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Eleições no Irã, livres da pressão ocidental

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(Por FC Leite Filho) Quando o aiatolá Ruhollah Khomeini morreu, em 1989, muitos analistas previram (ou desejaram) o fim da revolução iraniana, que, dez anos antes, tinha removido o funesto regime do Xá Reza Pahlevi, sustentado pelo Ocidente (aqui entendido como Estados Unidos e Europa).  Naquele ano de 1989, havia se esboroado o regime soviético, fator que ainda mais estimulava os analistas de ocasião naquela miragem, sobretudo os mais excitados que previam o fim da história. Não foi o que aconteceu, pois a revolução continuou e se aprofundou ,em meio às suas contradições internas e à sabotagem ocidental, a ponto de projetar este país, antes dominado pelas transnacionais do petróleo como um dos mais prósperos e avançados, inclusive do pono de vista tecnológico: hoje são os iranianos que concebem e fabricam seus próprios mísseis intercontinentais, submarinos atômicos, ostentam uma medicina do mais alto nível e um desenvolvimento nuclear temido pelo mesmo ocidente.

Vídeo: Jornalistas brasileiros no Irã, em 2011 – Por Helena e Iono

Um programa massivo de educação e a organização de uma defesa interna e externa, a cargo da Guarda Revolucionária, composta de cerca de 120 mil homens, asseguraram até aqui as conquistas sociais e políticas deste povo. Povo que vive num  território  praticamente isolado do resto do mundo e cercado por regimes truculentos a soldo de Washington, que dominam seus coirmãos árabes da Arábia Saudita, Kweit, Catar, Emirados etc, para não falar do poderoso estado de Israel e suas 300 ogivas nucleares.

Pois bem, agora o Irã prepara-se para outra eleição presidencial, na próxima sexta-feira, dia 14, cuja importância chama a atenção, mas também presta-se a algumas intrigas e a novas arremetidas das potências ávidas para dinamitar aquela experiência popular. As alegações são as mais surradas como aquelas da “fraude eleitoral e falta de liberdade de expressão” e “discriminação contra a mulher” , que são docemente aceitas em regimes muito mais fechados e despóticos, como a Arábia Saudita e o Koweit, por exemplo.

Contra a opressão explícita na Arábia Saudita (mas convenientemente tolerada e sustentada por Washington e Londres), onde as  mulheres não podem sequer dirigir carros, o Irã orgulha-se de mostrar que 66% das suas universidades são constituídas pelo gênero feminino e que, nas 30 eleições realizadas pela revolução de 1979 (esta de 2013 é a 11a. presidencial), registraram um comparecimento médio acima de 80%, em evidente contraste com os regimes saudita e koweitiano , onde o poder é dominado pela “família real”, que faz e acontece, sem a mínima consulta popular.

Mas desta vez, o regime dos aiatolás cuidou de evitar que o resultado eleitoral se prestasse a manipulações, como aquela da reeleição do atual presidente Mahmoud Ahmadinejad (impedido constitucionalmente de pleitear a segundo reeleição), em 2009, que quase engolfou o país numa guerra civil, parecida com aquela que esquartejou a Líbia e agora tenta implodir a vizinha Síria, numa invasão imperial que já teria custado a vidade maisde 70 mil pessoas, no curto espaço dos últimos dois anos. Ahmadinejad tinha sido eleito com evidente maioria (62,6%, embora tivesse perdido para Mir Hussein Mussavi, candidato classificado em segundo lugar, e que contestou o resultado,  convocando seus adeptos (aliados às grandes potências, como ficou depois demonstrado) a protestos violentos.

Foi quando o país viveu momentos de angústia com a ação predatória de grupos extremistas que invadiram as ruas, incendiando prédios públicos e quebrando vitrines das lojas e subiam aos telhados de Teerã , a capital ,e outras cidades, gritando “Morte ao ditador” (uma referência a Ali Khamenei, o aiatolá e atual líder supremo, sucessor de Khomeini). Os protestos foram contudo rechaçados pela população, que, ajudada pela Guarda Revolucionária, dominou os conspiradores, preservando a revolução e livrando o país persa de uma sanguinolenta e possivelmente interminável guerra civil.

Para se resguardar destas surpresas, o regime acionou seu Conselho de Guardiãs, previsto na constituição, aprovada amplamente em plebiscito, como o órgão supremo, só abaixo do Imã (o líder supremo), também com mandato constitucional, para selecionar os candidatos realmente comprometidos com as causas populares, e rejeitando aqueles com vínculos estrangeiros ou com movimentos antirrevolucionário. Dessa maneira, se perfilaram oito candidatos que disputarão o voto dos iranianos nesta eleição presidencial de 2013.

