De Lucas Salgado
(do Site Adoro Cinema)
Tendo em visto o grande número de documentários musicais lançados anualmente no Brasil, até que levou muito tempo para Antônio Carlos Jobim ter sua vida contada nas telonas. Felizmente para os fãs do músico, um filme só não foi suficiente para retratar sua história e o cultuado Nelson Pereira dos Santos acabou realizando dois documentários.
Lançado em 2012, A Música Segundo Tom Jobim revolucionou o gênero ao utilizar apenas imagens de arquivo de números musicais, deixando de fora qualquer depoimento. Agora, o cineasta foi um pouco mais conservador. Em A Luz do Tom, aborda a vida do artista através de histórias contadas por três importantes mulheres de sua história: a irmã Helena Jobim e suas duas esposas, Thereza e Ana.
O novo filme não tem o brilhantismo do anterior, sendo mais quadrado e, por incrível que pareça, menos abrangente. Ainda assim, trata-se de uma bela obra cinematográfica, que irá agradar muito aos fãs de Tom e da música brasileira.
Se A Música Segundo Tom Jobim lembrava que “a linguagem musical era o bastante”, A Luz do Tom prefere usar palavras, embora inclua canções do artista na trilha sonora que embala a produção. O filme acaba pecando pela falta de harmonia nos depoimentos. Helena fala bem sobre a infância de Tom, enquanto que Thereza passa detalhes sobre sua juventude.
Infelizmente, a parte final, com Ana Jobim, não consegue cumprir o objetivo de tratar do último terço da vida dele. Ao contrário das duas outras entrevistadas, Ana não fala sobre Tom, mas sim sobre a relação entre ele e ela. É claro que tais passagens são importantes em sua vida, e também foram na do artista, mas é clara a mudança de foco nos depoimentos.
Das três, quem acaba conquistando o público é Thereza, primeira esposa de Jobim. Ela lembra com carinho os momentos que passaram juntos e oferece ao espectador passagens incríveis sobre a trajetória do ex-marido, como quando lembra da vez que Frank Sinatra ligou para um bar carioca procurando por Tom Jobim. Outro momento marcante é quando ela conta como o marido cansado após um dia duro pegou seu violão e começou a falar palavras aleatórias. Ali nasceu “Águas de Março”.
As falas de Helena também são interessantes, mas Pereira dos Santos comete o erro de, em uma curta passagem, colocá-la respondendo perguntas de terceiros sobre o irmão. A cena é artificial e completamente deslocada do restante da obra.
A Luz do Tom conta com uma boa direção de fotografia, reforçada pela opção de rodar o filme em belos cenários, como uma praia e Florianópolis, um jardim em Petrópolis e no Jardim Botânico do Rio. Oferece ainda uma bela alegoria sobre o voo do urubu. Sempre que encontrava um diretor de cinema, Tom perguntava se ele sabia filmar um urubu voando. Aqui, Nelson Pereira dos Santos mostra que sabe.
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Antes foi A Música segundo Tom Jobim
Por Rubens Lima Jr (do site do Jornal do Brasil)
O Documentário A Música segundo Tom Jobim foge a qualquer conceito do que seria um documentário tradicional: o uso de imagens se intercalando com palavras. Nesse caso, o diretor Nélson Pereira dos Santos num trabalho que começou em 2008, deixou de lado a palavra e valorizou somente a obra musical do grande compositor falecido em 1994.
São 42 músicas em quase 90 minutos de filme que revisita grande parte da obra do que é hoje aclamado como o maior compositor que o Brasil já teve. Cantores como Elis Regina, Gal Costa, Henri Salvador, Frank Sinatra, Chico Buarque, Caetano Veloso, Sammy Davis Jr, Ella Fitzgerald e tantos outros desfilam em clássicos como Garota de Ipanema, Desafinado, Sabiá, Águas de março, Anos Dourados e muito material musical contendo também imagens maravilhosas do Rio de Janeiro dos anos 50 e 60.
Alguns podem creditar o documentário como um grande clip, mas a habilidade do grande diretor de Vidas secas e Memórias do cárcere foi de dar nuances tão sutis emocionais que faz com que o filme se transforme numa grande sinfonia que dá pena quando acaba. É pura catarse. Importante também é destacar o trabalho de garimpo da co-diretora Dora Jobim e de Antônio Venâncio procurando clipes em parte conseguidos nos acervos que o Instituto Tom Jobim possui.
Essa ousada e brilhante forma de se fazer esse documentário é a grande sacada do filme que tem tantas cenas musicais antológicas que é difícil destacar alguma, mas no quesito idolatria tem uma Judy Garland em fim de carreira cantando num programa de televisão americanoInsensatez. Fica também a dica do próximo documentário de Nélson Pereira dos Santos: A Luz do Tom, dessa vez falado, com depoimentos de três mulheres que conviveram intimamente com Tom, suas duas esposas, Ana e Thereza, e sua irmã Helena.