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Crítica do filme O jovem de Liverpool

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O Garoto de Liverpool, de Sam Taylor-Wood, é uma crônica de tom melodramático sobre a infância e a adolescência de John Lennon, alvo do excessivo afeto de duas mulheres: a tia autoritária, que o criou, e a mãe, que o incentivou a estudar música e a mergulhar na onda do rock and roll, uma dança dos negros do sul dos EUA, popularizada, na década de cinquenta por Elvis Presley.

Embora não seja mencionado nos créditos, o roteiro, de Matt Greenhalgh é baseado no livro Imagine: Crescendo com o meu irmão John Lennon, de autoria de Julia Baird, meia-irmã de Lennon. Baird colaborou, entretanto, com o trabalho de Greenhalgh, defeituoso – apesar da indicação ao Bafta que recebeu (2009) – principalmente no que diz respeito ao encadeamento de situações que se dão em continuidades paralelas: presente e passado ou adolescência e infância, esta mostrada em sumários flashbacks.

Na verdade, a narrativa cobre apenas o período de cinco anos ( 1955 a 1960), quando da partida de Lennon (Aaron Johnson) de Liverpool para Hamburgo, na Alemanha, com os integrantes da banda Quarrymen, que se tornaria conhecida logo depois como The Beatles. Ao início da ação, ele é um garoto superprotegido pelos tios George (David Threlfall), um alcoólatra, e Mimi (Kristin Scott Thomas), conservadora e de perfil autoritário. Após a morte do tio, com quem se dava muito bem, ele decide ir à procura da mãe, Julia (Anne-Marie Duff), que o abandonou em criança.

Julia está casada com Bobby (David Morryssey), um homem aparentemente tranquilo, com quem tem duas filhas: Julia (Angelica Jopling) e Jackie (Abby Greenhalgh). Espevitada, muito diferente da irmã Mimi, ela recebe o filho com carinho, insinuando-se para ele e levando-o para dançar o rock and roll, que lhe explica ser bastante sexy. Por influência de Julia, Lennon conhece, por discos e pela televisão, Elvis Presley e fica completamente transtornado, passando a usar os cabelos e a roupa ao estilo do cantor e a fazer baderna pelas ruas da cidade. Para que o filho se identifique ainda mais com o seu ídolo, Julia lhe ensina a tocar banjo e, depois disso, ele não quer saber mais de viver ao lado de Mimi.

Ocorre, porém, que Julia mora numa casa acanhada num bairro distante. Bobby a adverte de que a permanência de Lennon entre eles é impossível porque desacomodaria suas filhas. Contrariado, Lennon regressa aos braços de Mimi, recebendo dela, de presente, uma guitarra. Entusiasmado, ele lhe diz que deseja criar uma banda. É a partir de então que o roteiro de Greenhalgh mostra, com propriedade, como o caráter de Lennon se moldou à influência das duas matriarcas: de Julia, ele herdou o gosto pela música e pela dança; e da tia Mimi, a arrogância e o autoritarismo. Pois é de forma autoritária , aos gritos, que ele se relaciona com os primeiros integrantes da sua banda – Paul MacCartney (Thomas Brodie Sangster) e George Harrison (Sam Bell) -, que o obedecem como cordeirinhos.

A direção do fotógrafo inglês Sam Taylor-Wood é absolutamente burocrática e sem qualquer criatividade. É evidente que um filme biográfico de Lennon estaria a exigir um realizador da têmpera de um Neil Jordan (Café da Manhã em Plutão) ou de um Terence Davies (Vozes Distantes), também nascido em Liverpool. O que Taylor-Wood fez foi apenas ilustrar o roteiro de Greenhalgh, que, apesar de explicitar a atração que Lennon sentia pela mãe – a quem dedicou a canção Mother, ouvida ao final da película – é cheio de subterfúgios e de questões mal resolvidas. Além disso, o cantor Aaron Johnson não tem identidade física com Lennon. Ele talvez ficasse bem no papel de Elvis Presley. E como intérprete, se comparada sua atuação com a de atores que recentemente personificaram cantores, como Jamie Foxx no papel de Ray Charles, é simplesmente lastimável até porque – ainda um detalhe sobre a aparência física – Lennon não tinha olhos azuis. Da mesma forma, Thomas Brodie Sangster e Sam Bell não convencem nos papéis de Paul MacCartney e de George Harrison. São as atrizes Kristin Scott-Thomas e Anne-Marie Duff que dominam a cena do começo ao final do filme, principalmente a primeira que, como Mimi, como sempre, tem soberba interpretação.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
O GAROTO DE LIVERPOOL
NOWHERE BOY
Reino Unido / Canadá / 2009
Duração – 98 minutos
Direção – Sam Taylor-Wood
Roteiro – Julia Baird e Matt Greenhalgh
Produção – Robert Bernstein e Douglas Era
Fotografia – Seamus McGarvey
Trilha Sonora – Alison Goldfrapp e Will Gregory
Edição – Lisa Gunning

Elenco – Aaron Johnson (John Lennon), Kristin Scott Thomas (Mimi), Anne-Marie Duff (Julia Lennon), Thomas Brodie Sangster (Paul MacCartney), Sam Bell (George Harison), David Morryssey (Bobby), Josh Bolt (Pete Shotton), David Threfall (Tio George), Colin Tierney (Alf Lennon), Angelica Jopling (Julia Baird), Abby Greenhalgh (Jackie).

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