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Crítica do filme Trem noturno para Lisboa

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Adaptação do livro homônimo de Pascal Mercier, pseudônimo do professor suíço de filosofia Peter Bieri,  retrata a jornada de investigação e autoconhecimento de Raimund Gregorius (Jeremy Irons), também um professor que se entrega à ideia de viver o momento, o famoso carpe diem do poeta romano Horácio.

Depois de ler e se identificar com as palavras de Amadeu do Prado (Jack Huston), escritor português cuja obra conheceu ao ficar com um livro dele que pertencia a uma mulher que o professor impediu de se jogar de uma ponte, Raimund decide largar sua vida estabelecida em Berna e pegar o trem noturno que partia da capital suíça com destino para Lisboa. A passagem, aliás, estava dentro do livro de Amadeu. Em terras portuguesas, o protagonista inicia uma busca pelo passado de Amadeu e descobre uma história de amor, amizade, paixão, conflitos familiares, traições, disputas e agitações políticas.
Filho de um juiz conservador (Burghart Klausner), Amadeu não compartilhava a opinião do pai, de quem nunca conseguiu respeito e atenção, muito menos da igreja católica, de quem recebia os ensinamentos durante o tempo de internato. Foi lá que ele conheceu Jorge (August Diehl), que se tornaria seu melhor amigo e até um parceiro de profissão, pois este se formaria em Farmácia, enquanto Amadeu ficou com a Medicina. Porém, quando a perseguição da ditadura fascista de Salazar amedronta a população, ao mesmo tempo em que a Resistência – que desembocaria na Revolução dos Cravos, em 1974 – cresce em Portugal, o médico e aprendiz de filósofo se viu envolvido com os rebeldes, mas de um modo especial com uma mulher entre eles: a linda Estefânia (Mélanie Laurent), namorada do seu amigo Jorge.
Competente no papel, Jeremy Irons é acompanhado no elenco por compatriotas – Jack Huston, Tom Courtenay, Christopher Lee e Charlotte Rampling –, além de colegas de vários lugares da Europa: a francesa Mélanie Laurent, os alemães Martina Gedeck, Burghart Klausner e August Diehl, o suíço Bruno Ganz, a sueca Lena Olin, o moçambicano Marco D’Almeida e alguns coadjuvantes e figurantes portugueses. O filme, aliás, é todo falado em inglês. Seja em Berna, Lisboa ou Salamanca, na Espanha, cenário das cenas finais, a língua anglo-saxônica é a padrão. Isso, é claro, causa estranheza para o público brasileiro, tão próximo cultural e historicamente dos patrícios de além-mar.
O principal problema é que Bille August, com duas Palmas de Ouro em sua estante por Pelle, O Conquistador(1987) e As Melhores Intenções (1992), teria tudo para fazer de Trem Noturno para Lisboa um grande filme, com o triângulo amoroso, o olhar sobre a amizade, discussões filosóficas e o pano de fundo histórico que a trama oferece. No entanto, o dinamarquês cai na tentação hollywoodiana e prefere fazer um romance dramático com um ar novelesco que, por vezes, se assemelha mais aos dramalhões mexicanos do que às produções televisivas brasileiras.
O resultado foi o massacre que a produção sofreu da crítica na última edição do Festival de Berlim, quando foi exibido fora de competição Ainda assim, não deixa de ser uma obra interessante por apresentar, mesmo sem tanta profundidade, esse período da história de Portugal.

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