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Crítica do filme A Pele Que Habito

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Sexualidade é o que mais transpira de A Pele Que Habito, novo filme de Pedro Almodóvar, um thriller de horror, ambientado na cidade de Toledo em 2012, que narra a história de famoso cirurgião plástico, envolvido com pesquisas tidas como atentatórias aos preceitos da bioética, para a criação, por meios transgênicos, de um revestimento para o corpo humano mais resistente que a pele. Para tanto, ele, Robert Ledgard (Antonio Banderas), mantém sob cativeiro, em sua rica mansão, equipada com sofisticados aparelhos televisivos, a cobaia de suas experiências, uma bela jovem, Vera Cruz (Elena Anaya), por quem se mostra apaixonado.

Para escrever o roteiro, composto de rememorações, Almodóvar adaptou livremente o romance, Tarântula, de Thierry Jonquet, inspirando-se também em Love Among the Ruins, de Evelyn Waugh, e no filme Les Yeux Sans Visage (1960), de Georges Franju, além de outras películas de Fritz Lang e de Alfred Hitchcock, que tendem ao expressionismo, principalmente pelo uso da cor. Disso tudo, entretanto, resultou um argumento pífio de melodrama, que não resiste a uma análise crítica, mas que recebeu tratamento visual de qualidade graças à fotografia de bom acabamento plástico de José Luis Alcaine e à magnífica direção de arte de Carlos Bodelón.

A ação se inicia na época do carnaval. Enquanto Ledgard está fora de casa, sua presa é vigiada por uma serviçal de confiança Marilia (Mariza Paredes), que, embora não tenha contato com ela, observa-a em todos seus movimentos por meio de ampla tela de televisão. Sob a fantasia de um tigre, chega à frente da residência Zeca (Roberto Álamo), vindo de Madri, onde participou de assalto à mão armada, no qual foi identificado, sem o uso da máscara, pelo serviço de segurança interno do local assaltado. Zeca clama pela mãe, Marília, a quem pede abrigo por alguns dias. Ela resiste ao apelo, mas acaba acolhendo-o. Ao perceber Vera, pelo vídeo, transtornado, Zeca pede à mãe que lhe dê acesso a ela, o que lhe é negado. Ele, porém consegue arrombar a porta da sala em que se encontra a jovem e, quando começa a possuí-la, recebe um tiro certeiro no coração de Ledgard, que acabara de chegar.

Nesse tom de novelão, sem ironia, Almodóvar vai fornecendo aos poucos, por meio de seguidos flashbacks, dados esclarecedores sobre o perfil dessas personagens e de outras que surgem ao longo dos acontecimentos. O espectador vai saber, por exemplo, que a obsessão de Ledgard pela pesquisa, visando à criação da pele transgênica, se deve ao fato de sua mulher haver morrido carbonizada num desastre de carro, enquanto fugia com Zeca, que, sem que ele o saiba, é seu irmão. Vai saber também que Vera se tornou sua cobaia por vingança dele contra um rapaz, Vicente Guillén Piñeiro (Jan Cornet), que estuprou e causou a morte de sua filha Norma Ledgard (Blanca Suárez). E vai conhecer, finalmente, um colega de Ledgard, Fulgencio (Eduard Fernández), que está sempre atento a tudo o que ele faz e que o alerta sobre o desaparecimento de Piñeiro, noticiado, com destaque, nos jornais.

A linguagem de Almodóvar, de forte apelo erótico, voltada para o voyeurismo, dá destaque à imagem (ou, mais especificamente, à televisão) como elemento que escraviza a vida das pessoas nos tempos atuais, e por meio de artifícios fotográficos, explicita escusos anseios e desejos do protagonista. Observe-se, a respeito, na sequência em que Ledgard passeia pela festa e divisa pelo olhar, em primeiro plano, o jovem Piñeiro, alegre, absorto e, logo, atrás dele, sua filha Norma, isolada. É ainda nessa sequência que Almodóvar deixa evidente o trato dado diante de sua câmera a Antonio Banderas, em tudo semelhante ao que Frank Capra propiciava a Gary Cooper, John Ford a John Wayne e Alfred Hitchcock a Gary Grant. E Banderas explora bem a oportunidade, interpretando Ledgard numa linha teatral, em que o adequado uso da voz é o elemento primordial. As mulheres estão bem. Mas nenhuma delas com intenso brilho interpretativo, como acontece em outros filmes do realizador espanhol, a não ser a novata Elena Anaya, como Vera Cruz, mais por sua extraordinária beleza.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
A PELE QUE HABITO
EL PIEL QUE HABITO
Espanha / 2011
Duração – 117 minutos
Direção – Pedro Almodóvar
Roteiro – Pedro Almodóvar, com base no romance Tarântula, de Thierry Jonquet
Produção – Agustín Almodóvar e Pedro Almodóvar
Fotografia – José Luis Alcaine
Trilha Sonora – Alberto Iglesias
Edição – José Salcedo
Elenco – Antonio Banderas (Robert Ledgard), Vera Cruz (Elena Anaya), Mariza Paredes (Marília), Jan Cornet (Vicente Guillén Piñeiro), Blanca Suarez (Norma Ledgard), Eduard Fernández (Fulgencio).

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