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A Unasul e a IV Frota Naval dos Estados Unidos

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(Publicado originalmente em Seg, 15 de Dezembro de 2008 16:00)

Por Beto Almeida (*) 
Não exageram Lula, Chávez, Evo Morales, Cristina Kirchner e Rafael Correa quando afirmam que o nascimento de Unasul ( União das Nações Sul-Americanas) é um fato histórico e com significativas repercussões na geopolítica global. A iniciativa, proposta pelo Brasil, tem sim um grande potencial de transcendência, desde que sejam consolidadas ações de integração operativas, reafirmando e recuperando o papel protagonista do Estado. Apesar das diferenças nos processos políticos destes países que representam o eixo progressista dentro de Unasul, é possível observar uma tendência realmente nacionalista e da afirmação da soberania sobre seus bens e suas decisões , com diferenças de ritmos, mas que registram um desenvolvimento expressivo o suficiente para preocupar os EUA.
Assim, a reativação da Quarta Frota Naval dos EUA, destinada especialmente para a defesa dos “interesses norte-americanos” no espaço da América Latina, não deve ser encarada fora do contexto do nascimento da Unasul. Trata-se de clara resposta a este processo , especialmente à proposta, também de autoria brasileira, para a constituição de um Conselho Sul-Americano de Defesa, para o quê já foi constituído um grupo de trabalho visando apresentar um modelo para o mesmo no prazo de 90 dias. Neste sentido vale ressaltar declaração do Ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim , destacando que o governo não vai autorizar que a Quarta Frota dos EUA fiscalize águas territoriais brasileiras.
Também fazem parte deste enfrentamento surdo e crescente, os vôos de aviões dos EUA violando espaço aéreo venezuelano e o anúncio, pelo governo da Colômbia, de que poderá permitir a instalação de uma base militar dos EUA em Guarija, área fronteiriça com a Venezuela. Ou seja, o enfrentamento surdo dentro de um tabuleiro de xadrez mundial passa incluir cada vez a América do Sul, como já se havia visto com a agressão dos EUA ao território do Equador, com mísseis que foram lançados da Base Militar dos EUA “Lãs Três Esquinas”, situada em território colombiano, . Estes mísseis não poderiam ser transportados pelos aviões Super-Tucanos usados pelo exército colombiano que não dispunha daquela tecnologia para violar a soberania equatoriana, como denunciou o Presidente Rafael Correa.
O nascimento de Unasul se dá no mesmo momento em que o novo presidente russo, Demetrius Medevdev, faz sua primeira viagem internacional, justamente à China, onde, além de firmar um acordo de cooperação energética de 1 bilhão de dólares, lançou uma forte declaração conjunta condenando a proposta ianque de instalação de escudos anti-mísseis na Europa, nas proximidades da fronteira da Rússia. Unasul não nasce em qualquer momento.
É muito importante considerar que constam do Tratado de Constituição da Unasul iniciativas concretas de integração nas áreas econômica, comercial, tecnológica, financeira, cultural, política, educacional, informativa, energética e de infra-estrutura de transporte. Como disse o presidente Hugo Chávez, citando Darcy Ribeiro, “caminhamos para ações operativas”. Por isso a cobertura feita pela mídia do capital sobre o evento da Unasul foi puro lamento derrotista, destacando que era “pura retórica”, que já nasciam fracos e divididos. Ora, divididos estavam anteriormente, e não pode ser considerada uma retórica a proposta de Lula de constituição de um Banco Central integrado na América do Sul e a criação de uma moeda única regional, sobretudo no momento em que o dólar derrete, além de não ter lastro algum. E quanto até mesmo o presidente do Irã afirma estar disposto a depositar as reservas de seu país no Banco do Sul .
A formação da Unasul representa um significativo fortalecimento também para a ALBA já que a partir de um núcleo definido sustentado nas duas mais importantes economias da região, Brasil e Argentina, os demais países poderão receber um impulso de desenvolvimento que lhes permita reduzir as enormes assimetrias existentes na região, além do que cria-se a possibilidade para que sejam formadas cadeias produtivas complementares, baseadas nos perfis econômicos de cada um dos países, no fundamental carentes de infra-estrutura produtiva mais desenvolvida. Mesmo países como Venezuela, que conta com um governo revolucionário , riqueza energética e realiza grandes iniciativas de integração com Cuba, necessita em boa medida de um período para o seu desenvolvimento produtivo, por exemplo, para superar sua precária produção agrícola, já que importa, como Cuba, aproximadamente 80 por cento dos alimentos que consome. Com a Unasul criam-se as possibilidades para o encurtamento destes prazos históricos para a superação das lacunas agrícolas e industriais. Ao passo que apenas um estado, o do Paraná, por exemplo, pode comprar da Venezuela toda a sua produção de uréia para uso na sua agricultura.
O nascimento criação da Unasul, permite passar a um novo patamar para a tomada de medidas estratégicas para uma integração que já se tentou fazer em vários momentos da história, como, por exemplo, nos governos de Vargas e Perón e de Ocampo, no Chile, iniciativa boicotada pelo imperialismo que derrubou tanto Vargas como Perón em 1954 e 1955 , respectivamente. Por isso é fundamental considerar que a Unasul tem um componente antiimperialista muito forte, que necessitará uma unidade cada vez maior entre os governos progressistas membros, uma cada vez mais articulada relação orgânica com os movimentos sociais e os sindicatos e, por fim, que a resposta dos EUA não será nada diplomática como já indicam o bombardeio ao território do Equador, a reativação da Quarta Frota Naval e a violação do espaço aéreo venezuelano pela aeronáutica dos EUA.
(*) Beto Almeida é jornalista e diretor da Sucursal de Brasília da Rede Telesul

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