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Crítica do filme Fora da Lei

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Talvez o título Fora da Lei não expresse bem o sentido épico que Rachid Bouchareb pretendeu imprimir à película, pré-selecionada para concorrer, pela França, ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira (2010), que aborda a saga de uma família expulsa, injustamente, de sua própria terra, na Argélia, a qual se desagrega ao tentar se fixar, mais tarde, em território francês.

A estrutura da linguagem, calcada em filmes de gângster, acirra o tratamento político da luta da independência da Argélia (1962) dentro da França e a existência da organização Main Rouge (Mão Vermelha), braço do serviço secreto autorizado a assassinar líderes argelinos. Como era natural, já que o passado colonialista francês continua sendo assunto tenso no meio da intelectualidade do país, que não é tão liberal quanto se propala, o filme suscitou polêmica ao ser exibido no Festival de Cannes.

A direção do franco-argelino Bouchareb se mostra eficiente nos primeiros momentos da história, principalmente na composição dos planos da impressionante sequência do massacre de Sétif (1945) – que lembra as de alguns clássicos poloneses -, quando morre o pai (Ahmed Benaissa). O filho mais novo Saïd (Jemel Debbouze) e a mãe (Chafia Boudraa), que sobrevivem ao morticínio, decidem ir, em 1952, para a França a fim de encontrar os dois outros membros da família: Messaoud (Roschdy Zem) e Abdelkader (Sami Bouajila). O primeiro voltara da guerra na Indochina e o segundo, ao deixar a prisão, se tornara líder dos insurgentes argelinos, criadores da radical FLN, que viviam em conflito com os partidários da AMN.

Para fixar o perfil dos três irmãos, bem como suas atividades paralelas, o roteiro de Bouchareb, embora corajoso e violento, não faz, como seria desejável, uma exposição objetiva dos fatos. É, às vezes, confuso e simplista ao se apoiar numa representação cronológica dos acontecimentos que, às vezes, não se concatenam. Said, por exemplo, decide explorar prostitutas em Pigalle, após breve conversa com alguém vestido de capa negra, que encontra numa rua da favela onde mora. Depois, pouco interessado na obsessão política de Abdelkader e de seu fiel seguidor Messaoud, vira empresário de um pugilista, o que faz dele alvo da organização terrorista FLN, a que se dedicam seus irmãos.

Vale observar que Bouchareb sabe valorizar o belo tema musical de Armand Amar como elemento de ligação entre as sequências, particularmente as de ação, o que evita rupturas de tom na narrativa, que é envolvente por ter ainda uma boa captação fotográfica de Christophe Beaucarne. Apesar disso, há deslizes de edição, que prejudicam, a meu ver, a percepção do espectador no que diz respeito a espaço e tempo em que se movimentam as personagens, interpretadas por atores extremamente obedientes à linha que lhes é imposta pela direção.

Sami Bouajila, como Abdelkader, Roschdy Zem, como Messaoud, e Chafia Boudraa, como a mãe, compõem o trio mais homogêneo e de maior apuro técnico entre os intérpretes. A família, integrada também por Said, representado por Jemel Debbouze, sustenta a característica ficcional do filme numa linha subjetiva, que se expõe, paralelamente, às polêmicas questões políticas. Bouajila retrata, com exatidão, a figura de Abdelkader – que não sabe por que foi preso – , obstinado em fazer prevalecer seus conceitos, abeberados no socialismo e no islamismo. Zem, como Messaoud, é o seguidor cego do irmão, que sofre, por isso, graves crises de consciência. E Boudraa é a mãe, que embora já se sinta morta desde que foi expulsa de suas terras, faz tudo o que pode para acolher os filhos e para manter a unidade familiar.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
FOR A DA LEI
HORS-LA-LOI
França-Argélia-Bélgica / 2010
Duração – 138 minutos
Direção – Rachid Bouchareb
Roteiro – Rachid Bouchareb
Prdoução – Jean Bréhat, Olivier Dubois,Adrian Politowski
Fotografia – Christophe Beaucarne
Trilha Sonora – Armand Amar
Edição – Yannick Kergoat
Elenco – Jamel Debbouze (Said), Roschid Zem (Messaoud), Sami Bouajila (Abdelkader), Chafia Boudraa ( Mãe) Bernard Blancan (Coronel Faive), Sabrina Seyvecou (Hélène), Ahmed Benaissa (Pai), Assaad Bouab (Ali), Jean Pierre Lorit (Picot).

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