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O Ajuste de Tio Sam e o Ajuste Tupiniquim

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Por César Fonseca, do site Independenciasulamericana

Ben Bernanke, ex-presidente do BC americano, que comandou a reação dos Estados Unidos à crise mundial, jogando dinheiro na economia a torto e a direito e, simultaneamente, praticando juro zero ou negativo, para fortalecer a economia, mostrou em seu blog – sensação nos meios econômicos na América – que tem visão radicalmente oposta à do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, adepto dos juros altos, para segurar a inflação, e do argumento de que eles somente começam a cair se os gastos públicos recuarem.

Mas, que gastos públicos? Bernanke entende que a maior conta do gasto público é juro sobre a dívida. Por isso, derrubou-o, adotando a eutanásia do rentista. Já, Levy foge dessa prática. Desconsidera o gasto financeiro – correspondente a 75% do total do orçamento geral da União, de R$ 2,83 trilhões, para 2015 – como fonte de pressão do déficit, preferindo cortar na carne dos assalariados, das viúvas, dos aposentados, dos pescadores, bem como eliminar os subsídios às forças produtivas, que têm contribuído para evitar o desemprego.

Eis, de um lado, a visão do Império, a de Bernanke; de outro, a da Colônia, a de Levy, quando manobram a política econômica para fazer ajuste fiscal. No capitalismo cêntrico não tem disso não, ou seja, não há conversa mole de economista neoliberal. Para Bernanke, “o FED não pode de forma alguma deixar as taxas de juros serem determinadas pelo mercado”.

Tio Sam não acredita no mercado. Por aqui, no Brasil, Levy, na Fazenda, e Tombini, no BC, se tornam prisioneiros do mercado financeiro especulativo, avalizando, toda semana, a pesquisa Focus, realizada com 100 instituições financeiras, que manipulam as expectativas, para jogar a economia para baixo e os juros para cima. Império e Colônia, sim senhor. Muito evidente sobre quem realmente é senhor e quem é escravo. Pois não. Com esse ajuste fiscal levyano, o povo´terá que passar fome para que algum dia a taxa de juro caia – se cair. O contrário da pregação de Tancredo Neves de que, se chegasse à presidência da República, jamais pagaria a dívida com a fome do povo. Tombini-Levy, mente colonizada é isso aí.

A oposição e a grande mídia tupiniquim, que virou também partido de oposição, têm batido insistentemente que a presidenta Dilma Rousseff busca culpar a crise internacional pelos problemas econômicos do Brasil, fugindo da responsabilidade de ter conduzido mal a economia, na medida em que se excedeu nos gastos públicos.
O que ficou patente hoje, na Comissão de Assuntos Econômicos, no Senado, na exposição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indisfarçadamente, apoiado pelo poder midiático, serviçal do capital internacional, foi a confirmação das palavras da presidenta.
O que mais se viu acentuado nos argumentos dele foi que os problemas fiscais, que hoje pesam na formulação da política econômica, decorreram da adoção de medidas anticíclicas – comandadas pelo excomungado Guido Mantega – para enfrentarem a crise externa, a fim de manterem ativas as forças produtivas e a taxa sustentável de emprego interna.

Não foi barbeiragem como os líderes oposicionistas invocam, levando à histeria os comentaristas econômicos, pródigos em se ancorarem em metodologias, dados e gráficos formulados pelos econometristas do mercado financeiro, encarregados de criar terrorismo econômico, diariamente.
Levy disse o que não disse nenhum desses comentaristas até agora, que os Estados Unidos saíram da crise não enxugando dólares mediante taxa de juro elevada, mas adotando juro zero ou negativo, exportanto, assim, moeda americana, conforme patenteou política monetária expansionista praticada pelo FED, presidido por Ben Bernanke, a partir de 2010 até 2014.
O império não quis saber de liquidez em seu quintal.
Produziu-a e deixou que ela se expandisse fora do território americano.
Diante do juro zero ou negativo, os detentores de ativos monetários, sem rendimento na praça americana, submetidos à eutanásia do rentista, fizeram o que?

