O impacto que algumas pessoas sofrem pela inesperada perda de alguém que lhes é próximo dá argumento a Além da Vida, de Clint Eastwood, que, apesar de elaborar algumas boas sequências não emblemáticas, porém, de seu estilo seco e austero, naufraga numa melodramática e tediosa narrativa.
O roteiro, de Peter Morgan (Frost/Nixon), mostra como se comportam três pessoas, de lugares diferentes do mundo, em relação à morte. A primeira é um operário americano, George Lonegan (Matt Damon), que deseja se livrar da sua fama de vidente. A segunda é uma jornalista da televisão francesa, Marie Lelay (Cécile de France), que sobrevive a um tsunami na Tailândia. E a terceira é um garoto britânico, Marcus (George McLaren), que ao perder o irmão Jason (Frankie McLaren), acidentado nas ruas de Londres, quer saber como continuará vivendo sem a companhia dele.
Por ter como produtor executivo Steven Spielberg (O Resgate do Soldado Ryan), o filme se inicia, à sua maneira, isto é, com uma estupenda cena de efeitos especiais na reconstituição do que pode ter sido o tsunami que se formou no Oceano Indico em dezembro de 2004, vitimando 230 mil pessoas. É nessa oportunidade que Marie Lelay, prestigiada âncora da televisão francesa, se prepara para deixar uma pequena cidade litorânea do sudeste asiático, onde passou as férias com o namorado Didier (Thierry Neuvic). Ao ser levada pelas ondas violentas vindas do mar, ela passa por uma experiência que vai deixá-la abalada a ponto de comprometer, daí por diante, o seu desempenho profissional.
Em São Francisco, na Califórnia, George Lonegan, que tem o dom de se comunicar com os mortos – tornou-se sensitivo após uma doença que sofreu na infância -, não quer continuar com essa missão por aspirar a ter uma vida normal e por compreender que, nesse meio mediúnico, há muitos impostores e pseudocientistas. Mas, o irmão Billy (Jay Mohr) insiste para que ele atenda a um empresário Christos (Richard Kind), o que ele faz, revelando-lhe que sua esposa, falecida recentemente, lhe fala de alguma coisa que teria acontecido em junho. Christos não confirma, mas, para Billy, confidencia que a morta estaria lhe cobrando o fato de haver sido ele amante da enfermeira que cuidava dela, chamada June.
Em Londres, os gêmeos Marcus e Jason, de 12 anos, procuram meios de evitar que o serviço social os retire da guarda da mãe Jackie (Lyndsey Marshal), uma alcoólatra. Quando Jason vai a uma farmácia comprar medicamento para desintoxicar a mãe do alcoolismo, ele é atacado por garotos de rua, que lhe querem roubar o celular com o qual se comunicava com o irmão. Na fuga desesperada, que, pelo telefone Marcus acompanha, Jason é atropelado por um veículo e morre. Além de perder o irmão, Marcus é também separado da mãe pelo serviço social, que o entrega a um casal (Niamh Cusack e George Costigan) para educá-lo. Marcus, porém, não se detém. Ele quer procurar alguém que o ajude a se comunicar com Jason.
Até a apresentação das personagens e dos seus respectivos problemas, Clint Eastwood consegue manter sua linguagem num ritmo envolvente, sem conotação religiosa, e marcada, como sempre, por uma trilha sonora de boa qualidade, composta por algumas peças líricas e pelo tema principal de sua autoria. Depois, porém, quando as personagens se reúnem em Londres, onde deverá ter lugar a previsível e pouco convincente cena final, a narrativa vai a pique, não se segurando nem mesmo pela atuação do elenco, até a de Matt Damon, o melhor ator em cena, o qual, entretanto, em momento algum repete sua magnífica interpretação como o jogador de rugby François Pienaar em Invictus sob a direção também de Eastwood.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
ALÉM DA VIDA
HEREAFTER
EUA/2010
Duração – 129 minutos
Direção – Clint Eastwood
Roteiro – Peter Morgan
Produção – Clint Eastwood, Kathleen Kennedy, Robert Lorens e Steven Spielberg.
Fotografia – Tom Stern
Trilha Sonora – Clint Eastwood
Edição – Joel Cox e Gary D. Roach
Elenco – Matt Damon (George Lonegan), Cecile de France (Marie Lelay),
George McLaren (Marcus), Frankie McLaren (Jason), Lyndsay Marshal (Jackie), Thierry Neuvic (Didier), Niamh Cusack e George Costigan (Pais adotivos de Marcus).
caro Francisco,
não sei se tem como deixar o comentário oculto, mas procuro um contato do senhor Marco Farani, do cine academia, e encontrei uma notícia sobre uma entrevista dele no seu blog. enfim, agradeço se eentrar em contato por e-mail pra explicar a história.
Obrigado,
Rafael.
Filme muito fraco, esperava bem mais de Eastwood, deixou muito a desejar, diferentemente de “Menina de Oura”…totalmente sem nexo!
Interessante o filme de Eastwood abordando uma temática instigante no dias de hoje. A questão da busca do ser humano pela continuidade da vida após à morte cada vez mais ganha espaço nas telas e as respostas ainda contraditórias. Na França, beço de Allan Kardec e do espiritismo, o tema do livro proposto pela jornalista não é considerado. A parte final do filme, motónona, porém com final previto.
Gostei do filme…talvez como todos ja disseram devido ao tema abordado um pouco lento mas de muita reflexão em alguns momentos…mas quero deixar claro que mais e mais acredito que em nossas vidas nada e por acaso…