São eles:

1) Saeed Jalili, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional e principal negociador internacional do país em matéria nuclear;
2) Mohamad Bagher Qalibaf, prefeito de Teerã; 3) Gholam Ali Haddad Adel (*), parlamentar e ex-presidente do Parlamento; 4) Ali Akbar Velayati, assessor do líder supremo e ex-ministro das Relações Exteriores; 5) Mohsen Rezaei, ex-comandante do Corpo de Guardiães da Revolução e atual secretário do Conselho do Discernimento; 6) Hassan Rohani; 7) Mohamad Reza Aref; 8) Mohamad Qarazi (estes três últimos desempenharam cargos de menos relevância na administração).

(*) Gholam-Ali Hadad-Adel, anunciou nesta segunda-feira, 10, a sua desistência, em favor dos candidatos mais próximos à revolução. 

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A seguir, artigo de ALI MOHAGHEGH,  responsável pelo departamento de imprensa da embaixada  do Irã no Brasil:

Um outro olhar

A democracia é resultado de um contrato social que coordena as relações entre o indivíduo e a sociedade. Se determinado povo se comporta conforme orientações religiosas, neste caso, a religião exerce papel central no contrato social. Isso acontece na sociedade teocrata iraniana.

O sistema da democracia religiosa no Irã não começou com a vitória da Revolução Islâmica de 1979, há 34 anos. A luta pela democracia tem uma história de pelo menos 107 anos, durante os quais clérigos e teólogos se encarregaram da liderança, teorizando movimentos libertadores e mobilizando o povo, os intelectuais e os ativistas civis.

A conjuntura histórica contemporânea iraniana está dividida em três momentos importantes: a Revolução Constitucional, a formação do governo do Mossadegh e a vitória da Revolução Islâmica.

A Revolução Constitucional em 1906 gerou grande expectativa no povo iraniano no sentido de gozar de um Estado de Direito. Suspensa em 1921 por um golpe de Estado planejado pela Inglaterra, deu lugar a um regime ditatorial instalado por Reza Pahlavi.

O governo de Mohammed Mossadegh, com o apoio do grande aiatolá Kachani e dos movimentos sociais, revitalizou a Constituição por meio de uma luta contra a colonização. Nacionalizou o petróleo, provocou a fúria das potências.

Em 8 de agosto de 1953, Mossadegh foi destituído do poder por um golpe de Estado planejado pelos EUA e pela Inglaterra. Ao apoiarem o xá Reza Pahlavi, fizeram do Irã sua principal base no Oriente Médio.

Como continuidade do processo democrático, em 11 de fevereiro de 1979, ocorreu a Revolução Islâmica, com a liderança do aiatolá Khomeini. Nos 34 anos que se sucederam, as tentativas do Ocidente de lidar com a Revolução Islâmica reforçaram a nossa luta pela soberania contra a intervenção estrangeira.

A imposição da guerra contra o Irã, amplas e injustas sanções, assassinatos de cientistas e dignitários, o apoio a grupos terroristas e a cobertura pejorativa da mídia fortaleceram as aspirações da revolução.

O paradoxo é que a maioria dos atuais aliados dos EUA na região são países não democráticos. O povo iraniano considera a ingerência externa como a principal ameaça à sua democracia. Por isso, questiona se a tentativa de influenciar o processo eleitoral do Irã tem o mesmo intuito do passado de assegurar os seus interesses e ir contra os nossos.

Durante os últimos 34 anos, foram realizadas mais de 30 eleições no Irã. Elas têm ganhado repercussão internacional, inclusive entre altas autoridades ocidentais. Seria incompleta um análise que não incluísse a Constituição e o funcionamento das instâncias encarregadas do processo eleitoral no Irã.

Naturalmente, cada país adota um procedimento legal diferente para campanhas eleitorais e não há um modelo-padrão universal. A aprovação da qualificação de candidatos no Irã tem o seu próprio mecanismo. Vê-se que alguns países até tentam influenciar na escolha dos nomes dos candidatos presidenciais da República Islâmica do Irã.

Atualmente, estão nos comícios candidatos de diferentes tendências. E vários espectros políticos chegaram ao poder ao longo dos últimos 34 anos. Na eleição de sexta, como sempre, o voto do povo será a primeira e a última palavra”.

ALI MOHAGHEGH, 40 anos de idade, é responsável pelo departamento de imprensa da embaixada da República Islâmica do Irã no Brasil

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No rescaldo das eleições presidenciais no Irã deste , aproveitamos para apresentar-lhes o primeiro capítulo da viagem político-cultural de jornalistas e blogueiros brasileiros ao Irã, realizada entre os dia 9 e 19 de abril de 2011. Os ensinamentos desta viagem continuam vigentes e são um convite a valorizar este país rico de história, ciência, cultura e arte que floresceram nestes 33 anos de revolução. Imagens e direçnao de Helena Iono, da TV Cidade Live.

O video está sendo apresentado pela TV Cidade Livre, nas seguintes datas e horários:

Dia 14 – 6a. feira, às 22h35 horas

Dia 15 – sábado, às 23 horas

Dia 16 – domingo, às 9 horas

Dia 17 – 2a. feira, às 13h30

Dia 18 – 3a. feira, às 18 horas

Voces podem assistir também pelo Vimeo:

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