Por FC Leite Filho
Autor de http://quemtemedodehugochavez.com.br
No 7D, ou seja sete de dezembro, próxima quinta-feira, o prazo final para o jornal Clarín adequar-se à Lei da Mídia e desfazer-se de quase dois terços de seu monopólio midiático, ela estará em Brasília, junto com Dilma, Chavez e Mujica, para uma reunião da cúpula do Mercosul, no Palácio do Planalto. Cristina Kirchner, presidenta da nova Argentina e inspiradora maior da lei que deu um basta nos abusos da chamada grande imprensa, sabe que haverá distúrbios, provocações e novas tentativas de desestabilização ou mesmo de golpe de Estado. Cristina, porém, demonstrou que não se dobra à chantagem, como comprovou ao enfrentar com altaneria o cacerolazo de 8 de novembro, o 8N, que levou quase um milhão de pessoas às ruas, e a greve geral de 20 novembro, deflagrada depois de menos de 15 dias, pela mesma central golpista dos donos de jornais, da Sociedade Rural e a elite econômica, que, no passado, derrubou, quando a América Latina era desunida, Perón, João Goulart, Allende e outros governantes nacionalistas.
A ideia, tanto do cacerolaço e da greve quanto da campanha desmoralização do governo kirchnerista, que não deixou de incluir a sentença de um juiz de Nova York obrigando o pagamento dos chamados “fundos abutres”, é de criar um ambiente de rechaço à presidenta, nos mesmos moldes daquele que, em dois de abril de 2002, levaram à prisão e deposição, por 48 horas, do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Só que, dessa vez, o golpismo não encontrou o eco esperado na população e a Argentina continuou sua rotina, como se nada tivesse acontecido, apesar do brutal prejuízo e das agressões cometidas contra jornalistas e gente do povo, por parte de agentes provocadores.
Isto não significa que o 7D ocorrerá sem distúrbios nem violência, porque se conhece o alto poder predatório da mídia hegemônica, principalmente quando esta está aliada à Sociedade Rural, que cogrega as entidades patronais da agropecuária, que manteve um lock-out de quatro meses, no início do primeiro mandato de Cristina. Este boicote, que incluiu paraliazação forçada da produção agrícola, corte de estradas, quase provocou o desabastecimento alimentar dos argentinos. Outras entidades patronais, responsáveis por parte da produção do país, sobretudo as empresas transnacionais, também estão envolvidas na conspiração.
Recordem-se, igualmente, os distúrbios provocados em Caracas, em maio de 2007, quando o presidente Hugo Chávez desativou a RCTV, Rádio Caracas Televisión, a maior rede de TV privada do país, acusada de conspirar abertamente contra o governo constitucional (veja artigo abaixo). Chávez teve de colocar as Forças Armadas de prontidão 24 horas antes, o que não evitou arruaças e quebradeira por grupos de assaltos, junto com estudantes de extrema direita, em ataques a lojas, órgãos governamentais e outros próprios públicos e privados. Chávez, transformava-se assim no primeiro líder latino-americano a confrontar com sucesso a poderosa mídia e a instituir no país, uma comunicação onde outras vozes, inclusive as populares, pudessem ser ouvidas e tivessem participação decisiva nos destinos do país. Isto, aliás, já vinha ocorrendo desde que as rádios e TVs comunitárias, haviam convocado a população a reagir contra o golpe de abril e restituir o poder a Hugho Chávez, em menos de 48 horas. A partir daí, o golpismo arrefeceu na Venezuela e o país passou a viver um saudável clima de estabilidade democrática e crescimento econômico com inclusão social.
Uma evidência de que o golpismo vai reagir no 7D é a decisão da Socidade Interamericana de Imprensa, a famigerada SIP, que reúne os donos de mais de mil jornais das três Américas, incluindo osdos Estados Unidos, com sede em Miami, de enviar “uma delegação” a Buenos Aires, para “acompanhar os acontecimentos”. A SIP, entidade fundada sob os auspícios da CIA, na antiga Cuba pró-americana, em 1943, colaborou e patrocinou diretamente todos os golpes de Estado ocorridos na América Latina, desde então. Seu poder de fogo, no entanto, encontra-se hoje limitado, mas não de todo neutralizado, em função da política de aproximação e integração, desenvolvida por Cristina, Chávez, Lula, Dilma, Evo Morales, Daniel Ortega e Rafael Correa, que os presidentes populares vêm desenvolvendo desde 1999. O 7D de Cristina marcará, de todo modo, um novo divisor de água na luta pela emancipação e autonomia da América Latina, assim viabilizando o tão ansiado mundo pluripolar, equidistante das grandes potências.
Veja também:
Por que Chávez não renovou a concessão da RCTV, pelo Brasil de Fato