(Publicado originalmente em: Qua, 20 de Janeiro de 2010 10:02)
Por Reynaldo Domingos Ferreira
O cineasta Ang Lee se descontrola ao narrar, em Aconteceu em Woodstock, a história de Elliot Tiber, um aspirante a decorador de interiores que, preocupado com a iminente falência do negócio hoteleiro de seus pais, ousa levar para a sua pequena localidade de Bethel, no Estado de Nova York, o maior evento musical da década de sessenta, emblemático do movimento da contracultura.
O tom de comédia dado por Lee à sua linguagem, solta e descompromissada – diferente, portanto, da que usara no filme anterior Desejo e Perigo -, não se ajusta ao tema de um drama familiar que se desenrola paralelamente ao surgimento, numa época de transformação social, de uma das mais poderosas indústrias de entretenimento, a da produção dos grandes shows de rock.
O argumento, extraído por James Schamus, roteirista quase constante de Lee, do livro A True Story of Riot, a Concert and a Life, de Elliot Tiber, é, por isso, bastante sumário não só no que diz respeito à evolução dos acontecimentos, ou da ação propriamente dita, como também na fixação do perfil das personagens.
Elliot (Demetri Martin) é um jovem promotor de eventos musicais em White Lake, filho de imigrantes europeus – Jake (Henry Goodman) e Sonia (Imelda Staunton) –, que enfrentam dificuldades para manter o seu Motel Mônaco por falta de hóspedes. Ao ter notícia de que o Festival de Woodstock não se realizaria em Wallkill, como fora originalmente programado, ele decide atraí-lo para a sua região, mas enfrenta forte oposição entre seus conterrâneos.
Quando o organizador do festival, Michael Lang (Jonathan Groff) chega a bordo de um helicóptero, com a bolsa cheia de dinheiro, as coisas começam, entretanto, a mudar. O fazendeiro Max Yasgur (Eugene Levy), proprietário das terras escolhidas para ser o cenário do histórico festival – que, na realidade, não se realizou em Woodstock – é o primeiro a aderir, de forma um tanto dúbia, de inicio, é verdade, aos planos de Elliot.
Mas o protagonista tem também, como é natural, seus problemas pessoais – a homossexualidade escondida dos pais -, que afloram durante os preparativos em que ele se envolve para a realização do evento. Para expor a questão da aproximação dele de Paul (Darren Pettie ), engenheiro responsável pela construção do palco, Lee reparte a tela, usa apenas imagens, sem diálogos e dá destaque à trilha sonora de Danny Elfman que, embora não inclua os grandes nomes, como Jimi Hendrix e suas belas canções, é de excelente qualidade.
Da mesma forma, o quadro de intérpretes não decepciona. À exceção de Demetri Martin, pouco experiente, quase todos os demais integrantes do elenco são atores de muito bom nível. Alguns deles pouco têm o que fazer, como Paul Dano e Emile Hirsch, este um dos melhores de sua geração, na caracterização de Billy, amigo de infância de Elliot, recém-retornado da guerra do Vietnã, que tira algum proveito no episódio do escorregão na lama, marca indelével do Woodstock. A grande atuação, contudo, é a de Henry Goodman, como Jake Teichberg, pai de Elliot, sempre contemporizador. A cena em que ele se despede do filho, que vai acompanhar a equipe de produção do festival, vale, dada a sua brilhante atuação, por todo o filme, de belas imagens também, captadas pela lente de Eric Gautier.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
FICHA TÉCNICA
ACONTECEU EM WOODSTOCK
TAKING WOODSTOCK
EUA/2009
Duração – 120 minutos
Direção – Ang Lee
Roteiro – James Schamus, com base no livro A True Story of Riot, a Concert and a Life, de Elliot Tiber
Produção – Ang Lee e James Schamus
Fotografia – Eric Gautier
Trilha Sonora – Danny Elfman
Edição – TIM Squyres
Elenco – Demetri Martin (Elliot Tiber), Henry Goodman (Jake Teichberg), Imelda Staunton (Sonia Teichberg), Emile Hirsch (Billy), Liev Schreiber (Vilma), Jonathan Groff (Michael Lang), Eugene Levy (Max Yasgur), Darren Pettie (Paul), Paul Dano (Hippie), Kelli Garner (Hippie)