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Conheça a violência da direita na Venezuela

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Os sete mortos, entre os quais um policial, 61 feridos e 135 detidos nos distúrbios de ontem da Venezuela até que podem passar, neste mundo conturbado, como mais uma cifra da violência urbana. Mas se aproximarmos a lupa sobre essas mortes e atentados nas ruas de Caracas e outras cidades do interior, poderemos entender o que está ocorrendo no país vizinho e irmão. Como denunciou a procuradora geral Luisa Ortega, “entre os feridos, tem uma pessoa queimada viva. Pretendiam matá-la, queimando-a, incendiando-a viva. Vejam os níveis da agressividade”.

Outro dado cruel deste cenário são os alvos das hordas que protestam contra a vitória de Nicolas Maduro: os CDIs (Centros Médicos de Diagnósticos Integral), modernos e amplos hospitais populares construídos por Chávez, os últimos dos quais vinham sendo inaugurados por Maduro; e os módulos de saúde, pequenos blocos de concreto, com um consultório em baixo e, em cima, a casa do doutor, geralmente cubano, que dão assistência direta às famílias em cada bairro pobre. Tanto os CDIs como os módulos, são responsáveis pela assistência médica e universal e gratuita, que o governo vem garantindo a uma população, cuja maioria nunca havia visto um médico na vida.  Outros objetivos dos desordeiros são as chamadas urbanizações, complexos residenciais populares, num total de 300 mil casas e apartamentos imobiliados, que o governo passou aos desabrigados das enchentes e tempestades. Os assaltantes chegam em motos, fazem ameaças e depois ateiam fogo. A residência da presidenta do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, sedes regionais do CNE, a Telesur, a rede de televisão multi-estatal e a VTV, outra rede estatal, também sofreram ameaças e assédios, que puderam ser registrados em foto e vídeo.

Estes atos ainda são menos graves se comparados aos assassinatos, atentados e distúrbios ocorridos no bojo do golpe de abril de 2002, que sequestrou e depôs o presidente, por 48 horas, e do chamado paro petrolero, um lockout promovido pelos empresários, que privaram o país de escolas, bancos, supermercados, gasolina e fizeram o PIB retroceder em mais de 20%, durante 63 dias, entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2003.

Para prevenir a repetição desses incidentes, o presidente interino Nicolás Maduro proibiu a manifestação convocada para hoje, quarta, 17/4, pelo candidato derrotado na eleição de 14 de abril 2013: “Eles querem chamar o povo para depois assassinar a sua própria gente”, justificou Maduro, ao lembrar o massacre da Ponte Laguno, quando 19 pessoas morreram e outras 70 ficaram feridas, atingidas por disparos de policiais ligados à oposição e que acabaram dando argumento para justificar a deposição do presidente naquele 11 de abril de 2002. Capriles recuou e acatou a proibição, instruindo seus partidários a recolher-se, sob o argumento de que o governo estava querendo produzir mortos para justificar a continuidade dos chavistas no poder.

Henrique Capriles tinha antes chamado seus partidários “a descarregar toda a sua raiva” nos protestos contra o que ele considera fraude eleitoral, num processo considerado justo pelos organismos internacionais que designaram observadores para o pleito, inclusive o Centro Carter, dirigido pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter. Ele também pede a recontagem total dos votos, uma tarefa inviável dada a sua complexidade: só para juntar as caixas contendo os comprovantes de votação na urna eletrônica, levaria mais de uma semana, enquanto a recontagem  demandariam alguns meses de trabalho, num quadro altamente conturbado.

Segundo os resultados finais anunciados pelo  CNE, Nicolás Maduro ganhou 50,7% dos votos, contra 48,9%, com uma diferença de 1,8%, o que representa 300 mil de um total de 14 milhões de votos válidos. Capriles entendeu que a diferença é muito pequena e como foi recusado seu pedido de recontagem, acusou o CNE de fraude, passando a chamar o presidente eleito de ilegítimo, para o que convocou seus militantes a fazer protestos de rua.

Antigo golpista de 2002, tendo sido preso durante mais de quatro meses por conspiração, quando participou de um atentado à embaixada de Cuba, situada em Baruta, o bairro de que era prefeito, um dia depois da deposição de Chávez, Henrique Capriles Radonsky, atual governador do Estado de Miranda, é agora acusado de liderar uma conspiração destinada a convulsionar a Venezuela, para jusitificar uma invasão do país pelos Estados Unidos, nos moldes das que ocorreram na Líbia e na Síria.

Por isso, está sendo processado, além de ser objeto de outras denúncias de corrupção, como a compra de um apartamento de cinco milhões de dólares, em Nova York . A campanha de Capriles é igualmente acusada de promover a explosão de redes elétricas, que deixaram muitos Estados sem energia, sobretudo aqueles visitados pelo então candidato Maduro, e a retenção de comida e mercadorias no comércio para dar a impressão de desabastecimento. Estas manobras, que deixaram muitos venezuelanos decepcionados com o que parecia a inação do governo, presidido interinamente pelo candidato chavista, teria sido um dos fatores que levaram muitos eleitores, entre os quais 650 mil chavistas que votaram na última eleição em Chávez, a migrarem para a chapa opositora.

A pronta ação de Nicolás, junto com a Unasul e os governos de todos os países da América do Sul, inclusive a Colômbia e o México, que reconheceram como legítimos os resultados da eleição, contiveram os atentados, impedindo a generalização do caos e a consequente ruptura da ordem constitucional. O presidente do Equador, Rafael Correa, exortou os chefes de Estados a comparecerem em massa à posse do presidente, marcada para sexta-feira, dia 19/04, enquanto a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, que confirmou sua presença em Caracas, pediu aos Estados Unidos que reconhecessem a legitimidade da eleição, como já o fizeram Rússia, China, África do Sul e Espanha. Somente os Estados Unidos e a União Europeia, coincidentemente, as duas potências que invadiram a Líbia e instigam a violência na Síria, resistem a fazer ese reconhecimento.

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