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Crítica do filme “Austrália”

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(Publicado originalmente em Seg, 26 de Janeiro de 2009 10:13)

Por Reynaldo Domingos Ferreira
 
A proposta do cineasta Baz Luhrmann, em Austrália, é a de reabilitar a narrativa épica dos clássicos, mesmo os do western, para contar a movimentada história de uma inglesa que, além de recuperar as terras que lhe deixou o marido, na região do outback australiano, com sua atitude viril de transportar quase duas mil cabeças de gado para o Norte do país, restabeleceu a competição no mercado local de carne às vésperas da eclosão da II Guerra Mundial.
Por compreender que cinema é uma arte popular, Luhrmann (Moulin Rouge) se mostra determinado e coberto de razão, a meu ver, ao pretender salvar o épico em nossos tempos – como encarecia por sinal Jorge Luis Borges, grande admirador do gênero do faroeste -, quando o teatro (à exceção da ópera) é, lamentavelmente, cada vez mais minimalista e pouco generoso para com o público.
O envolvente estilo de narrar do cineasta australiano por isso se compara  ao de David Lean em Lawrence da Arábia. Mas ele faz citações e calca seu trabalho em outros épicos como Rio Vermelho, de Howard Hawks, E O Vento Levou, de Victor Fleming, Era Uma Vez no Oeste, de Sergio Leone, Entre Dois Amores, de Sydney Pollack e principalmente O Mágico de Oz, também de Victor Fleming,  King Vidor e Richard Thorpe.
É do último a música Over the Rainbow, que se torna tema do filme, compondo a trilha sonora de David Hirchfelder, de muito bom gosto, em que há espaço  para Begin the Beguine, de Cole Porter e  Aquarela do Brasil, de Ari Barroso. A fotografia de Mandy Walker – da qual se serve Luhrmannn para extrair belos panorâmicos sobre a vastidão do território australiano – é outro grande trunfo da película, produzida com o nítido objetivo de promover o turismo na terra dos cangurus.
O argumento, de Luhrmann e Stuart Beattie, apesar das previsibilidades e dos lugares comuns, tem o mérito de dar destaque à cultura dos aborígenes – que cantam quando se sentem esperançosos de alcançar algum objetivo –  ante a terrível intolerância racial vigente na Austrália, pois o narrador da história é Nullah (Brandon Walters), um garoto mestiço, consciente de ter poderes especiais de magia, como o avô, King George (David Gulpilil), uma espécie de pajé dos nossos indígenas.
Nullah conta que, em 1939, quando a Senhora Patroa – a fútil aristocrata Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman) – chegou à sua propriedade de Faraway Downs, encontrou o marido morto em circunstâncias não esclarecidas. Depois de enterrá-lo, ela ficou sabendo que parte do gado da fazenda fora desviada para o rebanho de King Carney (Brian Brown), maior criador do país, futuro sogro de Neil Fletcher (David Wenham), feitor de sua propriedade, que agia como verdadeiro tirano contra os nativos, seus empregados.
Na época, crianças mestiças, como Nullah, eram procuradas pela polícia a fim de serem separadas de suas mães e entregues a missões religiosas, conforme determinação legal que vigorou até 1975. Apegando-se a Nullah e vendo como ele era tratado por Fletcher, a sra. Ashley demite o feitor. Contrata, em seguida, o capataz Dover (Hugh Jackman) para ajudá-la não só a administrar a fazenda, como também a transportar – com a companhia ainda de Kipling Flynn (Jack Thompson), antigo ajudante do marido – uma partilha de gado até Darwin, onde espera concorrer com Carney no fornecimento de carne ao Exército.
Embora esteja, como sempre esteve, muito bonita, Nicole Kidman não consegue convencer no papel de uma lady britânica. A personagem estaria a exigir, a meu ver, uma Kristin Scott Thomas (O Paciente Inglês), se o objetivo da produção – a mais cara jamais feita na Austrália – não fosse o de prestigiar a prata da casa em termos de aproveitamento de técnicos e de atores, o que é  bom. E Kidman exerce, sem dúvida, um tipo de liderança entre a classe artística australiana. Além disso, já havia filmado antes sob a direção de Luhrmann e contracenado com o ator Hugh Jackman, com quem demonstra ter afinidade e sintonia.
Jackman, por sua vez, se esforça bastante para expressar a ingenuidade característica do homem rude e primitivo do outback, mas nem sempre consegue seu objetivo. Sua presença em cena, contudo, incendeia os olhares femininos. E Luhrmann explora isso ao máximo nas seqüências em que o apresentador da cerimônia do Oscar deste ano faz quase um strip-tease no meio da floresta e executa uma verdadeira coreografia nas relações de sexo com Kidman.
Mas em termos de interpretação também merecem ser observados os bons trabalhos de:  Brandon Walters, muito talentoso como Nullah; David Gulpilil, como King George; Brian Brown, empregando técnica teatral no seu King Carney, assim como Jack Thompson no seu bêbado Kipling Flynn e,  principalmente, David Wenham, no papel de Neil Fletcher, que promete ser em breve outro ator australiano de projeção internacional. Pois ele encarna Fletcher com  competência e discrição, não deixando que a personagem seja vista, em momento algum, como qualquer vilão de novela. Afinal, como reconhece Fletcher, orgulho não é poder.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
FICHA TÉCNICA
AUSTRALIA
Austrália (2008)
Duração –  166 minutos
Direção – Baz Luhrmann
Roteiro – Baz Luhrmann , Ronald Harwood, Stuart Beattie e Richard Flanagan
Produção – G. Mac Brown, Katherine Knapman e Baz Luhrmann
Fotografia – Mandy Walker
Trilha Sonora – David Hirchfelder
Edição – Dody Dom
Elenco – Nicole Kidman (Lady Sarah Ashley), Hugh Jackman (Capataz Dover), David Wenham (Neil Fletcher), Brandon Walter (Nullah), Brian Brown (King Carney), David Gulpilil, Jack Thompson (Kipling Flynn)

1 COMMENT

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