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Egito e o golpe que não deu certo em Dilma

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O Egito volta às manchetes com a reação dos muçulmanos, constituindo 90% da população, ao golpe cívico-militar que afastou o presidente constitucional Mohamed Mursi, eleito havia exatamente um ano. Bastou que fosse anunciado o nome de Mohamed Al Baradei, homem de confiança dos Estados Unidos, como provável primeiro ministro e chefe de fato do novo governo dito secular, para que o país fosse convulsionado por protestos generalizados nas principais cidades. Mesmo assim, um arranjo político nomeou Baradei vice-presidente e o conselheiro do FMI Hazem el Beblaoui primeiro ministro.
Acossados, o Exército, beneficiário de uma ajuda militar dos Estados Unidos de 1,2 bilhão de dólares por ano, e o presidente interino, Adly Mansur, um juíz desconhecido que surgiu do nada, desencadearam uma onda de repressão e de medidas econômicas, seguindo a fiel cartilha do FMI. O velho Fundo Monetário Internacional, que, no passado, solapou os emergentes e agora devasta a Europa, com a maior taxa de desemprego e de recessão de todos os tempos.

O importante a assinalar aqui é a similitude das raízes dessses movimentos de rua do Egito (houve outra tentativa na Turquia) com aqueles que afligiram o Brasil nas últimas três semanas de julho. Lá no Egito, as manifestações gigantes redundaram (até aqui) na queda de Mohamed Mursi, o primeiro presidente democraticamente eleito daquele país. O golpe (ah, não houve golpe?) veio com tudo: afastou e prendeu o presidente, que está incomunicável até hoje, fechou o parlamento, desencadeou o terror, prendendo 300 lideranças do regime deposto, liderado pelos Irmãos Muçulmanos, e matou 100 pessoas que ousaram desafiá-lo. Também vergastou contra o povo, como ocorre em qualquer golpe clássico de direita: revogou a política de subsídios dos transportes coletivos e da gasolina e até um programa de bolsa família baseado na brasileira de Lula.

A diferença é que as manifestações, ocorridas, quase concomitantemente na Turquia e no Brasil (ainda) não atingiram os poderes do turco Recep Erdogan e nem os da brasileira Dilma Rousseff. Estes souberam, cada a um à sua maneira, reverter a manobra desestabilizadora em seu favor, deixando mal os golpistas, que agora falam sozinhos vituperando contra imaginárias conspirações de constituinte, plebiscito etc. No Brasil, a verdade é que o poder econômico vai pressionar o Congresso para não votar as reformas estruturais que reclama a sociedade, a começar pela política. O adiamento do plebiscito para depois de 2014 e a rejeição do projeto proibindo parentes como suplentes de senadores são bem uma mostra do que é capaz esse poder.

Nesse caso, o mais legítimo é deixar que o país decida, ou seja, convocando-o para um plebiscito. Como sabe que o povo não hesitará em sufragar a reforma política, o aparato midiático decidiu apelar para uma campanha de desmoralização da consulta popular e de todos aqueles que a propõem.  Se permitirem o eleitor ir às urnas ele vai, inevitavelmente dizer “sim” ao financiamento público exclusivo de campanha, deixando mal os empresários, os quais não mais terão como financiar políticos corruptos para defender de seus negócios.

O Governo Dilma, por seu turno, não se deixou paralisar pelas pressões midiáticas e oligárquicas e se lançou a uma maratona para responder efetivamente às demandas populares, incentivando programas de mobilidade urbana, financiamento da educação e, por último, dinamizando a assistência médica pública. Um programa de contratação urgente de 10 mil médicos e formação de dez mil novos profissionais para equipar 10 mil novos ambulatórios já se encontra em plena execução. Não obstante, uma campanha paralela já foi desencadeada para impedir a contratação de médicos estrangeiros

Como era de esperar, as entidades oligárquicas, que preferem os médicos concentrados nos bairros nobres das cidades, deixando à míngua a periferia e o interior brabo, reagiram com estrépito às medidas e agora ameaçam até com uma greve do setor de saúde contra o programa. Alegam que o programa, denominado Mais Médicos, precariza o trabalho do médico brasileiro e explora a mão de obra do profissional.
— Precisamos dar uma resposta forte ao governo. O sentimento do médico é de que o governo procura confronto — disse o presidente da Federação Nacional dos Médicos. Ferreira só não explicou como é que se faz para resolver o problema da inexistência de médicos nas periferias e no interior, sobretudo quando se evidecia o interesse do profissional brasileiro. O programa federal é sábio, além de atrativo, pois oferece até R$ 10 mil de salários, na medida que prioriza o médico brasileiro, e só recorrendo ao estrangeiro no caso de desistência dos nossos. Mas tudo está focado na sucessão de 2014 e todo golpe baixo será válido para o golpismo revogar as medidas populares de inclusão e reintroduzir as políticas de arrocho do neoliberalismo e de FHC.

O FMI por trás – Por fim, é preciso ter em mente as manobras das altas finanças internacionais, via FMI, nos processos de desestabilização, que alvejam, além do Brasil, Turquia e Egito, a Argentina, a Venezuela, a Síria, e a própria Rússia e China. No golpe egícpio, tudo fica muito evidente, depois da designação, primeiro, do presidente interino, Adly Mabsur, um juiz pinçado de uma comarca qualquer para presidir a Suprema Corte e 15 dias depois, para figurar como como chefe da nação.
Figurar é o termo correto para designar a função de Mansur, pois quem vai mandar mesmo é Mohamed Al Baradei. Lembram-se dele? Baradei, de 71 anos, é um ex-chanceler de Mubarak e presidente da Agência de Energia Atômica da ONU, considerado um covil de espias a serviço dos Estados Unidos, como ficou demonstrado em suas investigações dos programas nucleares da Líbia, Iraque e Irã.
Baradei, detentor de um doutorado em economia pela Universidade de Nova York e que ingressou na AIEA, em 1983, como assessor jurídico, chegou a receber até um prêmio Nobel da Paz, galardão que recebeu, juntamente coma AIEA, em 2005, “em reconhecimento aos seus esforços para impedir a proliferação de arfmas nucleares”. O Nobel, como se recorda, foi o mesmo que condecorou Barak Obama como campeão da paz, antes mesmo que ele assumisse a presidência dos Estados Unidos, em 2006.
No auge do clamor social contra Mubarak, Baradei, que providencialmente tinha antes se afastado do ditador, apareceu como novo defensor das liberdades e das causas sociais. Tentou candidatar-se a presidente mas viu que não tinha chances e se recolheu a um trabalho mais eficaz de insuflar a rebelião contra Mursi, providenciando-lhe fundos e apoio da chamada comunidade internacional.
Já o primeiro ministro designado Hazem Al Beblaoui, cujo nome só é associado pela mídia ao fato de ter sido ministro das finanças e vice-primeiro ministro da junta militar que sucedeu a Osny Burak, em 2011, é outro nome das finanças mundiais. De 76 anos, Al Beblaoui, com cursos em Paris e Grenoble, foi dirigente de um banco do Kweit, antes de tornar-se assessor da ONU e do FMI. Foi para botar essa gente no poder que lutou a juventude Tamarod (rebelde, em árabe) nas manifestações deste início de julho, tendo como centro a histórica praça Tahir, e que diz ter coletado 22 milhões de assinaturas na internet para remover o irmão muçulmano Mohame Mursi? Os Tamarod estão chiando, porque não queriam isso, mas agora é too late para chorar o leite derramado.

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