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Já não somos tão subservientes aos EUA e Europa

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(Publicado orginalmente em Ter, 16 de Dezembro de 2008 11:52)

Por FC Leite Filho

O grito de independência partiu do Brasil, país historicamente isolacionista mas que agora se integra ao espírito de integração, desenvolvimento e soberania do subcontinente em relação às grandes potências.

No discurso com que encerrou a Cúpula da América Latina e Caribe, CALC,  realizada no estado brasileiro da Bahia (Costa de Sauípe), nos dias 16 e 17 últimos, o presidente Lula da Silva afirmou: “(nossos) países não podem ser subservientes aos Estados Unidos. É preciso ter boas relações com eles, mas a subserviência não ajuda ninguém a crescer”. Dos 33 países membros da CALC só não compareceram a Colômbia e o Peru, por causa de seus “laços fraternos” com os EUA. Não obstante, o México, aliado mais “carnal”, foi um dos partícipes mais atuantes do encontro.

Outra intervenção marcante foi a da presidente argentina, o segundo peso-pesado do continente, que criticou o “grupo de países que decide pelo resto do mundo”, e pediu uma reformulação da estrutura financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos organismos da Organização das Nações Unidas (ONU)”.

“O mais grave” – continuou a presidente – “é que há regras que não compartilhamos e países que são obrigados a cumpri-las. E países que nem sequer as cumprem, porque elas só devem ser respeitadas pelos fracos. Elas nunca foram amplicadas ao primeiro país do mundo. Isso que é intolerável”, disse. “Se você não cumpre as regras impostas é condenado publicamente, taxado de populista, deficitário, etc. etc.”.

A CALC, terminou com um saldo de decisões terminantes visando  à sua autonomia sobretudo no fortalecimento do Estado como principal agente do desenvolvimento e no que se relaciona à crise financeira internacional, marcando assim seu distanciamento das políticas de Washington.

Este encontro histórico ocorreu a um mês da posse do novo presidente americana, Barack Obama, o primeiro negro a chegar à Casa Branca e quatro meses do primeiro encontro previsto entre Obama e líderes latino-americanos na Cúpula das Américas, em Trinidad Tobago, na qual Obama estará presente. Cuba, porém, terá sua participação vetada, a menos que o novo presidente ensaie algum gesto de grandeza em direção à Ilha de Fidel Castro.

A primeira e mais simbólica medida foi a reinserção de Cuba no Grupo do Rio de Janeiro, organismo destinado a administrar crises regionais. Partiu igualmente do presidente brasileiro, o mais tímido do grupo da pesada pela integração (Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa e Daniel Ortega), a maior condenação ao isolamento de Cuba, determinado pelos americanos. Disse Lula:

“Mesmo que nenhum resultado tivesse sido alcançado dessa reunião, valeu apena pelo ingresso de Cuba no Grupo do Rio. Não há justificativa política nem psicológica para que o embargo (econômico, importo pelos Estados Unidos desde 1960) seja mantido”. Lula ainda pediu a recomposição das relações políticas dos EUA com a Venezuela”

Houve também a determinação para criar o Conselho de Defesa para dirimir internamente os conflitos, para não ter de recorrer a potências estrangeiras e o compromisso dos chfes de Estado em tratar a crise global  visando ao interesse interno e não forâneo.

A posição brasileira, que tem um grande peso devido ao tamanho da economia do território do subcontinente havia sido antecipada em um dia pelo chanceler Celso Amorim. Ele expressou alguns pontos de vista que deveriam ser doravante fixados: Insistiu que a América Latina atingiu maturidade suficiente para lidar com seus problemas, sem precisar de tutela, e sustentou que os EUA precisam ter consciência dessa nova realidade

“Acho que eles (os EUA) não querem, não é desejável e não é possível (a reconstrução da hegemonia americana na América Latina)”, disse Amorim. “Queremos ter uma boa relação com os EUA. Mas é bom que eles vejam que temos mecanismos de integração e desenvolvimento que não dependem de tutela externa.”

O encontro terminou com uma grande diálogo de vizinhos que antes nunca quase conversavam, como sublinhou Lula, mas que agora prometem caminhar unidos em direção ao objetivo comum de tornar-se um pólo mais respeitado de poder. É verdade que algumas questões foram empurradas pela barriga, como a eleição do secretário-geral da Unasul, o novo organismo que congrega os 12 países da AL. O consenso em torno do ex-presidente Nestor Kirchner esbarrou na resistência do Uruguai, ainda por causa da crise das papeleiras, que envolve internamente aquels dois países do Cone Sul. Um novo adiamento, desta vez, para abril, posa talvez contornar o impasse. No geral, porém, a CALC significou um grande avanço para nós antes enjeitados latinos, apesar da subserviência agora aparentemente superada.

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