Neiva Moreira, Sempre Presente!
Valente Neiva Moreira, mestre do jornalismo libertário. Passei pela redação do Cadernos do Terceiro Mundo, onde pude vivenciar grandes lições de coragem e fé nas lutas sociais.