Correram para o Brasil, onde o Banco Central, sob Alexandre Tombini, não sabia – e ainda não sabe – fazer outra coisa que puxar juro, para enfrentar tsunami monetário, de modo a evitar enchente inflacionária.

Ou seja, não foram os gastos anticíclicos, praticados por Mantega, os culpados pelos déficits públicos, que se ampliaram, mas a exportação de dólares fabricados/desvalorizados pelo FED, comandado por Bernanke, mediante juro zero ou negativo.
O império tomou a decisão imperialista e a colônia, submissa, aceitou, passivamente, o jogo imperial.
A taxa de juro alta praticada pelo BC brasileiro, realmente, tornou-se necessária para combater a inflação, não praticada pelo governo Dilma, mas exportada pelo governo Obama.
Mas, isso, Levy, que é homem do FMI e da escola de Chicago, não teve coragem de dizer.
Preferiu afirmar, em resposta à senadora Graziotini, que questionou os juros altos brasileiros, que o juro baixo americano decorre do fato de que nos Estados Unidos a inflação é baixa.
Claro, é baixa, porque o juro é zero ou negativo!
Por essa razão, devido à inexistência dos custos financeiros, puderam as empresas americanas adquirir competitividade.
Diante da indagação da senadora sobre quando o juro no Brasil começará a cair, Levy saiu com o argumento neoliberal surrado que não convence mais ninguém, ou seja, que, primeiro, é preciso cortar na carne, para que se sinalize ao mercado queda do deficit, para, então, o juro de longo prazo começar a ceder.
Blá, blá, blá neoliberal.
O FED fez o contrário: jogou dinheiro na praça, a rodo, e derrubou os juros, caloteando, na sequência, os detentores de papeis das dívidas do governo.
Se isso provocasse inflação, como dizem no Brasil os neoliberais levyanos, os americanos estariam todos afogados em ondas inflacionárias e a população teria saído às ruas para derrubar Obama.

Ajuste de Levy, Joaquim Levy, Tio Sam, , no Senado, foi um jogo de manipulação.
Ele não foi ao essencial, ficou no acessório.
Fugiu da explicação de que o peso dos juros altos, produzidos pela inflação importada do Império, representa a fonte principal do deficit público.
Ao puxar o juro, para enxugar liquidez em dólar, o BC aumenta a dívida pública interna, que exige mais juros, juros sobre juros, criando o que Maria Lúcia Fattorelli, convidada para auditar a dívida grega, chama de Sistema da Dívida.
O jogo imperialista produz a dívida, que se autoalimenta de si mesma, que esmaga a economia e paralisa as forças produtivas.
Como Levy quer consertar o negócio?
Cortando gastos do orçamento não financeiro da União – educação, saúde, segurança, transportes, infraestrutura etc – , por meio de contingenciamentos draconianos, enquanto não toca no orçamento financeiro, correspondente a 75% dos gastos públicos.
Os juros, na avaliação levyana, somente começariam a cair, depois que, de um lado, cairem, certamente, os assalariados, destruídos em sua capacidade de consumo, ou, de outro, forem expulsos do mercado de trabalho.
Senadores e senadoras deram um espetáculo de incapacidade de questionamento do titular da Fazenda.
Não enfrentaram o principal problema da economia nacional, a especulação financeira, produzida, no orçamento financeiro, pelo financiamento da dívida, não considerada gasto passível de ajuste.
Contentaram-se em tratar, sem consciência, do orçamento não-financeiro, onde se efetiva a realidade das pessoas.
Todos os políticos, durante a campanha eleitoral, pregam, para ganhar voto, a mentira de que trabalharão pelo bem das pessoas.
Mas, na hora de votar o orçamento da União, trabalham a favor dos especuladores, que pagam suas campanhas eleitorais.

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