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Cristina e a volta do povo à Plaza de Mayo

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Por FC Leite Filho

(De Buenos Aires) Perscrutar a história ajuda a compreender o presente e a focar o futuro. É com esta perspectiva que quero analisar a reeleição, ontem, 23/10/11, da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner. Mais que os números da retumbante vitória (quase 40% acima do segundo candidato, o socialista Hermes Binner, governador da província de SantaFé), duramente obtidos em meio às maiores hostilidades e incompreensões, o que mais me impressionou foi a volta do povo à emblemática Plaza de Mayo. Mais, este povo foi impulsionado pela juventude engajada no novo projeto popular.

Foi nesta praça, em que se situa a Casa Rosada, o histórico palácio do governo em que os presidentes populares e progressistas construíram com o povo o projeto de nação que colocou aquele país-irmão como detentor de uma das mais avançadas políticas sociais do mundo inteiro. Foi também nesta praça que o povo foi massacrado pelos bombardeios das forças reacionárias, em 1955, fazendo o país retroagir a condições até piores do que às dos povos vizinhos, inclusive nós brasileiros, apesar de nosso imenso tamanho territorial e pujança econômica.

Ele agora retorna à praça histórica, movido pela esperança, dessa vez mais concertada num projeto plurinacional de integração, que não foi possível consensuar na época do argentino Juan Domingo Perón e do brasileiro Getúlio Vargas, por exemplo. É por esta razão que a presidenta, ao agradecer a vitória, falou em primeiro lugar dos telefonemas de cumprimentos que havia recebido dos colegas Dilma Rousseff, do Brasil, Hugo Chaves, da Venezuela, José Mojica, do Uruguai, Juan Manoel Santos, da Colômbia, Evo Morales, da Bolívia, e Sebastián Piñera, do Chile. Esta preocupação central com o projeto regional também ocupou parte proeminente no comício de encerramento de campanha (ver matéria anterior).

Atenta aos fatos e à história, Cristina, não se deixou embriagar com a vitória, pois sabe, como os antigos romanos, que a euforia turva os olhos e os sentidos e, que, como dizia Drummond, “em toda festa, há sempre uma anti-festa ao lado, que dói por dentro”. Preferiu apelar à unidade do país e da América do Sul para, irmanados, enfrentar os efeitos da recorrência da crise mundial de 2008, que já começam a se fazer sentir na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e em todo o sub-continente. Nem por isso, deixou de se empolgar e dançar ao ritmo de Avanti Morocha (Pra frente, morena, música consagrada na campanha).
E pediu à multidão que deixe de lado as vaidades pessoais e se organize, para que “ninguém possa arrebatar-lhe o que conseguiu”, ao mesmo tempo que exortou a que “se faça o aprendizado e lute fortemente pela unidade dos argentinos”. Crisitna não deixou de se empolgar com a imensa praça repleta milhares de pessoas, formando enorme caudal humana e agradeceu ä esta multidão de jovens que voltou a recuperar a Praça de Maio”, insistindo que “em cada um de vocês me veja e a ele (Néstor Kirchner, seu marido e antecessor, falecido no ano passado) há muitos anos”, lembrando sua juventude peronista ao lado do ex-presidente, com quem se casou quando eram ambos muito jovens e estudantes na Universidade de La Plata. A juventude lhe respondeu cantando a marcha peronista.
1o. discurso após a vitória, no Comitê Eleitoral, Hotel Intercontinental

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A eleição e o passado peronista

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