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Crítica do filme “Amor e perigo”

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(Publicado originalmente em Seg, 06 de Julho de 2009 14:47)

Por Reynaldo Domingos Ferreira.

Veja aqui o trailer.

Na variedade de temas que aborda em seus filmes, o cineasta taiwanês Ang Lee explicita a compreensão de que a paixão é a força da natureza mais desestabilizadora na vida das pessoas, como acontece, uma vez mais, em Amor e Perigo, ambientado na China, ocupada pelos japoneses, durante a II Guerra Mundial.

Ganhadora do Leão de Ouro do Festival de Veneza, como a anterior O Segredo de Brokeback Mountain, a película, primorosa na reconstituição de época e na valorização de detalhes cênicos à semelhança de Razão e Sensibilidade, se baseia também numa obra literária, o conto Se, Jie,(Sedução,Corrupção) de Eileen Chang, que participou da elaboração do roteiro com James Schamus e Hui-Ling Wang.

Grande admirador da estética do cinema americano, Lee se inspira, desta vez, em Hitchcock (Interlúdio e Suspeita) para narrar a história de jovens estudantes da Universidade de Hong Kong que, desprezando sua dedicação ao teatro amador, parte para tramar a morte do sr. Yee (Tony Leung), chefe de polícia chinesa em Shangai, colaborador das forças japonesas.

Wong Jiazhi (Tang Wei), que se sente atraída, porém, não correspondida por um dos líderes do grupo, Kuang Yu Min (Wang Lee-Hom), é por ele próprio escolhida para, sob o nome de Mai Tai Tai, se aproximar da família do sr. Yee a fim de seduzi-lo e leva-lo à morte numa emboscada.

A restrição que se faz em relação a esse trabalho de Lee, indicado também ao último  Globo de Ouro de Melhor  Filme do Ano, se relaciona, primeiro, a meu ver, com o roteiro. A narrativa, como foi estruturada, sob a ótica de Wong, prejudica a dramaturgia, que não abrange a reação social ao amor proibido do sr. Yee por Mai Tai Tai. Assim, o conflito contra as convenções sociais, que caracteriza outros filmes dele, nesse praticamente não existe.
Sob esse aspecto, por exemplo, a sra. Yee (Joan Chen), que introduz Mai Tai Tai em sua casa, pensando ser ela esposa de um mercador de produtos contrabandeados de Hong Kong e com quem joga o majong (uma espécie de dominó), tem figuração dúbia, pois, por incrível que pareça, como mulher traída, de nada suspeita. Tudo lhe passa em brancas nuvens.

E, por outro lado, se a linguagem da narrativa é, desde o começo, de ordem subjetiva, a cena final, de natureza objetiva, perde, em termos técnicos, qualquer sentido. Muito embora tenha sido enxertada pelos roteiristas para levar o espectador à compreensão do sofrimento do sr. Yee ante o desenlace de seu caso amoroso. É nesse acrescento, por sinal, que a personagem se aproxima, no meu modo de ver, do rancheiro do Wyoming Ennis Del Mar, em O Segredo de Brokeback Mountain.

Outra restrição que cabe ser feita á direção de Lee diz respeito ao desempenho dos atores, principalmente dos dois protagonistas, Tony Leung e Tang Wei, deixados por ele um tanto à solta. Apesar de colaborarem muito para o efeito plástico das cenas de relacionamento amoroso, captadas de forma magistral pelas lentes de Rodrigo Prieto, eles não convencem plenamente em suas interpretações.

Tony Leung, de boa estampa, mas de limitados recursos, não faz outra coisa senão repetir suas atuações anteriores em O Amante, de Jean-Jacques Annaud e em Amor à Flor da Pele, de Wong Kar Wai.  Nada de peculiar ele acrescenta para personificar o sr. Yee.  Tang Wei é bonita e elegante principalmente nas cenas em que tira proveito do uso do chapéu para impor o estilo, segundo o intuito de Lee, de Ingrid Bergman, em Interlúdio, ou em Casablanca, de Michael Curtiz.  Mas também, afora isso, deixa a personagem no limbo.

À exceção de Joan Chen, atriz veterana, de fama internacional, que praticamente nada tem a fazer no filme, os demais atores são inexpressivos. Wang Lee-Home perde boa oportunidade numa seqüência importante por não saber transmitir a reação interior adequada, quando Kuang Yu Min, sentindo-se preocupado com o que poderia acontecer a Wong  em sua missão, tenta dela se aproximar afetivamente. Mas, de pronto, Wong o rechaça, afirmando-lhe que nenhum sentimento  existia mais entre eles.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
AMOR E PERIGO
SI, JIE
China/ 2007
Duração – 157 minutos
Direção – Ang Lee
Roteiro – Eileen Chang, James Schamus e Hui-Ling Wang, baseado no conto Se Jie, da primeira.
Produção – William Kong e Ang Lee
Fotografia – Rodrigo Prieto
Trilha Sonora – Alexandre Desplat
Edição – Tim Squyres
Elenco –  Tony Leung (sr. Yee), Tang Wei (Wong Jiazhi), Wang-Lee Home (Kuang Yu Min), Joan Chen (sra. Yee), Chu, Chih-yng (Lai Shu Jin), Kao Ying-hsien (Huang Lei), Chun Hua Tou (sr. Wu)

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